China! Impressiona qualquer visitante
Uma jornada por cidades chinesas revela modernização acelerada, infraestrutura monumental e um cotidiano marcado por segurança, organização e vitalidade social
Pela primeira vez fui à China. Como todo mundo, independentemente da ideologia do visitante, voltei impactado pelo avanço, facilmente perceptível, daquele país. A exuberância da infraestrutura, a sensação de segurança, a culinária, o desenvolvimento cultural e o padrão de vida do povo, em um país que tem 1 bilhão e meio de habitantes é impressionante. Visitei quatro cidades no continente chinês, Wenzhou, Guangzhou, Hangzhou, Zhuhai e de passagem, uma manhã em Macau e umas dez horas em Hong Kong.
Aproveito para prestar minha solidariedade às famílias que perderam seus entes queridos, no absurdo incêndio que matou mais de 140 pessoas em Hong Kong. Este acidente, ou crime, será investigado e os responsáveis certamente serão punidos. Hong Kong foi possessão inglesa de 1841 a 1997, quando foi devolvido à China pela Inglaterra. É, hoje, uma Região Administrativa Especial (mesmo caso de Macau), possui sistema legal e administrativo próprios e um alto grau de autonomia em relação ao sistema da China continental. Hong Kong tem uma moeda e alfândega próprias. Uma pessoa em Hong Kong para ir para a China, tem de fazer a emigração, passar pela alfândega, declarar bens transportados e carimbar o passaporte. Um amigo chinês que esteve comigo em todo o meu trajeto, ao falar da diferença entre Hong Kong e a China disse-me: “nestes 40 anos a China mudou muito, quando eu tinha 14 anos via Hong Kong como o máximo, um sonho, lá todo mundo comia porco todos os dias, carne aqui era só de vez em quando, o pessoal falava que em 200 anos a China não chegaria aos pés de Hong Kong, hoje Hong Kong está muito atrás da China”. Esta é a opinião dele, eu não tenho conhecimento para concordar ou discordar.
Voltando ao meu passeio, encontrei brasileiros que faziam excursão turística, eram só elogios. Não fui a Pequim, a Xangai, nem visitei as Muralhas, fui a quatro cidades médias, pouco turísticas e que ficam no interior da China. Wenzhou é um centro de empreendedores chineses, conhecido pelo espírito comercial, tem presença de imigrantes de várias partes do mundo, economia baseada em manufatura leve, comércio e pequenas indústrias. Guangzhou é um centro comercial do sul da China, funciona como uma porta de entrada para negócios, é sede da Feira de Cantão, a maior feira de importação/exportação da Ásia; combina a moderna indústria com muita tecnologia agregada e comércio exterior. Hangzhou é uma cidade tecnológica e inovadora, famosa pela beleza natural do Lago Oeste (West Lake), um grande polo cultural de tecnologia e turismo, na cidade fica a sede da Alibaba, conglomerado empresarial chines, que atua no comercio mundial de tecnologia, varejo, eletronicos e etc. Zhuhai é conhecida como cidade-jardim da China, muito verde e limpa; localizada ao lado de Macau e fica perto de Hong Kong, com forte integração econômica, polo de turismo, resorts e indústrias modernas. De Zhuhai para Hong Kong, se a pessoa preferir ir de carro atravessará uma ponte de mais de 55 KM por sobre o Delta do Rio das Pérolas e do mar da China Meridional, um mar do oceano Pacifico. No meio desta ponte foi construída uma ilha artificial para a ponte “mergulhar” no mar; a ponte se transforma num grande túnel submarino, por quase 7 Km, para dar passagem aos grandes navios, pois ali é uma rota marítima importante. Depois deste trecho a ponte emerge e segue para Zhuhai ou para Macau, a depender do destino do viajante. É isto mesmo, é inusitado e quase assustador para quem não está habituado à “mágica” da tecnologia.
Para evitar a discussão ideológica abastardada, às vezes, comum aqui no Brasil, quero deixar claro que defendo a democracia e não estou, neste artigo, discutindo socialismo e nem capitalismo, estou falando do que vi na China.
Diferentemente do que muitos falam por aqui, não vi na China ninguém pedindo esmola, pedindo comida, dormindo na rua, maltrapilho, ou mesmo mal vestido; não vi ninguém cuidando para não ter o celular furtado, com medo de sair sozinho à noite, andar na rua ou amarrando as suas bicicletas em postes. Pode parecer mentira, mas não vi um policial armado, nem carro de polícia fazendo ronda ou vigilância extrema em nenhum lugar. Eles usam, em larga escala, inteligência artificial e outras tecnologias avançadas para garantir a segurança da população.
Por outro lado, vi as ruas cheias de comércios, restaurantes imensos e lotados, pessoas se divertindo, ruas limpas e sinais evidentes de uma sociedade bem organizada, sana e de pessoas aparentemente felizes. Quem disser que é uma primeira impressão e que não vi a China inteira, tem razão; mas do que vi, posso dizer que é inesquecível e que temos a aprender; há 40 anos o Brasil era mais desenvolvido e tinha uma economia mais forte do que a China.
Para finalizar quero falar sobre uma diferença crucial entre a China e outros países que viveram uma experiência socialista, me refiro principalmente aos países que compuseram a União Soviética e Cuba, em relação ao culto a personalidades. Por 12 dias que andei pela China continental, não vi nenhuma foto, imagem ou estátua de Xi Jinping, Deng Xiaoping, Lenin, Marx ou Engels. Vi, num museu, uma imagem de Mao Tsé-Tung, ao ser contada a história da Longa Marcha. Estive num Evento Mundial da Nova Rota Marítima da Seda (tradução livre que estou fazendo do nome em Inglês); lá, eu desconfiava que assistiria uma enxurrada de propagandas da China e dos líderes ideológicos chineses. Neste evento tinha muita gente do ocidente, inclusive dos EUA, não foi feito, pelos líderes, nenhum discurso político propagandístico. Os discursos se restringiram ao debate sobre colaboração com os países participantes da Nova Rota da Seda, objetivos de troca de tecnologias, comércio de mercadorias e metas. Lembrei-me de uma frase atribuída ao líder que substituiu Mao Tsé Tung, Deng Xiaoping: “não importa a cor dos gatos, o que importa é que eles comam os ratos”.
Cheguei ao Brasil com uma convicção esquisita: O Brasil tem jeito, só depende de nós brasileiros e das nossas escolhas.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




