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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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Clementino: um herói anônimo e as reformas de Temer

Esse herói [Clementino] foi vítima do Estado brasileiro em dose dupla: além de perder direitos, perdeu um dos seus olhos (repito: um olho foi mutilado) por um tiro da arma de um policial irresponsável que atentou imprudentemente – ou deliberadamente – contra a multidão que marchava na Esplanada dos Ministérios contra as reformas do Governo de Michel Temer, o Mentiroso

Esse herói [Clementino] foi vítima do Estado brasileiro em dose dupla: além de perder direitos, perdeu um dos seus olhos (repito: um olho foi mutilado) por um tiro da arma de um policial irresponsável que atentou imprudentemente – ou deliberadamente – contra a multidão que marchava na Esplanada dos Ministérios contra as reformas do Governo de Michel Temer, o Mentiroso (Foto: Marconi Moura de Lima Burum)
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Esse não é bem um artigo como os que escrevo com frequência. Pedi ao Brasil 247 para publicar a carta do Dr. Daniel Sabino, médico do Sr. Clementino Nascimento Neto, esse cidadão que veio do interior de Goiás a Brasília no dia 24 de maio de 2017 ("Ocupa Brasília") para lutar pelos nossos Direitos Sociais, especialmente contra a Reforma da Previdência e a Deforma Trabalhista nos moldes que estão sendo aprovadas no Congresso Nacional.

Esse herói [Clementino] foi vítima do Estado brasileiro em dose dupla: além de perder direitos, perdeu um dos seus olhos (repito: um olho foi mutilado) por um tiro da arma de um policial irresponsável que atentou imprudentemente – ou deliberadamente – contra a multidão que marchava na Esplanada dos Ministérios contra as reformas do Governo de Michel Temer, o Mentiroso.

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Sem nos estendermos sobre esses direitos perdidos (já), mas leis como a da Terceirização integral, que sufoca a negociação patrão-empregado, com[o]prime salários; e da reforma do Ensino Médio, que não servirá para as escolas privadas, ou seja, só ao filho do Clementino – este que aprenderá somente a "apertar parafusos" na escola, portanto, estão nos enganando, chamando esse tipo de educação de técnica, de funcional; e reformas como a da Previdência e a Trabalhista, que tendem a nos jogar de volta no limbo do século 19, e da vergonha mundial.

Ademais, além da carta do profissional médico que se emocionou (foi às lágrimas, de fato) com a violência sofrida por Clementino, eu resolvi também compor um poema para homenagear esse herói. (Não. Espere aí. Não é somente para prestar homenagem. Esses dois textos abaixo precisam servir a nossos filhos e aos filhos de nossos filhos. Precisam ser fonte de inspiração à luta por uma sociedade mais justa, um País mais digno, uma nova Civilização. Portanto, Clementino precisa entrar para a História como mais um dos heróis da pátria. E é esse o esforço destes textos que seguem agora.)

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Carta do médico do Hospital de Base de Brasília sobre um manifestante baleado

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Clementino finalmente foi dado de alta hoje, sábado. Depois de 10 dias internado, ontem a noite foi submetido a um procedimento cirúrgico. Partiu, com um olho a menos, acompanhado de sua humilde esposa, sacola de plástico na mão, chinelo de dedo, a pé, em direção ao metrô. Fará uma escala na Ceilândia, na casa de um familiar, até conseguir pegar o ônibus para Goianésia, a mais de 200 km de Brasília.
Ontem levei-lhe duas camisas, porque já não tinha roupas limpas. O Estado? A Defensoria Pública? A OAB? A Secretaria de Direitos Humanos? Os moralistas? Nunca apareceram! Alguém da polícia para ao menos pedir-lhe desculpas? Quem vai devolver-lhe esse olho?
Quem vai arcar com os prejuízos materiais, físicos, psicológicos e morais desse cidadão, cujo único crime foi vir a Brasília manifestar-se por seus direitos?
Chorei ao sair do hospital: pela hipocrisia, a ignorância e a desumanidade do cidadão médio brasileiro. Não se trata de ideologias, de partidos políticos, mas de respeitar a condição humana, a dignidade. Sinto aquela impotência que rasga a carne. A esperança se esvai.
Só me resta uma certeza: são esses heróis anônimos que fazem a História, enquanto vocês ficam sentados no sofá assistindo televisão chamando-os de baderneiros.

(Relato do Dr. Daniel Sabino, médico que cuidou de Clementino durante toda a sua internação no HBB.)

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Clementino, o herói anônimo do Brasil

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São tantos Clementinos,
Mas somente ele perde um olho
Ao tiro do policial
E do Estado estressado.

Emprestado à luta por um Brasil igual,
O homem volta a seu lar,
No interior dos Goyazes,
Onde outros Goyazes também foram
[ mutilados.
Clementino está menos completo:
Parte de seu corpo foi arrancada por um
[ projetil displicente;
Parte de seus direitos,
Arrancada por um
[ projeto indecente;
Parte de seus sonhos,
De uma vida melhor a todos,
Arrancada
Por despostas que elegemos
A nos matar pouco-a-pouco,
Arrancando parte
Do sonho ou do corpo;
Nossas oportunidades
[ e de nossos filhos.
Seja como for,
Clementino é um herói anônimo
E merece nossa solidariedade.

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Clementino perdeu um olho
No campo de batalha covarde,
Na luta incansável,
Por mais que a dor e a sensação
Seja de impotência
Diante dos representantes da Nação.

Foi no histórico dia 24 de maio,
Na sequência das lutas
E da Greve Geral de Abril.
Abriu uma fenda sem fim nesse
[ atual ridículo Brasil.
E abriu uma fenda na face
[ do nosso herói gentil.

Clementino,
Que enfrentava o Presidente Cretino,
E nos inspira jamais recuar
Dessa luta por um Brasil
Que nossos filhos possam se orgulhar.

É desse herói o simbólico bradar.
Não há o que Temer.
(Fora!)
Vencer e avançar,
Mesmo quando a carne treme;
Mesmo quando nos rasgam a face
E nos rasgam a Constituição.
[ Relegando-nos à opressão.

Clementino,
Somente digo-te duas causas:
Meu menino,
Franzino e indefeso,
Saberá de seu peso ao Brasil.
Sua importância diante da implicância
Dos malditos que elegemos ontem.
E esse guri,
A partir de teu ato heroico,
Votará melhor que eu
E lutará tão mais que eu
Por uma nova civilização,
Digna.
E ouviremos, enfim, uma única canção,
Justa.

A outra é:
Muito obrigado!
Homem de pé e de fé,
Obrigado – e me desculpe
Por sofrer tamanha violência por nós.
(Como Cristo!)
Ao perder parte de sua visão,
(Sinto muito!)
Devolveu a nossa,
Há tanto perdida
[ pelas mentiras da televisão;
[ pela dissimulação de nossos patrões;
[ pela hipocrisia dessa ou daquela instituição.

Força, guerreiro!
Que a vida,
Clementino,
Tenha a ti outro destino.
O da paz.
O da certeza que você
Veio fazer em Brasília
(Vencer!)
Ser para sempre o nosso herói...

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