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Pedro Benedito Maciel Neto

Pedro Benedito Maciel Neto é advogado, autor de “Reflexões sobre o estudo do Direito”, Ed. Komedi, 2007.

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Cocho cheio no metaverso

No universo paralelo do bolsonarismo o déficit cognitivo impera, o que poderia ser cômico, mas não é

Jair Bolsonaro (Foto: Isac Nóbrega/PR)

Os olavobolsonaristas vivem numa espécie de metaverso.

O metaverso é uma camada da realidade que procura integrar os mundos real e virtual. A ideia é ele ser um ambiente virtual imersivo construído por meio de diversas tecnologias, como “Realidade Virtual”, “Realidade Aumentada” e “hologramas”, mas o metaverso dessa gente se constrói através das mentiras e versões toxicas que eles fazem circular freneticamente nas redes sociais.

É como em Matrix, filme de Lilly e Lana Wachowski, onde as pessoas vivem em uma realidade virtual arquitetada por uma inteligência artificial assassina que usa seus corpos para produzir energia; o metaverso bolsonarista é mais ou menos isso, mas nele os vilões não são as máquinas, são pessoas más e vis, que mantém o cocho dos incautos cheio de mentiras e versões.

E, nesse universo ficcional, os bolsonaristas interagem e se alimentam das fake News.

Exagerado eu? De forma alguma, vamos relembrar.

Com o fim do segundo turno em 2022 e a derrota do Inominável, seus seguidores não desistiram da corrida eleitoral e se mantiveram firmes nas ruas questionando o resultado das urnas; eles diziam: “tudo será resolvido em 72 horas”.

O vasto acervo de mentiras deu sustentação ao delírio bolsonarista.

Quem não se lembra da fake News que trazia a cantora Lady Gaga, apresentada ao pessoal do metaverso como “primeira-ministra” do tribunal de Haia, que viria ao Brasil para declarar nulas as eleições.

E a comemoração emocionada dos incautos nos acampamentos quando se noticiou que Alexandre de Moraes havia sido preso por favorecer Lula? Hoje sabemos que foi o hacker de Araraquara e Zambelli, com as bençãos do Inominável, que criaram a mentira.

“Tem aquela” do general das Forças Armadas “Benjamin Arrola”, que teria pedido ao TSE uma explicação sobre as eleições. Evidentemente trata-se de um nome fictício, cuja sonoridade tangencia a obscenidade (recebi por WhatsApp esse fake de vários conhecidos à época); o lutador Vitor Belfort, por exemplo, campeão de UFC e eleitor do Inominável, compartilhou entusiasmado um “story” com a notícia do tal general e ainda abriu uma enquete para os seus seguidores perguntando se eles acreditavam no resultado das urnas.

Mais um? Há o vídeo mostrando a “juíza” Anna Ase, suposta autoridade internacional sueca, falando sobre fraudes nas urnas brasileiras; era mentira também. Anna Ase, na verdade, era Agnetha Fältskog, cantora na banda ABBA. O vídeo que a “juíza” questiona a veracidade das urnas é uma entrevista de 2013, e os bolsonaristas usaram legendas falsas nas falas da cantora para sustentarem sua tese.

Outra notícia falsa, que alimentou o cocho do bolsonarismo envolve a atriz pornô Mia Khalifa; ela foi apresentada ao metaverso num vídeo, onde as legendas também eram falsas, como sendo a Diretora do Departamento Antifraudes Eleitorais do Tribunal de Haia.

O “estado maior” do bolsonarismo é criminosamente mentiroso e, como maneja muito bem as redes sociais com a ajuda dos algoritmos de Steve Bannon, vem criando um exército de imbecis perigosos, basta olhar para os dias 12/12, 24/12 e 8/1.

No universo paralelo do bolsonarismo o déficit cognitivo impera, o que poderia ser cômico, mas não é, pois essas mentiras mantem incautos e canalhas prontos para detratar a democracia e as instituições.

A usina de desinformação bolsonarista, que movimenta a paixão dos incautos, criou o ambiente para: (i) a greve parcial dos caminhoneiros; (b) os acampamentos na frente dos quartéis por mais de setenta dias; (c) o quebra-quebra de 12 de dezembro, dia da diplomação de Lula; (c) a tentativa de explodir uma bomba num caminhão no aeroporto de Brasília.

Enquanto o “gabinete do ódio” desinformava, a vileza se materializava numa “minuta do golpe”, a qual foi apresentada aos comandantes das Forças Armadas em “pelo menos dez” reuniões preparatórias para um Golpe de Estado; ao que se sabe até agora é que apenas a marinha deixou-se enfeitiçar pelo “projeto” de ruptura institucional, noutras palavras: não ocorreu golpe porque o Exército e a Aeronáutica não aderiram; o comandante do exército teria, inclusive, ameaçado prender o Inominável, caso ele insistisse no assunto. Derrotado e sem apoio necessário para o golpe o capitão abandonou o país depois do Natal e, usando um avião da FAB, foi passar férias na Disney World, para, aparentemente, monitorar a venda de joias e objetos do acervo da presidência.

Mantendo a cronologia, chega-se ao dia 8 de janeiro, que foi a última cena de uma tragédia que começou com a eleição do Inominável em 2018. Aliás, a citada eleição levou ao congresso a primeira geração de deputados e senadores bolsonaristas e, par desespero da democracia, os eleitos em 2022 são ainda piores e mais repulsivos.

O projeto do bolsonarismo é a destruição de toda a institucionalidade, é a ruptura do arranjo institucional de 1988 e a implantação de um regime de extrema-direita, ultraliberal, entreguista, sem projeto de nação, sustentado nas mentiras, nas pautas de costumes e no neopentecostalismo.

O que fazer? Para nós democratas, de direita, de centro e de esquerda, só há um caminho: fazer Política.

Uma advertência: Lula sozinho não resolverá quase nada, por isso é necessário que voltemos a fazer política de verdade, voltemos a falar de tudo que diga respeito ao bem público, à vida em comum, às regras, leis e normais de conduta.

É fundamental que façamos uma autocritica séria, pois “fazer política” não é disputar eleições ou garantir um espaço nas estruturas de poder; fazer política é enfrentar a hegemonia liberal, sua lógica e seus representantes; fazer política é falar para “fora da bolha”, com o objetivo de criar fissuras no sistema.O bolsonarismo, o lavajatismo, os “faria limer” e todos os outros tipos de detritos que emergiram do chorume bolsonarista, que usam da boa-fé de tantos, que usam a mentira e a versão como arma, precisam ser enfrentados por cada um de nós.

Eles usam a mentira e nós usaremos apenas a verdade como escudo e aríete, pois somente ela – a verdade -, prima-irmã do tempo, haverá de esvaziar o cocho dos incautos e trazê-los do metaverso para a realidade.

Essas são as reflexões.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.