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Chico Junior

Jornalista, escritor e comunicador

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Comida é cultura

Por princípio, para mim comida é cultura. Enquadra-se também em muitas outras coisas, como história, turismo e até como alimentação. Mas é por intermédio de sua cultura que um povo, uma região, define sua relação com o alimento

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Por princípio, para mim comida é cultura. Enquadra-se também em muitas outras coisas, como história, turismo e até como alimentação. Mas é por intermédio de sua cultura que um povo, uma região, define sua relação com o alimento. Quando falo ou escrevo sobre esse tema, costumo citar o italiano Massimo Montanari, professor de História da Alimentação na Universidade de Bolonha, autor do livro “Comida como Cultura”, que diz o seguinte:

“A comida para os seres humanos é sempre cultura, nunca apenas pura natureza. A humanidade adotou como parte essencial de suas técnicas de sobrevivência os modos de produção, de preparação e de consumo dos alimentos, desde o conhecimento sobre as plantas comestíveis até o uso do fogo como principal artifício, para transformar o alimento bruto em um produto cultural, ou seja, comida. A cozinha, assim, funda a própria civilização.”

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Ao nos alimentarmos, ou ao sentirmos o prazer de comer, estamos “ingerindo” não apenas a nossa cultura, mas também as culturas de outros povos, nações, formas centenárias, milenares, de tratar e preparar o alimento. Da natureza à mesa, a comida percorre a cultura e a história dos povos.

A cultura define o nosso paladar, o gosto.

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O prazer de comer, e de cozinhar, começa bem antes do sabor. Tem início na nossa formação cultural, na escolha dos ingredientes, na preparação do que vai ser cozinhado, no ato de cozinhar em si; e, aí sim, no ato de comer, no exercício do sabor.

A culinária não tem dono; ela é uma fusão de vários “sabores culturais”. Migrações, colonizações, invasões, etnias contribuem para a formação de uma determinada culinárias. Culinária, é, por princípio, diversidade. Um prato típico local muitas vezes é produto de várias fusões culturais. A jornalista inglesa Mina Holland, que rodou o mundo atrás de comida e publicou o “Atlas Gastronômico – uma volta ao mundo em 40 cozinhas”, exemplifica com a culinária da Sicília, “onde gregos, romanos, normandos, árabes, espanhóis, franceses e, mais recentemente, os italianos se alternaram no governo”. Isso tudo tem reflexo na formação da culinária mediterrânea da Sicília.

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Para os chineses, comer carne de cachorro pode ser a coisa mais natural do mundo. Para nós, soa estranho. Para o nordestino, uma buchada de bode vai muito bem; já para o carioca da Zona Sul do Rio...

A diversidade gastronômica do Brasil é mais um exemplo clássico dessa fusão cultural. Nossa culinária é produto da influência indígena, portuguesa, africana, japonesa, alemã, italiana, para citar as mais expressivas.

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Dona Adalva e o sabor do sertão

Nas minhas andanças pelo Brasil, quando estava produzindo o livro “Roteiros do Sabor Brasileiro”, em 2004/2005, conheci diversos personagens fantásticos, que me chamaram a atenção, principalmente, pelo fato de se dedicarem e levarem a sério a cultura alimentar de uma região. 

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Dona Adalva Rodrigues é um exemplo. Ela é do sertão, do Vale do Seridó, interior do Rio Grande do Norte. Aprendeu a cozinhar por lá mesmo e continuou cozinhando mesmo quando foi para a cidade, no caso a Praia de Pirangi do Norte, município de Parnamirim, pertinho de Natal. O filho, Giovani, cansado da vida de bancário, queira abrir um bar. Mas D. Adalva queria mais e insistiu em um restaurante, onde pudesse dar vazão às suas criações culinárias desde os tempos do Vale do Seridó, onde nasceu e se criou. O nome do restaurante (Paçoca de Pilão) foi ideia sua. “A paçoca de pilão é uma coisa da minha terra, do povo da minha terra”.

De origem indígena, a paçoca ganhou os sertões e passou a fazer parte do cardápio de sustentação dos tropeiros e bandeirantes.

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A vivacidade da cultura regionalista, o mar e o sertão influenciam diretamente a gastronomia nordestina. A culinária sertaneja, apesar da proximidade com o mar é marcante. Diversos restaurantes abusam da manteiga de garrafa, da carne-de-sol, da carne de bode e iguarias, digamos “pesadas” aos olhos de alguns, mas muito saborosas para todos que as experimentam, como a buchada de bode. 

Isso tudo se vê claramente na culinária de Dona Adalva, que une toda a cultura, história e tradição da sua terra natal, com os produtos e sabores do mar.

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