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Liana Cirne Lins

Professora da Faculdade de Direito da UFPE, doutora em Direito Público e mestra em Instituições Jurídico-Políticas

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blog

Como a esquerda vai ajudar a eleger Moro em 2022

"Moro é mestre na arte de fingir ser homem probo e correto. E essa narrativa seguramente vai estar em disputa daqui a dois anos, nas eleições presidenciais de 2022", escreve a professora de Direito da UFPE Liana Cirne Lins

Sérgio Moro (Foto: Marcos Correa/PR)
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Um meme de um comediante, satírico à demissão de Sergio Moro, foi motivo de polêmica no dia seguinte à demissão. O vídeo foi compartilhado por importantes páginas de esquerda nas redes sociais, e por alguns políticos de esquerda, também. 

O vídeo simulava uma briga entre duas participantes do BBB, mas os rostos tinham sido alterados para as faces de Moro e Bolsonaro. O personagem de Moro dizia para Bolsonaro: "Eu não sei ser fingido, não olho na sua cara por que eu não gosto de ser falso. Acho você incoerente, você está onde eu te convém. Acho você extremamente falso, extremamente sem educação e extremamente soberbo."

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Apesar de ter sido compartilhado por inúmeras páginas de esquerda, na minha opinião, o vídeo era peça de propaganda que reforçava a imagem de Moro como bastião da moralidade, que denuncia as mentiras de Bolsonaro. 

Supõe-se que quem é de esquerda sabe que Moro deu aula de hipocrisia a Bolsonaro. Se manteve no governo enquanto lhe conveio, prevaricou, cometeu corrupção passiva e acusou o ex-chefe de fazer exatamente o que ele fez: usar a PF para perseguir adversários e proteger amigos (inclusive o próprio Bolsonaro, que teve o sigilo do inquérito contra Carlos garantido, nos tempos em os dois andavam às boas), sem falar na quebra do sigilo do processo do laranjal do PSL e muitas outras vezes em que Moro praticou crime de advocacia administrativa. 

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Entretanto, Moro é mestre na arte de fingir ser homem probo e correto. E essa narrativa seguramente vai estar em disputa daqui a dois anos, nas eleições presidenciais de 2022, quando Moro vai surfar tanto na briga com Lula, para os antipetistas, quanto na briga com Bolsonaro, em que a imagem propagada no meme lhe favorece muito: o homem que joga a verdade na cara, custe o que custar. 

Como eu tenho 48 anos e há mais de 20 não assisto à TV, nunca acompanhei um Big Brother e a última novela que vi foi Rei do Gado, às vezes é difícil entender a forma como a militância virtual simpatizante da esquerda se organiza e pensa.

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Mas é evidente que precisamos fazer um duplo movimento: de um lado, precisamos compreender que é impossível abandonar o campo da lacração nas redes sociais. Essa é uma forma de militância que tem disputado narrativa com força - como, aliás, aconteceu no último BBB - e é um erro das gerações mais velhas ignorá-la ou desprezá-la.

De outro, as esquerdas precisam investir mais em formação política. As direitas estão investindo, e muito. 

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Basta olhar para a Fundação Lehmann, RAPS, Acredito, RenovaBR e por aí segue. Esses grupos escolhem jovens dentro das favelas, das escolas públicas, das universidades, das redes sociais. E FORMAM. Inclusive com BOLSAS, para assegurar dedicação à militância. 

Enquanto isso, onde estão os cursos e formações para simpatizantes de esquerda? Seria maravilhoso ver a Fundação Perseu Abramo ocupar esse papel, por exemplo. 

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Nem mesmo tática e estratégia para redes sociais são ensinadas. Não admira que a gente compartilhe um meme que enaltece Moro, apenas porque Bolsonaro foi ridicularizado. 

A falta de estratégia da esquerda inclusive ajuda a direita a promover seus candidatos. Todo mundo sabe que simpatizantes de direita compartilham posts movidos pelo MEDO. E que simpatizantes da esquerda compartilham posts movidos pela INDIGNAÇÃO. 

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A gente lembra do quanto nós fomos cruciais para promover Marco Feliciano em 2013, e Bolsonaro em 2016. Era muito mais comum ver um vídeo falando MAL de Bolsonaro do que um vídeo falando bem de Dilma. Promovemos e ajudamos o crápula a se eleger. 

Vamos repetir o erro? Tudo indica que sim. Não temos tática, não temos estratégia e não temos ninguém disputando institucionalmente a formação política da esquerda, que segue à deriva, abandonada a memes engraçadinhos.

Eu sei que vocês vão dizer: relaxa, é só um meme. 

É?

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