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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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Como não ser preso na CPI

O enredo é a história em si, o que se conta. Quanto mais próxima da realidade, mais capaz de convencer

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Não tá fácil pra ninguém. Hoje em dia, até sair para tomar um chope casual não é mais seguro. Do nada, já aparece alguém oferecendo 400 milhões de vacinas ao cidadão de bem, que pode acabar tendo que prestar esclarecimentos aos senadores da CPI, que veem corrupção em tudo que é lugar. Caso você seja vítima desse tipo de gente que aborda desavisados em seus horários de happy hour, o melhor a fazer é estar preparado. Assim, seguem algumas dicas fictícias e irônicas de como não ser preso na CPI. Para tanto, você precisa ter, primeiramente, uma baita cara de pau e dominar a arte de contar uma mentira, digo, uma história, que possa convencer até mesmo a senadora Simone Tebet.

Assim, depois de cair na “malha fina” da CPI e ser devidamente convocado, é necessário se apresentar bem. Nada de tentar se passar por um “simples”. Ostentar demais também não é aconselhável. Logo, não deixe seu Rolex à mostra. Não é de bom tom. Use um terno tipo pretinho básico e uma gravata discreta. Contudo, não descuide dos sapatos. A ocasião exige Prada, para que os senadores e senadoras saibam exatamente quem você representa. Já na chegada, deixe escapar alguns comentários pontuais sobre sua família, pois o senador Aziz não costuma mandar prender pais de família, embora isso não tenha servido de nada para o tal do Dias. Usar um perfume que também seja o preferido do presidente da Comissão é uma boa. Dizem que usuários do mesmo tipo de perfume desenvolvem empatia automática entre si. Não custa tentar.

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O mais importante de tudo, no entanto, é a história a ser contada. Nada de chegar lá, contando uma história sem pé nem cabeça, incapaz de convencer até mesmo o pequeno George Pig. A lorota, digo, a história precisa estar bem amarradinha. Nesse sentido, evite mostrar seus versículos favoritos. Guarde-os para você. Também não é aconselhável tentar divulgar seu mais recente livro, como se alguém, além da sua família, quisesse ler aquilo. Assim, para você não ser preso já pela manhã, sugere-se que sua história tenha um bom enredo, que os personagens sejam bem construídos e que, de preferência, tenha tempo e espaço determinados. Deixe claro se você participa da história ou se só ouviu falar, embora os membros da CPI já saibam exatamente qual sua função na trama. 

O enredo é a história em si, o que se conta. Quanto mais próxima da realidade, mais capaz de convencer. Logo, nada de: “... saí para tomar um chope casual e me ofereceram 400 milhões em vacinas...”. Os personagens, antagonistas (podem ser vilões) e protagonistas (podem ser heróis), mesmo fictícios (não dê nome aos bois. Omertà e “queima de arquivo” lhe dizem alguma coisa?), precisam ser críveis e bem construídos. Nada de: “... então dois homens, um cabo e um coronel da PM apareceram do nada e...”. Pior, impossível. Se você estava tomando seu chope e, “do além”, apareceram aqueles dois, então você faz parte da narrativa. Você está nela até o pescoço. Quando isso tudo ocorreu (tempo)? À noite. Onde (espaço)? Um shopping em Brasília. Esse é o esquema (ops!) básico sugerido. Toda e qualquer história, de uma forma ou outra, cabe nesse esquema.

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Elaborada a narrativa, sugere-se contratar um(a) roteirista de séries de TV (Shonda Rhimes deve cobrar uma fortuna, mas vale a pena. Veja o que ela fez com Annalise Keating!), um professor de literatura ou um escritor, para que façam leituras e indiquem os ajustes a serem feitos na historinha a ser apresentada no depoimento. Outra opção é comprar o texto já pronto. Mas isso seria um tipo de corrupção. Na sequência, é ensaiar, tendo tais especialistas (agora é o momento de acrescentar um(a) advogado/advogada ao grupo) simulando possíveis questionamentos que possam vir a ser feitos na CPI. 

E se tudo o mais der errado, o negócio é torcer para que os senadores Randolfe Rodrigues, Renan Calheiros, Eliziane Gama e Alessandro Vieira não estejam virados no cão ou que o Ministério da Defesa (defende quem mesmo?) solte alguma notinha golpista atacando a democracia, o que contribuirá para que você suma da mídia por alguns dias. Em histórias inventadas, os autores costumam eliminar certos personagens. Nunca se viu, no entanto, a eliminação de mais de 530 mil pessoas por pura ganância. Tenebrosas transações assim só ocorrem em estarrecedoras histórias reais, nas quais se sabe exatamente quem são os vilões.

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