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Julimar Roberto

Comerciário e presidente da Contracs-CUT

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Congresso inimigo do povo

Enquanto isso, o país real segue largado à própria sorte

São Paulo (SP) - 21/09/2025 - Manifestantes participam de ato contra a PEC da Anistia e da Blindagem, no MASP (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)

Mais alguém aí tem a impressão de que o Brasil faz um tremendo esforço para caminhar para frente, enquanto o Congresso insiste em puxá-lo para trás? É esse meu sentimento e sei que muita gente tem essa mesma impressão.

Sei que nunca tivemos um Congresso tão conservador quanto o atual. Também sei que as bancadas BBB — da Bala, da Bíblia e do Boi — jamais ofereceriam trégua à classe trabalhadora. Mas daí a descaracterizar por completo a ideia de que as duas Casas Legislativas existem para servir ao povo brasileiro… aí já é demais. Ou alguém discorda?

Vemos constantemente decisões e projetos discutidos em Brasília que reacendem a incômoda pergunta de “a quem o Congresso Nacional serve?”. Porque, ao que parece, não é à maioria da população. Não quando parlamentares se empenham mais em proteger golpistas e blindar seus próprios privilégios do que em garantir direitos, fortalecer o Estado Democrático de Direito e responder às urgências sociais.

A aprovação em plenário da Câmara, na madrugada do último dia 10, do PL da Dosimetria que reduz drasticamente as penas de condenados pelo ataque golpista de 8 de janeiro — incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro — simboliza esse descompasso. O texto permite aplicar apenas a pena mais grave, ignorando o acúmulo de crimes comprovados, além de flexibilizar progressões e facilitar saídas antecipadas. Trata-se de uma “anistia de fato”, ainda que seus defensores jurem que não passa de técnica jurídica. Mas o efeito concreto é que um condenado a mais de 27 anos pode ter sua pena reduzida para 2 ou 3 anos de prisão efetiva. 

E os desatinos não param por aí. A chamada PEC da Blindagem, que exige autorização do próprio Congresso para que o STF processe parlamentares, avança sorrateira. Com votação secreta, claro — porque quem é inimigo do povo raramente trabalha às claras. Esse é mais uma proposta absurda e que abre as portas para a impunidade institucionalizada, criando uma espécie de “capa protetora” para políticos acusados dos mais diversos crimes. Um ataque direto ao equilíbrio entre poderes e ao combate à corrupção.

Enquanto isso, o país real — o das filas no SUS, das trabalhadoras e dos trabalhadores massacrados por baixos salários, das mulheres que lutam para manterem-se vivas, dos jovens ameaçados pelo desemprego — segue largado à própria sorte. Para esses brasileiros e brasileiras, não há tramitação acelerada, não há madrugada de votação, não há blindagem e nem vontade política. 

É por isso que a reação foi imediata. “Congresso inimigo do povo!” Não é exagero; é constatação! É a percepção de que parte significativa dos parlamentares age em defesa de si mesma, de minorias privilegiadas e, sobretudo, de grupos que tentaram destruir as instituições republicanas.

O fato é que o Brasil não pode permitir que o Parlamento se transforme num escudo para golpistas e num bunker de privilégios. Democracia exige coragem. E coragem se expressa na defesa firme da justiça, da transparência e do compromisso com o interesse público.

O povo brasileiro já pagou caro demais por escolhas equivocadas, por omissões e por alianças feitas nas sombras. E pagará de novo se não agir.

O ano que vem é a nossa oportunidade de arrumar a casa. Em 2026, além do presidente da República, escolheremos os deputados e senadores que poderão – ou não – fazer a diferença. Se votarmos errado, como da última vez, continuaremos à mercê, entregues a um Congresso que escolhe proteger poucos e abandonar todo o resto. Mas, se votarmos com consciência, com memória e com coragem, poderemos recolocar o Parlamento no lado certo da história, do nosso lado, do lado do povo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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