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Cesar Calejon

Jornalista, mestre em Mudança Social e Participação Política pela USP com especialização (MBA) em Relações Internacionais pela FGV. Autor dos livros A ascensão do bolsonarismo no Brasil do Século XXI, Tempestade Perfeita: o bolsonarismo e a sindemia covid-19 no Brasil e Sobre Perdas e Danos: negacionismo, lawfare e neofascismo no Brasil

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De quando eu conheci Tiago Leifert e a miopia meritocrática da direita liberal brasileira

"As ideias e as falas de Leifert são os sintomas mais representativos da racionalidade que permeia toda a atuação da direita liberal nacional"

Tiago Leifert (Foto: Divulgação/TV Globo/Paulo Belote)
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Por Cesar Calejon

Após refletir sobre o tema deste artigo, cheguei à conclusão de que valeria a pena redigir sobre o assunto por um motivo pertinente: as ideias e as falas de Tiago Leifert, jornalista e ex-apresentador da Globo, são os sintomas mais representativos da racionalidade que permeia toda a atuação da direita liberal nacional, o que inclui amplas parcelas da “classe média”, toda a alta burguesia e, infelizmente, até algumas camadas mais empobrecidas da população brasileira. 

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Ou seja, resolvi escrever esses parágrafos não por conta de uma personalidade específica, mas pelo tipo de ideologia que as convicções desta pessoa demonstram no nível estrutural considerando a organização da direita liberal brasileira. 

Para os meus propósitos neste artigo, o termo “ideologia” não representa um mero conjunto sistemático e encadeado de ideias ou uma trama simbólica de ideias e valores. Neste contexto, “a ideologia é um ideário histórico, social e político que é utilizado para ocultar a realidade material dos fatos a fim de conquistar e garantir a exploração econômica, a desigualdade social e a dominação política”, conforme a definição da escritora Marilena Chaui. 

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Recentemente, Leifert disse que preferiria levar um tiro na cabeça do que ser obrigado a votar em Lula ou em Bolsonaro. “Pode atirar. Não dá, essa é a posição solitária, não dá. (...) O Bolsonaro foi muito mal e o Lula não dá. Fez um bom governo em 2002, entendo a figura que ele é, a importância que ele tem, mas não consigo fazer o malabarismo mental de tudo o que aconteceu”, disse o jornalista, que, há alguns meses, protagonizou outra polêmica, desta vez com o ator Ícaro Silva. 

Na ocasião, Silva chamou o BBB de “entretenimento medíocre” e Leifert respondeu afirmando, via Instagram, que “(...) não só não te fizemos mal como, provavelmente, pagamos o seu salário”. 

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Por fim, durante o próprio BBB, Leifert citou a política do Big Stick (Grande Porrete) do presidente estadunidense Theodore Roosevelt Jr.: “(...) tinha um presidente americano de muitas décadas atrás que falava, um dos lemas dele, 'fale manso, mas carregue um grande porrete'. Era só falar manso e carregar um grande porrete, que todo mundo ia automaticamente respeitar você, porque as pessoas sabem da sua força”. 

Neste contexto, é fácil compreender a mentalidade de Tiago Leifert. O apresentador enaltece todos os principais argumentos do liberalismo clássico (vitoriano) que embasaram a atual racionalidade neoliberal vigente na maior parte do mundo: na teoria, uma doutrina que luta pela liberdade e pelos direitos individuais, pela igualdade perante a lei, pela proteção da propriedade privada e pelo livre comércio. Na prática, manda quem pode (o pagador do salário), obedece quem tem juízo (os que recebem e precisam dos salários como única forma de sobrevivência). Caso contrário, o grande porrete entra em ação!

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Tal miopia meritocrática forma-se por conta, fundamentalmente, dos aspectos acríticos e a-históricos correlatos aos seus respectivos desenvolvimentos.

Para cidadãos como Tiago Leifert, toda a vida foi uma preparação para ocupar os primeiros cargos da sociedade do capital, que lhe pertencem “por direito”. Neste caso, foi o próprio Leifert quem me afirmou este raciocínio. 

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Em 2004, ambos tínhamos 24 anos. Naquele ano, eu trabalhava para o jornal Imprensa Livre, que cobre a região do Litoral Norte de São Paulo, e Leifert atuava como repórter iniciante da TV Vanguarda, que abrange o Vale do Paraíba e o próprio Litoral Norte do estado. 

Após uma matéria sobre a cultura caiçara, durante a qual dividimos a mesma embarcação com um nativo que nos concedeu a entrevista, Leifert sugeriu que tomássemos uma cerveja. Sentados, de frente para o mar, ele me disse que estava no “júnior da rede Globo”, que tinha feito faculdade “fora do país” e já estava com o seu “caminho garantido” dentro da emissora por conta da atuação do seu pai. 

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Nesta medida, o jovem Tiago Leifert, com apenas 24 anos, já sabia que o mundo conspirava, fortemente, a favor do seu sucesso e das suas pretensões. Qual é o estímulo para que alguém que está navegando absolutamente a favor da corrente desta forma repense os valores históricos que criaram o atual modelo de sociabilidade no sentido de desenvolver uma visão crítica com relação à vida e à própria atuação? 

Nenhum, muito pelo contrário: essas pessoas se esforçam para sustentar uma visão de mundo que seja capaz de justificar os seus privilégios, disfarçando-os sob a égide do “empenho”, do “esforço” e do “talento”. Uma miopia meritocrática que, por deliberação ou pura ignorância, procura esquecer que os seus benefícios foram construídos com base em violência, pilhagem e usurpação ao longo dos séculos. 

Exatamente por este motivo, Tiago Leifert (e a classe que ele tão eloquentemente representa) afirma que “Lula não dá”, mesmo reconhecendo que o petista “fez um bom governo” e que entende “(...) a figura que ele é, a importância que ele tem”. 

Após toda uma vida de confortos, títulos, holofotes, aplausos e privilégios, torna-se impossível reconhecer que o seu sucesso é fruto de um modelo de sociabilidade que massacra a maior parte dos seres humanos.

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