Devassidão galopante
Só a Câmara dos Deputados tem um orçamento superior a 9 bilhões de reais. Mas o trágico são as Emendas parlamentares, que ultrapassam 53 bilhões de reais
Ler ou assistir o noticiário tem sido uma aventura, me refiro à devassidão galopante patrocinada por agentes públicos, honrados componentes das mais diversas carreiras de Estado ou respeitáveis representantes eleitos.
Na Paraíba, por exemplo, o TCE autorizou o pagamento de um bônus de 1,8 milhão para cada conselheiro do Tribunal de Contas e 1,7 milhão para membros do Ministério Público de Contas, em razão do acúmulo de trabalho; a verba, como tem natureza indenizatória, não está sujeita ao desconto do IRRF. Uma libertinagem capaz de ruborescer Al Capone.
Mas não é só no belo estado da Paraíba.
No Rio de Janeiro, o governador Claudio Castro - o mandatário que mandou a PM subir o morro, matar pessoas e submeter a tropa a risco tal que levou à morte quatro policiais, que não ocupou territórios e ficou tudo como dantes no quartel de Abrantes -, mandou quase 3 bilhões de órgãos e empresas do governo do Rio, para o Banco Master, grande parte do valor foi destinado ao após o início da crise reputacional na instituição financeira, a partir do fim de 2023. Inegavelmente uma vileza.
No nosso estado de São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas privatizou a EMAE - Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A., vendou o controle ao Fundo Phoenix FIP, cujo investidor de referência é Nelson Tanure, por pouco mais de 1 bilhão de reais.
Já privatizada e sob gestão vinculada ao Phoenix/Tanure, a EMAE aplicou 160 milhões de reais em CDBs de um banco do conglomerado Master em setembro de 2025 e, na sequência, em outubro, depois de ter comprometido o caixa da Emae com o Master, Tanure revendeu a empresa para a Sabesp por cerca de R$ 1,13 bilhão.
E, pouco mais de um mês depois, em novembro, o conglomerado Master (Banco Master, Letsbank) foi colocado em liquidação extrajudicial pelo Banco Central.
Ou seja, Tanure conseguiu vender a Emae sem registrar o prejuízo futuro com a liquidação do Banco Master e o cunhado de Daniel Vorcaro (dono do Master), Fabiano Zettel, foi o maior doador pessoa física da campanha de Tarcísio, doando 2 milhões de reais para a campanha do bolsonarista. Não existe mais patifaria oculta, o nosso governador carioca deu seu jeito para participar do escândalo do Master.
Há ainda os supersalários dos magistrados.
Temos notícia de que, após análise das remunerações de magistrados em 18 Tribunais de Justiça, em 2023, todos eles pagaram salários brutos médios até duas vezes acima do teto constitucional daquele ano.
Nove Tribunais de Justiça (AP, CE, DF, MT, PA, PB, PI, SE e TO) não apresentaram transparência o suficiente sobre seus contracheques de 2023, o que os deixou de fora desta análise, como dizia o grande Milton Leite nas suas transmissões pela SPORTV e antes pela ESPN: “Que beleza!”.
No topo dos salários brutos médios, estão os membros do TJ de Mato Grosso do Sul: cada um recebeu, em média, R$ 85,7 mil por mês. A verba mais paga pelo TJ-MS é o “pagamento retroativo”, que apresenta baixíssima transparência por não discriminar sobre o que o pagamento se refere; e mesmo o menor valor médio pago, de R$ 51 mil mensais, observado no TJ do Amazonas, ultrapassa o teto constitucional por uma grande margem: 23%.
Uma balbúrdia togada, lembrando que o custo total do Poder Judiciário no Brasil foi de R$ 146,5 bilhões em 2024, de acordo com o relatório "Justiça em Números 2025", do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O relatório detalha as despesas por segmento.
Mas vamos voltar ao escândalo do Banco Master, do qual participou com desenvoltura o governador do Distrito Federal e sua horda.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), tornou réus o Governo do Distrito Federal e Juliana Monici, chefe de gabinete de Ibaneis Rocha, por operações suspeitas vinculadas ao BRB, pois, de acordo com a CVM, há indícios de engenharia contábil e financeira entre o BRB e o Banco Master, com movimentações na ordem de R$ 16,7 bilhões entre 2024 e 2025.
O escândalo do Banco Master envolve o Governo do Distrito Federal porque o BRB tornou-se um dos principais sustentáculos financeiros do Master pouco antes da descoberta da fraude. Qual o interesse público que Ibaneis buscava tutelar?
A compra do Master, estimada em R$ 2 bilhões, contava com apoio direto do governador Ibaneis, que enviou à Câmara Legislativa um projeto de lei autorizando o BRB a adquirir participação em outras instituições financeiras, justamente para viabilizar o negócio.
A Justiça suspendeu a compra por irregularidades e falta de autorização legal. A Polícia Federal cumpriu mandados na sede do BRB, e executivos foram afastados. Uma auditoria externa foi contratada.
Embora a fraude tenha nascido no Banco Master, o Ibaneis está diretamente implicado por ter arriscado recursos públicos na instituição privada, gerando suspeitas graves sobre os reais interesses por trás da operação.
Caros leitores, o governador do DF, que deveria ser o zelador dos recursos, movimentou R$ 16,7 bilhões entre 2024 e 2025, para beneficiar o banco e seus acionistas. Mas e o povo? “O povo que se exploda”, diria Justo Veríssimo, personagem do imortal Chico Anysio.
E o Poder Legislativo, quanto custa para o Brasil?
Os custos totais e detalhados do Poder Legislativo no Brasil são difíceis de estimar com precisão, pois envolvem milhares de câmaras municipais, 27 assembleias legislativas estaduais (incluindo o Distrito Federal) e o Congresso Nacional. No entanto, sabemos quanto custa o Congresso Nacional.
Sabemos que só a Câmara dos Deputados tem um orçamento superior a 9 bilhões de reais. Mas o trágico são as emendas parlamentares, que ultrapassam 53 bilhões de reais, valor que, apesar de não ser um gasto direto do Legislativo, tem cada parlamentar como ordenador da despesa e já há investigação sobre esse tema no STF e há operação investigando emendas parlamentares e desvio de 15 milhões de reais.
Fato é que as instituições e órgão de controle precisam trabalhar mais, ter mais independência, com regulação clara para não haver abusos, caso contrário a nossa riqueza, que é finita, será toda transferida aos malfeitores da república, todos respeitáveis e honoráveis.
Essas são as exaustas reflexões de hoje.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

