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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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É mais fácil culpar Lady Macbeth

É inaceitável que nossos professores sejam tratados em debates à Presidência, expostos, constrangidos e responsabilizados pelo descaso de sucessivos governos

Instituto Federal Catarinense (IFC) (Foto: Divulgação)
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No domingo, 28 de agosto, boa parte do país parou para assistir ao debate dos candidatos e candidatas à Presidência da República. Foi, sem dúvidas, um momento de engrandecimento da democracia brasileira tão aviltada e atacada pelo atual Presidente do país e seus apoiadores. Na ocasião, candidatas e candidatos tiveram a oportunidade de expor as propostas que pretendem implementar caso sejam eleitas/eleitos nas próximas eleições.

Como é comum nesse tipo de debate, alguns candidatos costumam “esconder o jogo” e uns são usados de escada, enquanto outros correm contra o tempo, tentando fazer parecer aquilo que não são na incessante busca pelo voto de incautos e desavisados eleitores. A expressão popular “quem não te conhece, que te compre” poderia, sim, ser aplicada à maioria daqueles senhores e senhoras que ali estiveram, pois entre aquilo que falaram e o que realmente pensam e defendem, há um abismo de proporções inimagináveis. A exceção talvez tenha sido o candidato do Novo, que durante todo o debate foi sempre fiel na defesa de uma política selvagem, para dizer o mínimo. Nesse contexto, o debate na Band não desapontou ninguém, pois teve de tudo um pouco.

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Entre o real e o surreal do debate, uma coisa nos chamou a atenção: todos e todas se mostraram “especialistas” em educação, demonstrando exatamente como resolver todo e qualquer problema no campo do ensino e da aprendizagem. Alguns nomes, inclusive, alardearam aos quatro ventos que são ou já foram professores. Mas o que deve mesmo ter enchido de esperança os professores e professoras desse país é que o candidato do Novo, tratado com professor e “um cidadão como qualquer outro”, informou à Justiça Eleitoral ter um patrimônio de R$ 24 milhões. E do alto do seu conhecimento sobre educação, o “professor” danou-se a falar sobre como melhorar a educação do país, o que deve ter deixado Paulo Freire bastante orgulhoso. Esqueceu ele, no entanto, de dizer como os professores e professoras podem, dando aulas, acumular um patrimônio como o dele. Talvez no próximo debate o segredo seja revelado.

Pelo que se viu ali é preciso, na verdade, lamentar por aqueles que tiveram o infortúnio de terem sido alunos ou alunas daqueles “mestres”, uma vez que demonstraram entender bulhufas acerca de como as coisas funcionam na educação brasileira, como se conduz uma escola, uma aula ou que estratégia deve ser utilizada em determinado momento do processo de ensino-aprendizagem. Teve, inclusive, candidato falando em “decoreba”, demonstrando desconhecer completamente como os conteúdos são trabalhados atualmente nas salas de aula. Em meio a tanto vexame, o mesmo candidato insistiu ainda em descrever seu Estado como uma verdadeira Shangri-lá. Eis o nível, senhoras e senhores!

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Mas como era de se esperar, quando se trata de educação no Brasil repete-se a mesma velha cantilena de que filho de pobre não tem o direito de escolher o que quer estudar. Não podem ser médicos, advogados, artistas etc. Mesmo que não tenham dito isso com essas palavras, nossos candidatos e candidatas graduados em tudologia, com especialização em educação invisível defenderam o ensino técnico para todos. Quem seriam esses “todos”, hein? Seriam os filhos dos ricos ou os filhos dos trabalhadores? 

Lá longe, quase inaudível, ainda se ouviu um tímido fiapo de voz a defender a valorização do magistério. No desenrolar da gasta cantilena rolando leriana, elegeu-se um culpado para o grande problema da educação brasileira. E o “vencedor” foi, é claro, o professor. Do auge das suas pseudo-sabedorias, candidatas e candidatos falaram, inclusive, em “treinar” (treinar, meu povo?) professores e professoras.  E assim, no país aonde a incompetência e a ganância política vêm desde muito tempo, como projeto, corroendo a educação brasileira, a culpa é dos professores e professoras, que mesmo recebendo salários de miséria, doam sangue, suor e lágrimas na tentativa de fazer do Brasil um país melhor. Assim sendo, é inaceitável que nossos professores e professoras sejam tratados nesses debates à Presidência, como a Geni, expostos, constrangidos e responsabilizados pelo descaso de sucessivos governos com a educação de nossos jovens e crianças. Mas é sempre mais fácil culpar Lady Macbeth, não é? O resto é sofisma e retórica barata.

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