Entre o sangue e a inteligência: a resposta de Lewandowski ao Rio
A diferença entre a chacina do Rio e a Carbono Oculto expõe o contraste entre projetos civilizatórios no país. A disputa entre essas visões definirá as eleições
Na noite de ontem (29/10), um dia após a operação policial mais letal do país, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski “surpreendeu a extrema-direita e chocou a esquerda”. O motivo foi o anúncio, ao lado do governador Cláudio Castro, da criação de um escritório emergencial para enfrentar o crime organizado no Rio de Janeiro.
De imediato, eu mesmo fiquei chocado ao ver Lewandowski “compactuar”, pela ausência de críticas, com o verdadeiro rio de sangue provocado pela ação truculenta e assassina da polícia de Cláudio Castro.
Mas, refletindo melhor, percebi que, ao não condenar o governador e propor uma ação de inteligência para o enfrentamento conjunto do crime organizado, o ministro deu a melhor resposta para conter a narrativa em construção pela extrema-direita de que o governo Lula “defende bandidos”.
Essa estratégia, certamente, deve ter sido defendida pelo ministro da Secom, Sidônio Palmeira, um craque do marketing político.
Ao não cair na provocação de Cláudio Castro, que chegou a acusar o governo federal de ter se negado a participar da operação, resta agora ao governador e ao seu grupo de extrema-direita criar narrativas para se defenderem na Justiça.
O Ministério Público Federal deu 48 horas para que o Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro libere o acesso a todas as perícias realizadas nos corpos das vítimas da megaoperação. Relatos de moradores dos Complexos do Alemão e da Penha dão conta de várias atrocidades. Moradores que recolheram dezenas de mortos encontrados na Serra da Misericórdia afirmam que muitos dos corpos apresentavam claros sinais de execução.
Uma testemunha relatou ter visto um rapaz ser fuzilado por três policiais em uma viela sem saída. Outra disse que seu sobrinho, um motoboy, teve a cabeça decepada.
Na quarta-feira (29/10), o ministro Alexandre de Moraes determinou que o governador Cláudio Castro preste esclarecimentos sobre a Operação Contenção.
O governador, que classificou a operação como “um sucesso”, é candidato ao Senado na eleição de 2026 e carrega em seu currículo eleitoral a partir de agora, nada menos que duas centenas de mortos nas operações policiais realizadas por sua Secretaria de Segurança.
Já o presidente Lula vai para sua reeleição apresentando, em seu currículo, a Operação Carbono, que há exatos dois meses, sem disparar um único tiro, conseguiu desbaratar as operações financeiras da cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC).
As investigações, feitas em conjunto pela PF e pela Receita Federal, revelaram que o PCC movimentou, entre 2022 e 2024, nada menos que 52 bilhões de reais. Essa dinheirama estava aplicada em fundos de investimento e empresas financeiras que operam na Avenida Faria Lima, área nobre da capital paulista, bem distante das comunidades pobres nas periferias dos grandes centros urbanos.
A diferença entre as duas operações, a chacina do Rio e a investigação silenciosa da PF, expõe o contraste entre projetos de segurança pública no país. De um lado, a política da bala e do espetáculo; de outro, a aposta na inteligência e no combate às estruturas financeiras do crime. A disputa entre essas visões definirá não apenas as eleições de 2026, mas o rumo civilizatório do Brasil.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




