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Juca Simonard

Jornalista, tradutor e professor de francês. Trabalhou como redator e editor do Diário Causa Operária entre 2018 e 2019. Auxiliar na edição de revistas, panfletos e jornais impressos do PCO, e também do jornal A Luta Contra o Golpe (tabloide unificado dos comitês pela liberdade de Lula e pelo Fora Bolsonaro).

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Equador e Bolívia indicam que eleições no Brasil serão fraudadas

Cassação de partidos e perseguição a candidatos, no Equador. Manobras para não haver vitória da esquerda nas eleições bolivianas. Os dados apontam para novas fraudes nas eleições brasileiras

Presidentes golpeados da Bolívia, Brasil e Equador (Foto: Reuters)
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Nessa semana, a Justiça equatoriana cassou partidos de esquerda e deu mais um passo na condenação infundamentada de Rafael Correa, ex-presidente nacionalista do país. Também, na Bolívia, a Justiça adiou novamente as eleições que deveriam ocorrer esse ano com medo que o MAS, do ex-presidente deposto por um golpe militar e fascista, Evo Morales, voltasse ao poder. 

A fraude eleitoral se anuncia. Fica clara a ofensiva da direita golpista na América Latina para se manter no poder. No Equador, o golpe ocorreu internamente dentro do partido do ex-presidente Alianza País. Rafael Correa, que havia ganho duas eleições seguidas, foi traído pelo seu sucessor, Lenín Moreno.

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Golpe no Equador

Como qualquer partido do nacionalismo de esquerda, o partido é dividido em diversas alas, uma esquerda representada pelos setores mais alinhados aos sindicatos, movimentos sociais e base militante do partido; a ala direita, mais próxima ou totalmente aliada do imperialismo e de setores das classes dominantes; e setores que representam um meio termo.

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Em 2017, a ala direita, da qual faz parte Moreno, ganhou espaço no partido, com uma correlação de forças favorável aos reacionários no continente, e deixou para trás a ala nacionalista representada por Correa e Jorge Glas, seu vice. Chegando ao poder, a direita do Alianza iniciou uma política alinhada com os interesses do imperialismo e se associaram com os governo de direita latino-americanos, sendo o brasileiro, de Michel Temer e, em seguida, de Jair Bolsonaro, e o argentino, de Maurício Macri, os principais.

Moreno entregou o ativista cibernético, Julian Assange, que revelou os crimes de guerra dos Estados Unidos no Oriente Médio, para o governo inglês, que o mantém até hoje enclausurado nas piores condições humanas. Da mesma forma, iniciou uma ferrenha política neoliberal, destruindo os serviços públicos, e uma ação de perseguição política contra os movimentos sociais, sindicatos e lideranças de esquerda, inclusive do próprio partido.

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O vice de Correa, Jorge Glas, foi atingido pela Lava Jato - aliada do FBI - e o ex-presidente é acusado de corrupção em operações farsescas, como no caso de Lula, tendo que se exilar na Bélgica para não ser preso. Agora, a Justiça cassa partidos de esquerda e aumentam a perseguição a Correa para manter a linha política de Moreno.

Golpe na Bolívia

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Já na Bolívia, o golpe não foi tão sutil. A Organização dos Estados Americanos (OEA), instrumento de manutenção dos EUA no continente, alegou fraude nas eleições que levariam Evo a assumir novo mandato presidencial. A “denúncia” da OEA, que mostrou-se comprovadamente sem fundamento, deu “legitimidade” para um golpe fascista com o apoio dos militares, que deram um ultimato ao presidente, que foi se exilar no México.

No país, o golpe assumiu abertamente um caráter fascista. Os fatores que precederam a deposição de Evo incluem linchamento de políticos e lideranças de esquerda nas ruas, invasão e queima de seus patrimônios - como casa, pertences etc. e milícias armadas apoiadas pela polícia. Agora, a Justiça adia as eleições com medo que o MAS ganhe as eleições em pleno desequilíbrio do governo usurpador.

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Crise do golpismo

O ano de 2019, porém, mostrou claramente a crise dos regimes golpistas na América Latina. Durante meses, um intenso contratempo ocorreu em países dominados pelo golpe. No Chile e no Equador, a política de Sebastián Piñera e de Moreno se desgastou e o povo reagiu aos ataques. No mesmo momento, ocorre o golpe na Bolívia e a população sai às ruas, armada e organizada em comitês de bairro, para combater as milícias fascistas e derrotar o processo golpista. Jeanine Áñez, que assumiu e montou um governo com ministros de extrema-direita, já assumiu em meio a uma intensa crise, sem nenhuma legitimidade.

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Da mesma forma, no início do ano de 2019, nos primeiros meses do governo de Jair Bolsonaro, milhões foram às ruas por “Fora Bolsonaro”, em um processo que iniciou-se no carnaval e foi até o fim do primeiro semestre. Assim com Áñez, porém em grau menor, Bolsonaro também assumiu em meio a uma crise, sem forte legitimidade, uma vez que seu governo é produto de uma fraude explícita, que tirou seu principal concorrente, Lula, das eleições.

Em todos os países, a derrota, que veio seguida de uma contenção da polarização e da luta política, ocorreu pela política colaboracionista das lideranças, que buscaram acordos com os governos. No Chile e no Equador, aceitaram as propostas dos respectivos governos e não levaram a luta por “Fora Piñera” e “Fora Moreno”. No Brasil, a esquerda inventou que o povo foi às ruas apenas para “defender a Educação” e não para exigir “Fora Bolsonaro” e lutar contra todos os ataques do governo. Na Bolívia, o MAS buscou saídas institucionais e não incentivou a luta armada dos trabalhadores. O ponto central se resume a isso: as lideranças buscaram acordos com os setores que quebraram os acordos, e canalizaram a saída do problema para as instituições que participaram do problema.

Eleições e fraude

Desta forma, em todos esses países, a esquerda busca nutrir a ilusão de que a crise será resolvida por dentro das instituições que participaram ativamente do golpe, como se a situação política de estabilidade e conciliação não tivesse sido quebrada. Como se houvesse “normalidade democrática”. Como se o problema essencial em todos eles não fosse a manutenção - ou não - do processo golpista. É com base nessa enganação que grupos políticos atualmente buscam formar frentes e alianças “democráticas” com setores fundamentais do golpe.

Os outros países deveriam ter aprendido com o Brasil, que institucionalmente só sofreu derrotas atrás de derrotas após o impeachment da Dilma. Devo lembrar que, se as eleições de 2016 já foram desfavoráveis para a esquerda, que perdeu, por exemplo, São Paulo, a capital mais importante do País, as eleições de 2018 foram um verdadeiro desastre. A extrema-direita tomou conta das instituições. O pleito, que sempre é manipulado, ultrapassou os limites e apareceu para qualquer ser pensante como uma fraude descarada. Houve o impedimento do principal candidato, arbitrariedades dos tribunais eleitorais (como a impossibilidade de milhões de brasileiros de votarem por causa da biometria), milícias fascistas nas ruas, impugnação de candidaturas de esquerda e assim por diante.

Agora, com as manobras dos tribunais e da direita no Equador e na Bolívia para manter os golpistas; com cassação de partidos de esquerda e a perseguição à principal liderança da população, no primeiro, e diversos adiamentos das eleições, no segundo, o Brasil precisa tomar isso como lição e entender que tanto as eleições de 2020, quanto as de 2022 (se não houver mudança na correlação de forças até lá) serão completamente fraudadas. O Brasil não vive fora do mundo e em outra conjuntura... O golpe é uma ofensiva geral do imperialismo no continente latino-americano.

Por isso, o processo eleitoral não deve ser visto com esperança por aqueles que querem derrotar o golpe. Assim, sem semear ilusões irreais, a esquerda deve utilizar a eleição como uma tribuna para denunciar os golpistas e não buscar acordos eleitorais que jogarão a luta do povo e seus interesses na lama. As eleições devem ser utilizadas para aumentar a polarização e a radicalização da luta, porém o verdadeiro resultado se dará nas ruas, expulsando os fascistas e derrubando os governos fraudulentos. Estancar o combate para favorecer as eleições apenas trará novas derrotas para os trabalhadores.

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