Escárnio amplo, geral e irrestrito
Parlamento ignora a voz do povo e ensaia nova anistia para golpistas de 8 de janeiro
As pesquisas feitas para saber a opinião do povo brasileiro sobre o julgamento de Bolsonaro foram, todas elas, unânimes em registrar que a maioria da população é contra qualquer tipo de anistia que possa livrar da prisão o ex-presidente e os demais criminosos envolvidos nos atentados de 8 de janeiro. No entanto, indiferentes ao que o povo pensa e deseja, nossos parlamentares planejam anistiar todos aqueles que tramaram um golpe de Estado contra a democracia brasileira, inclusive com planos de assassinar o presidente eleito, com o único objetivo de manter no cargo o presidente derrotado nas urnas. Aos envolvidos nessa continuada trama golpista, em nada interessa o que o povo acha ou deixa de achar. Do povo, querem apenas os votos, pois não é a ele que servem, mas ao grande capital e aos interesses do próprio bolso.
E assim, mal se iniciou o julgamento dos líderes do movimento golpista de 8 de janeiro, eis que já surge toda uma movimentação política com vistas a salvar a pele daqueles que cometeram um dos crimes mais vis contra o país e seu povo, a saber, um atentado contra a própria pátria. Como os criminosos do golpe de 1964 nunca foram punidos, mas vergonhosamente anistiados, abriu-se um precedente perigoso para que nenhum outro bandido seja responsabilizado por atacar as instituições e o Estado Democrático de Direito. Os atos terroristas que escandalizaram o mundo em 8 de janeiro não foram um passeio no parque, mas o resultado assustador de uma trama muito bem urdida por sujeitos insatisfeitos com o direito do povo de escolher quem deseja que governe os destinos da nação.
A operação que tinha como objetivo manter o senhor Bolsonaro no poder não logrou êxito. Como resultado das investigações e da montanha de provas delas resultantes, grande parte dos criminosos, a arraia-miúda, foi identificada e presa. “Malucos”, nas palavras do próprio Messias. Entre eles, não se identificou até agora nenhuma velhinha com Bíblia na mão. Por sua vez, os brancos, ricos e poderosos, com seus batalhões de advogados caros, continuam tentando sair impunes daquilo que fizeram no “verão passado”. Como está sendo difícil varrer os esqueletos para debaixo do tapete, mandar os membros da Suprema Corte para a ponta da praia ou jogá-los de aviões em pleno mar, o julgamento segue seu curso, e as expectativas para a horda neofascista não são das melhores. Na pior das hipóteses, 40 anos de cadeia para o líder e uns 30 para os demais ideólogos da trama.
Com a água batendo no cóccix, o braço político da canalha tem tentado de tudo para salvar o Messias e seus asseclas. Fala-se, inclusive, em proposta alternativa à anistia, com o intento de evitar crise entre Legislativo e STF. Ora, ninguém aguenta mais essa ladainha! Assim, falar em anistia ou em “proposta alternativa” para tirar da cadeia ou diminuir as penas da bandidagem que atentou contra o povo brasileiro é, no mínimo, desrespeitoso com esse mesmo povo que trabalha e vive honestamente. É ainda de notória incivilidade para com a memória das 700 mil pessoas mortas pela irresponsabilidade e descaso do então presidente, agora réu. Falar em anistia a essa escumalha é esfaquear o povo brasileiro pelas costas à luz do dia.
Não há nenhum sentido em colocar em discussão no Parlamento qualquer projeto de anistia àquelas pessoas, peixes graúdos, que vilipendiaram a democracia brasileira. Insistir nisso é dizer com todas as letras que o crime compensa, contanto que você seja branco e rico. É dizer que “alguns são mais iguais que outros” e que estes estão acima da lei. Insistir nisso é continuar desrespeitando a Constituição Federal e atacar frontalmente as instituições que a guardam. Diante do descalabro que se vê, o que se percebe é o escárnio amplo, geral e irrestrito, que tem dominado as casas que, em tese, são do povo, mas é a esse povo que seus representantes estão sempre dispostos a virar as costas.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

