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Fernando Lionel Quiroga

É professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), na área de Fundamentos da Educação. Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

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Escola, livros e armas

Creche em Blumenau (SC) onde homem matou 4 crianças (Foto: REUTERS/Vinicius Bretzke)
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I

A onda de ataque às escolas, consequência esperada em face do contexto fascista que se instalou no Brasil desde o Golpe Parlamentar e se intensificou nos abissais anos do desgoverno Bolsonaro,  revela o potencial poder de atuação do lobby da indústria armamentista. Não como indutor direto dos ataques - noção para além de ingênua, desnecessária -, mas como elemento-chave da semântica que retroalimenta o fetiche pelas armas em seus falsos vínculos com noções como as de “liberdade”, “segurança individual”, “poder” etc. Pelo viés ideológico é que a onda de ataques às escolas reencontra o elo com os “Chicago Boys” das armas.  O fenômeno - para além da inegável historicidade, como o massacre de Columbine, em 1999, que, aliás, demanda o esforço coletivo pelo seu não esquecimento - permite uma interpretação alinhada a características do contexto político atual. É inevitável, nesta linha, a correlação entre os ataques às escolas e o lobismo das armas - que desde o contexto da gestão neoliberal de Michel Temer, vem agindo de modo intenso no trânsito das decisões políticas.  

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Tal aproximação tem a ver com a minuta de 01/01/2023 pela gestão do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cujo conteúdo consiste na reestruturação da política de controle de armas no Brasil, objetivando uma maior segurança da população brasileira, especialmente após ampla desregulamentação das políticas de acesso às armas na antiga gestão.

II

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Nesta lógica, para que os governos estaduais coloquem fim ao terror que se espalha nas famílias em detrimento dos ataques às escolas, é necessário que se mantenha no ar uma atmosfera de perene insegurança e medo. Como dito anteriormente, para isso não é preciso de nenhum indutor direto. Bastam os mecanismos já existentes e em plena atividade e expansão, como o aumento exponencial das células neonazistas, os fóruns em formato “chans” - denominação utilizada para conversas sem identificação - frequentes na dark web e deep web - espaços onde tem se planejado os massacres em escolas e ataques a grupos ou indivíduos considerados intoleráveis. Além disso, destaca-se a ampla disseminação simbólica, especialmente por meio de filmes e séries, promovida pelas elites do dinheiro que investem na desmoralização da escola e do papel social do professor. Cito dois, em tom ilustrativo, que servem ao propósito do argumento. São eles: o clássico “Curtindo a vida adoidado”, de 1986 (dir. John Hughes), e sua versão infantil quase-remake em “Capitão cueca: o filme” (David Soren), de 2017 - ambos cobrindo o espaço-tempo de pouco mais de 3 décadas, cujo pano de fundo concentra-se na ridicularização da escola e da “autoridade”, representada pela figura do diretor.  É o conteúdo que ingerimos e digerimos em momentos de lazer e é a herança que transmitimos (ou deixamos), sem nenhuma suspeita que desabone nossa moral, às novas gerações. 

III

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O medo é o recurso primordial da guerra. Produzir e reproduzir a sensação do medo é o que mantém acesa a condição de imobilidade. Como disse Foucault em 1975, durante sua visita ao Brasil no contexto da ditadura: “não dá para lecionar sob o tacão das botas, não dá para falar diante dos muros de prisões, não dá para estudar quando as armas ameaçam”. É o medo, afinal, que vem sendo implantado nas escolas como último conteúdo da guerra híbrida que vem se perpetuando no Brasil. A utilização do medo como estratégia de guerra deve, finalmente, despender esforços no sentido de compreender suas engrenagens geradoras e, uma vez apropriadas, encaradas com todo o rigor da lei. A regulação da internet e da inteligência artificial em toda sua amplitude é essencial nesta direção, pois é ali, e não em espaços físicos, que se multiplicam de modo desenfreado as células neonazistas e se estrutura a desinformação.

O principal risco é o do medo das armas converter-se no último fio de esperança de segurança em face do aumento exponencial da violência. A antinomia livro/armas, presente na polarização entre democracia e barbárie, que balizou o debate das últimas eleições, nesta lógica perversa obriga o livro a se dobrar diante das armas. A mensagem é clara: é o poder da bala quem dá a última palavra. 

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Aos poucos percebemos o padrão deste novo modus operandi da extrema direita: um trabalho que consiste em desmontar políticas que asseguram direitos fundamentais básicos. Trata-se, em outras palavras, da continuidade da guerra contra o novo governo e contra o STF por outros meios, isto é, pelos meios onde os direitos adquirem materialidade, aspecto que abre um alerta sobre outros espaços potencialmente suscetíveis para novas modalidades de ataques.

Como o SUS.

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