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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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Eu não votei nesse Michel Temer. Nem mesmo ele votou

Quando votamos em Dilma (os 54 milhões de brasileiros), votamos num tipo de Programa de Governo – cujo comando do debate desse programa ficou a cargo da própria Dilma e, pasme, do Temer. Ele, Temer levou para as ruas um programa de governo, e hoje, implementa outro completamente distinto do que o vice-Presidente defendia nos debates na Tevê

Michel Temer (Foto: Marconi Moura de Lima Burum)
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Eu não votei nesse Michel Temer. Nem mesmo ele votou

Vivemos atualmente a estúpida discussão de quem votou ou não no presidente Michel Temer. Agrava-se magistralmente quando aqueles que não reconhecem avanços ao País conquistado nos governos do PT e dizem: "Tenho minha consciência tranquila. Não votei em Dilma. Não fui eu em quem botou o Temer lá."

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Trata-se, primeiramente, de um debate raso, sem consistência, sem qualidade. Produto semântico de gente desqualificada que não é capaz de trazer pra si o sentimento de sociedade, de coletividade, portanto, de que devemos juntos buscar soluções aos contrastes que surgem e que diminuem nossa fluidez evolutivo-civilizatória. É, tampouco, a compreensão do que seja o Sistema Político Brasileiro. Todavia, é normal. Em nosso País não se ensina "Política" nas escolas. É comum o analfabetismo político.

Pois bem! Falemos um pouco disso; desse Sistema.

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Vivemos numa sociedade em cujo formato é chamado de "Presidencialismo de Coalizão", ou seja, a Presidência da República, para que haja governo, governabilidade e governança, é fundamental o "rateio" da Administração Pública. Aliás, vamos buscar algo mais íntimo à nossa realidade. Na verdade não é somente o Presidencialismo de Coalizão; é o Governo Estadual de Coalizão; é a Prefeitura de Coalizão.

Obviamente você que está lendo este texto vive em determinado município. Sua cidade agora mesmo em 1° de janeiro trocará o gestor local. Um novo prefeito assumirá o comando das políticas de seu bairro. Certo! Para que este prefeito aprove o aumento da taxa (ruim) de iluminação pública, ou a lei que institui um incentivo fiscal à indústria que vai gerar 5.000 empregos (bom) para seus filhos, esse prefeito precisa negocial (no mal ou no bom sentido) com os vereadores que também você elegeu. Os vereadores que foram eleitos são de vários partidos políticos, tornando ainda mais complexa a negociação, que passa a ser bem mais no "varejo" que no "atacado", ou seja, não se trata de fazer acordos de projetos e políticas públicas comuns à sociedade, entretanto, de atender o cargo ao "dono" do partido "A", ou do "B", muitas vezes o líder de um bairro, ou o pastor de uma igreja que assume pra si essa sigla e, logo, será ele um ator a levar para o prefeito a "lista" dos que desejam cargos na prefeitura.

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Parêntese necessário. As pessoas – normalmente – não votam no vereador pensando nisso. Não pensam se o seu partido está preocupado com políticas públicas. Votam porque é um amigo, vizinho, colega de comunhão na igreja etc. Mas pouco se importam se ele vai entrar nas negociatas com o prefeito. É neste instante que o sacrifício serve a todo o conjunto da população da cidade.

Retomando o debate sobre a Presidência da República. Quando afirmo que não votei em Michel Temer não estou me furtando em assumir minha responsabilidade. Porém, quando votamos em Dilma (os 54 milhões de brasileiros), votamos num tipo de Programa de Governo – cujo comando do debate desse programa ficou a cargo da própria Dilma e, pasme, do Temer. Ele, Temer levou para as ruas um programa de governo, e hoje, implementa outro completamente distinto do que o vice-Presidente defendia nos debates na Tevê. Temer, com isso, não está traindo somente a Dilma, ou o seu eleitor; Temer trai a si mesmo, porque disse as pessoas um projeto e faz outro. Portanto, reafirmo: também eu não votei "nesse" Temer que está aí. Contudo, não quero ser raso em só dizer que não votei; quero discutir pontos de solução do problema.

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O presidente ilegítimo que aí está implementa um projeto que eles do PMDB chamam de a "Ponte Para o Futuro". Em resumo, trata-se de acabar com as chances de teu filho ir fazer o Mestrado na Inglaterra, ou outro país (o Ciências Sem Fronteiras); de reduzir bruscamente os recursos para o pequeno agricultor familiar (o Pronaf); de privatizar o quanto possível as empresas públicas (Petrobras, Caixa Econômica etc.); de mudar a CLT (Leis Trabalhistas), mas para acabar com direitos garantidos há 80 anos; de reduzir investimentos em saúde (SUS) e educação (Fudeb, Prouni etc.) sob a legenda de "menos gastos"; de fazer a Reforma da Previdência, mas que garanta aos marajás de sempre as mesmas regalias, afetando, portanto, somente o trabalhador; e de ajudar os banqueiros a receberem ainda mais por juros e recursos da dívida pública. Ou seja: trata-se de um programa de governo com menos direitos sociais e mais aporte do dinheiro público aos grandes empresários. Mesmo os pequenos empresários não têm espaço para crescer nesse programa que o Temer está executando. E não foi o que ele disse na campanha de 2014; Temer não falou a nenhum comerciante que iria fazer um governo para os ricos e milionários, deixando o pequeno empreendedor a ver navios.

Outro parêntese fundamental. Não fique com essas frases que escrevi acima. Pesquise. Veja nas entrelinhas dos projetos que o Temer manda para o Congresso Nacional. Não tem um projeto que, sinceramente, atenda ao pequeno e médio empresários, ou ao estudante (a não ser a reforma do Ensino Médio que é um atraso sem precedentes), ou que ajude o trabalhador. A classe média e os mais pobres, esqueçam: não terão espaço na Agenda Política de Temer.

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Parêntese três. Posso ir mais a fundo? Havia quantos candidatos em 2014 com reais chances de vencer a eleição? Era Dilma, Aécio e Marina Silva. Mesmo o Aécio, de um partido conhecido como Neoliberal (menos Estado; mais livre iniciativa), mesmo ele foi "discreto" em seu programa de governo para não assustar a classe média e os mais pobres. A ideologia do PSDB é mais conservadora na economia que o PMDB e, o Temer está conseguindo ir ao fundo do poço da retração governamental em favor das grandes elites e em detrimento da maioria esmagadora da população.

De síntese, para que saibamos realmente o que ocorre no sistema político do Brasil, não há, pela Constituição Federal como separar o vice da chapa principal. Não podemos votar num candidato a Governador e num vice separadamente. Da mesma forma, o programa de governo.

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Quando você vota no Prefeito, vota também naquilo que ele leva para as ruas, entrega na feira, ou na porta da igreja e das escolas: seu projeto para o Município. E, para piorar: quando você escolhe deputados federais calhordas e senadores sem escrúpulo, ao invés de fiscalizar o dinheiro público e de vigiar o Presidente a saber como ele está implementando as políticas públicas para o povo, esses parlamentares que votamos normalmente impõem ao governante uma negociação de cargos e propinas para que sejam aprovados os projetos. E nós, que votamos inocentemente pensando que a Cidade, o Estado e o País iriam melhorar, tendemos ver nossas vidas no sacrifício nosso e de nossas famílias, de sua qualidade de vida.

Mas isso tudo que falei acima – e nossa reflexão – servirá para que votemos melhor da próxima vez. E somente aceitemos um candidato em que seu vice e os deputados a seu lado demonstrem sinceridade, vontade de governar com justiça social, e que não sejam traidores do povo como estes que aí estão: Temer e sua tropa de choque no Congresso Nacional.

Finalmente, temos o direito de dizer que não votamos nesses caras, porém, temos a obrigação de produzir uma nova Pedagogia Civilizatória, ou seja, de fazermos a nossa parte para instruirmo-nos mutuamente até que vejamos uma nova sociedade e uma nova política – representativa.

Aprenderemos, tenho fé...

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