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Luis Mauro Filho

Luis Mauro Filho é jornalista, formado em Estudos de Mídia pela Universidade do Wisconsin, e é editor do Brasil 247.

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Fãs celebram Lô Borges com cantoria nas ruas e despedida em BH

Multidão se reúne na esquina de Santa Tereza e no Palácio das Artes para homenagear o músico, símbolo do Clube da Esquina

Fãs celebram Lô Borges com cantoria nas ruas e despedida em BH (Foto: Reprodução/X)

Belo Horizonte viveu momentos de celebração e despedida de um dos seus maiores artistas: o músico Lô Borges, nome histórico da música brasileira, que faleceu na manhã desta segunda-feira (3), na capital mineira. Locais icônicos como o bairro de Santa Tereza e o Palácio das Artes, no centro da cidade, foram palco de homenagens marcantes nos últimos dois dias.

No fim da tarde de ontem, a esquina das ruas Paraisópolis e Divinópolis — epicentro da cena musical que daria origem aos discos de Milton Nascimento, do Clube da Esquina e de tantos outros artistas belo-horizontinos — foi tomada por fãs, familiares e vizinhos do bairro.

A celebração se estendeu noite adentro, lotou o famoso cruzamento e contou com apresentações de nomes que marcaram a vida cultural da capital mineira. Estavam lá Toninho Horta, lendário guitarrista, e outros integrantes da família Borges, como Márcio, seis anos mais velho que Lô e parceiro histórico da obra de Milton Nascimento.

Em um vídeo que circulou nas redes sociais, Márcio é visto sendo recebido no palco improvisado, montado no meio da rua, com certa dificuldade de locomoção — natural para seus 79 anos — enquanto músicos e uma plateia emocionada entoavam O Trem Azul, grande sucesso de Lô no álbum Clube da Esquina, de 1972, que o consagrou na música brasileira.

Já nesta terça-feira, a população de Belo Horizonte pôde se despedir do artista em um velório realizado no Palácio das Artes, na avenida Afonso Pena. Fãs formaram uma longa fila que se manteve cheia da manhã até o meio da tarde. Houve apresentações de corais e grupos musicais que reinterpretaram diversos sucessos da carreira do músico.

Músicos, jornalistas, políticos e outras personalidades mineiras também compareceram para prestar homenagens e confortar os familiares. Samuel Rosa, ex-vocalista do Skank, exaltou a influência de Lô em sua trajetória. “Olhando o Lô e a música que ele produziu, eu tinha certeza de que era possível fazer boa música nascida em Belo Horizonte, e não necessariamente em Liverpool”, afirmou.

Ele também expressou a emoção de ter dividido composições e turnês com o ídolo de infância. “A gente aproveitou um do outro no melhor sentido. Ele virou um mestre pra mim, e foi um orgulho imenso dividir o palco com alguém que assinou, junto com Milton Nascimento, aquele que muitos consideram o melhor disco da música brasileira de todos os tempos.”

Milton Nascimento, de 82 anos, não esteve presente no velório e ainda não sabe do falecimento de seu companheiro e amigo. Em outubro, seu filho, Augusto Nascimento, anunciou que o artista mineiro foi diagnosticado com demência por corpos de Lewy. O cantor já havia recebido diagnóstico de Parkinson em 2022, e seu estado de saúde fragilizado motivou familiares a divulgarem a notícia da perda ao artista no próximo sábado, durante uma consulta de rotina acompanhada por um médico.

Lelo Zanetti, ex-baixista do Skank, destacou ao 247 a importância de Lô na história da banda, da música mineira e da cultura nacional. “O Lô é nosso querido, acima de tudo uma pessoa boa, que trouxe um legado de música junto com o Clube da Esquina, com Milton, Beto Guedes, Toninho Horta, letristas como Fernando Brant, Marcinho Borges, Ronaldo Bastos e tantos outros. O Skank teve a grande oportunidade de conviver e compartilhar a música Dois Rios [de autoria de Lô, Samuel Rosa e Nando 

Reis].”

Yé Borges, irmão mais novo de Lô, lamentou sua partida precoce, e ressaltou que  o músico tinha planos constantes para novos projetos. "Como diz Marcinho [Borges], 'sonhos não envelhecem'. Ele tinha sempre um sonho novo. Ele já tinha muitos discos feitos e não parava de produzir”, afirmou.

O enterro de Lô Borges foi reservado a familiares e amigos próximos, sem a presença do público. Ele deixa uma obra com 25 álbuns, entre gravações de estúdio e ao vivo, e uma legião de fãs enlutados.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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