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Carla Teixeira

Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho Editorial da Revista Temporalidades - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

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“Fogo nos racistas”

(Foto: Guilherme Gonçalves/FotosPublicas)
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O Brasil foi o último país a abolir a escravidão. Ao fazê-la, não incorporou os libertos à vida social, ao contrário, suas práticas e manifestações culturais foram marginalizadas. Os pretos livres e seus descendentes não tiveram acesso à saúde, educação e infraestrutura. Com isso, foram impedidos de assumir postos de trabalhos destacados ou mesmo de ingressar no serviço público, o que garantiu, por meio da imigração europeia, a formação de uma classe média branca e a manutenção das condições de trabalho servil e subumano para os pretos.

O mito da democracia racial no Brasil construiu uma ideia de ausência de preconceito que naturalizou a discriminação e tornou-a uma tradição. O “mito” mantém a estrutura e permite que o preconceito seja utilizado, pelos brancos, como instrumento contra os pretos. É por meio dele, por exemplo, que o vice-presidente sente-se à vontade para afirmar que “não há racismo no Brasil”, ao comentar o caso do assassinato de João Alberto Silveira Freitas, um homem preto de 40 anos, espancado até a morte por dois seguranças brancos de uma loja do Carrefour1. Para Mourão, o racismo no Brasil é uma coisa importada dos EUA (constantemente utilizado como exemplo de conflito racial por aqueles que querem ocultá-lo em nosso país).

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Com isso, ao brasileiro cabe o fundamental preconceito de não ser preconceituoso. Em 1988, no centenário da abolição, uma pesquisa mostrou que 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito. Ao serem questionados se conheciam pessoas e situações que revelavam a discriminação racial, 98% responderam que sim2. Fica a questão: somos ilhas de democracia racial cercadas de racistas ou somos racistas incapazes de enxergar o traço de violência social que afeta a nossa subjetividade e, portanto, condiciona nossas ações pessoais pautadas no preconceito de cor e raça?  

O “Atlas da Violência 2019”3mostrou que de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são pretas. As mulheres são as principais vítimas. A taxa de homicídio de mulheres pretas cresceu 60,5% entre 2007 e 2017. O desemprego e o trabalho informal atinge mais pretos do que brancos. Mesmo estudando mais e tendo mais qualificação, os primeiros ganham menos do que os segundos exercendo a mesma função.

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O racismo sustenta-se na violência secular que beneficia brancos e pune os pretos. Ser racista, portanto, significa estimular essa violência. Não há como isso prosperar. E que não se confunda a reação do oprimido com a violência do opressor. Que sejamos honestamente capazes de praticar, ainda que na intimidade, a autocrítica em relação às nossas intenções, pensamentos, ações e práticas, sem dar espaço para o preconceito, incorporando a luta antirracista como um traço de caráter. Se em larga escala isso parece uma utopia, ao indivíduo constitui uma importante ferramenta de desconstrução, crescimento e autoconhecimento. Aos que insistem na barbárie do preconceito, tomo emprestado do Djonga, com toda humildade, a máxima “Fogo nos racistas”. Não gostou da frase? É só não ser racista que tudo vai ficar bem.

E o mundo vai ficar melhor.

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  1 https://www.brasil247.com/brasil/apos-assassinato-no-carrefour-de-porto-alegre-mourao-nega-racismo

  2 https://revistapesquisa.fapesp.br/quase-pretos-quase-brancos/

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  3 https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/download/19/atlas-da-violencia-2019

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