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      Sara York

      Sara Wagner York ou Sara Wagner Pimenta Gonçalves Júnior é bacharel em Jornalismo, licenciada em Letras Inglês, Pedagogia e Letras vernáculas. Especialista em educação, gênero e sexualidade, primeiro trabalho acadêmico sobre as cotas trans realizado no mestrado e doutoranda em Educação (UERJ) com bolsa CAPES, além de pai, avó. Reconhecida como a primeira trans a ancorar no jornalismo brasileiro pela TVBrasil247.

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      Francisco e a comunidade LGBTI

      "Que venha um conclave e que seja esperançoso como Hollywood nos mostrou nos cinemas!"

      Papa Francisco no Vaticano 1/2/2025 (Foto: REUTERS/Ciro De Luca)

      O papado de Francisco, o primeiro jesuíta e o primeiro latino-americano a liderar a Igreja Católica, foi marcado por um tom mais compassivo em relação à comunidade LGBTI+, mas também por contradições que revelaram os limites institucionais da Igreja frente às demandas por igualdade. Seus gestos de acolhimento, muitas vezes pessoais e simbólicos, frequentemente esbarraram na rigidez doutrinária e geraram embates tanto com setores conservadores quanto com defensores dos direitos LGBTI+.

      Logo no início de seu pontificado, em 2013, Francisco declarou ao ser questionado sobre padres homossexuais: “Quem sou eu para julgar?”. A frase foi recebida como um sinal de mudança no tom pastoral, embora não tenha representado qualquer alteração doutrinária sobre a condenação dos atos homoafetivos.

      Em 2020, o Papa manifestou apoio à proteção legal de casais do mesmo sexo por meio de uniões civis, afirmando que todos devem ter direito a uma família. O gesto, apesar de interpretado como progressista, não mudou a doutrina do matrimônio católico, exclusivo entre homem e mulher, e gerou novas tensões tanto com grupos conservadores quanto com ativistas LGBTI+, que esperavam um reconhecimento mais amplo.

      Em 2021, a Santa Sé reafirmou sua postura ao proibir oficialmente a bênção de uniões homoafetivas, argumentando que “Deus não pode abençoar o pecado”. A decisão foi recebida com indignação por padres, fiéis e organizações inclusivas, que viram no texto um retrocesso e uma agressão à dignidade de pessoas LGBTI+.

      Já em 2023, o Vaticano publicou o documento Fiducia Supplicans, que permitiu que padres oferecessem bênçãos informais a casais do mesmo sexo, desde que estas não fossem confundidas com bênçãos nupciais. A medida foi considerada insuficiente pelos defensores dos direitos LGBTI+ e provocou resistência dentro da própria Igreja, especialmente entre bispos conservadores.

      Outro ponto de atrito recorrente foram suas críticas à chamada “ideologia de gênero”, termo que Francisco usou em várias ocasiões para se referir ao que considera uma ameaça à identidade humana e à família tradicional. Suas declarações sobre o tema foram vistas como ofensivas por pessoas trans e travestis, apesar de o Papa ter mantido uma postura pastoral mais acolhedora em encontros privados com pessoas trans e suas famílias.

      Entre os paradoxos, Francisco também ficou conhecido por encontros discretos e afetivos com católicos LGBTI+, travestis e transgêneros, a quem dedicava palavras de conforto e incentivo, evidenciando que sua visão pessoal parecia caminhar mais adiante do que a estrutura que liderava permitia formalizar.

      Francisco deixa um legado de gestos que tentaram suavizar a relação entre a Igreja e a diversidade sexual e de gênero, mas também de impasses não resolvidos que ilustram as tensões entre tradição e transformação dentro do catolicismo.

      Que venha um conclave e que seja esperançoso como Hollywood nos mostrou nos cinemas! 

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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