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Sara York

Sara Wagner York (também conhecida como Sara Wagner Pimenta Gonçalves Júnior) é bacharel em Jornalismo, doutora em Educação, licenciada em Letras – Inglês, Pedagogia e Letras Vernáculas. É especialista em Educação, Gênero e Sexualidade, autora do primeiro trabalho acadêmico sobre cotas para pessoas trans no Brasil, desenvolvido em seu mestrado. Pai e avó, é reconhecida como a primeira mulher trans a ancorar no jornalismo brasileiro, pela TV 247

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Greve das Redes marca resistência contra o avanço dopaminético das redes sociais

Blecaute digital em protesto nasceu das discussões em torno da série documental Adolescência

Greve das Redes marca resistência contra o avanço dopaminético das redes sociais

Na próxima segunda-feira, 21 de abril de 2025, está marcada a Greve das Redes -- um movimento nacional e orgânico que propõe um verdadeiro blecaute digital em protesto contra a irresponsabilidade das plataformas de redes sociais frente ao crescimento de conteúdos perigosos e desafios virais que colocam em risco a vida de crianças e adolescentes.

A ideia do movimento não surgiu por acaso: nasceu das discussões em torno da série documental Adolescência, que lançou luz sobre os impactos profundos que o uso excessivo das redes sociais provoca em jovens e crianças - da ansiedade ao isolamento, da depressão ao adoecimento emocional. Antes mesmo do novo crime cibernético que chocou o país, envolvendo a morte de uma menina de 8 anos no Distrito Federal, essa pauta já pulsava como urgente. A morte teria ocorrido após a menina ter inalado desodorante em mais um episódio do chamado "desafio do desodorante" popularizado nas redes. O caso, noticiado amplamente pela imprensa, mobilizou pais, professores e estudantes, que vêm homenageando a menina e exigindo responsabilização das plataformas digitais.

A Greve das Redes foi proposta a partir do artigo de Vera Iaconelli, que em parceria com o designer Pedro Inoue iniciou o movimento. 

"Foi a partir dessa reflexão que Pedro Inoue e eu, Vera Iaconelli, nos unimos para articular as primeiras postagens e impulsionar o debate que acabou tomando forma como o movimento Greve das Redes", Disse Vera Iaconelli. 

Apesar do simbolismo potente, o movimento já nasce cercado de críticas e apontado por muitos como uma iniciativa flopada - e não sem razão. Afinal, milhões de pessoas dependem das redes sociais para trabalhar, vender, se comunicar e manter suas rotinas financeiras. No entanto, mesmo que haja pouca aderência e adesões práticas, o gesto não perde sua força: ele marca um ponto de virada na reflexão sobre o avanço dopaminético - esse fenômeno silencioso que sequestra nossa atenção e nos engole diariamente, através de estímulos incessantes, recompensas imediatas e controle algorítmico.

A Greve das Redes conta também com o apoio de iniciativas como o Sleeping Giants Brasil, o Instituto Alana e a campanha Internet Legal, que reforçam a necessidade urgente de uma responsabilização das plataformas, que lucram sobre o sofrimento, o sensacionalismo e a manipulação emocional de seus usuários que priorizam engajamento a qualquer custo, mesmo que isso custe vidas.

Mesmo que o gesto de "desconectar" pareça pequeno ou apenas simbólico diante da estrutura massiva dessas empresas, ele representa um primeiro passo rumo a uma conversa mais séria sobre o que significa viver sob o domínio de plataformas que colonizam não apenas o nosso tempo, mas também os nossos afetos.

P.S.: Aliás, me incluam, por favor, nas histórias flopadas - faço absoluta questão de estar ao lado dos flopados, dos perdidos e dos fracassados deste tempo, afinal sabemos quem são os vencedores e como agem para estar onde estão.

Não, obrigada! 

Eu sigo andando como aprendi com minha avó: devagar. Porque é assim, passo a passo, que se chega longe - e, quem sabe, com alguma saúde, e no dia 21, segunda-feira, bem longe das redes sociais! 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.