CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
blog

Há 118 anos, o Maranhão viveu a tragédia sangrenta da violência entre brancos e índios

Neste 13 de março, exatamente há 118 anos, o país assistiu a uma das mais traumáticas histórias do indigenismo brasileiro. Conhecido como o Massacre de Alto Alegre, o episódio teve como personagens o cacique João Caboré – o Caoré Imana, ou simplesmente Cauiré, como era chamado por sua gente – e Perpétua dos Reis Moreira, estudante em regime de internato no Instituto da Missão de São José da Providência

Há 118 anos, o Maranhão viveu a tragédia sangrenta da violência entre brancos e índios
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Índios guajajaras que participaram do massacre posam em frente ao convento de Alto Alegre, em 1900, meses antes do sangrento episódio. (Crédito: Frei Mathias de Bergamo)

Neste 13 de março, exatamente há 118 anos, o país assistiu a uma das mais traumáticas histórias do indigenismo brasileiro. Conhecido como o Massacre de Alto Alegre, o episódio teve como personagens o cacique João Caboré – o Caoré Imana, ou simplesmente Cauiré, como era chamado por sua gente – e Perpétua dos Reis Moreira, estudante em regime de internato no Instituto da Missão de São José da Providência.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Na época, Perpetinha foi sequestrada por um bravo índio. Os fatos que se sucederam resultaram na morte de 13 frades e freiras italianos em Alto Alegre, no município de Barra do Corda (MA). Pelo menos 200 pessoas morreram no confronto. O caso ocorreu na madrugada de 13 de março de 1901.

Os índios venceram a batalha contra brancos, deixando um rastro de violência. Um episódio sangrento que marcou a luta dos povos indígenas pela sua herança cultural. Por cerca de 20 anos a desconfiança e o desconforto reinariam ainda entre brancos e índios por causa do massacre. Até hoje, em pleno século 21, os fatos têm cores fantásticas.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

O episódio ganhou as páginas do livro "Cauiré Imana, o cacique rebelde", escrito por Olímpio Cruz, meu avô. Ele acreditava que, depois de Antonio Conselheiro, em Canudos (BA), a revolta comandada pelo índio Cauiré, no Maranhão, seja um dos grandes destaques entre os movimentos nativistas brasileiros. O caso é especial porque a revolta dos índios ganhou cores mitológicas, permanecendo amalgamada de misticismo e idéias de liberdade.

Mesmo após cem anos da tragédia, a história permanece no imaginário indígena. A trágica morte de frades e freiras foi resultado direto de uma inábil e apressada catequese de missionários estrangeiros. Apesar de bem intencionados, os religiosos desconheciam usos e costumes dos índios. O choque de civilizações foi fatal.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Na primeira edição do livro, publicado em 1982, o próprio Olímpio dizia que sua obra tinha a pretensão de jogar um pouco de luz aos fatos, fornecendo subsídios aos antropólogos e outros cientistas sociais que estudam a causa do índio brasileiro. O esforço dele começou ainda no final dos anos 50 do século 20.

Ao longo de décadas, o poeta e escritor foi reunindo material e farta documentação, fruto de exaustivas pesquisas realizadas por cidades do interior maranhense. Entre os anos 50 e 60, ele percorreu diversas aldeias Guajajara – algumas hoje inexistentes. O trabalho também foi enriquecido com conversas e entrevistas com alguns daqueles que viveram a história.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Em conversas com o velho escritor, até mesmo os poucos índios que sobreviveram aos acontecimentos puxaram da memória o que sabiam do que acontecera no povoado. Isso na era pré-internet, em que documentos e relatos eram muito mais difíceis de serem colhidos. O livro ganhou reedição em 2015 e está disponível na Amazon.

"Cauiré Imana" foi apresentado por Olímpio Cruz como uma reportagem-documento, sem pretensão alguma de ganhar as características típicas de um romance. Além das crenças, usos e costumes dos Guajajaras, o livro aponta algumas causas que, para os índios, justificariam o massacre. O desfecho trágico foi resultado de um violento choque entre mundos distanciados culturalmente por séculos.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

De acordo com o antropólogo Júlio César Melatti, que prefaciou o livro O índio na história. A saga do povo Tenetehara, em busca da liberdade, escrito pelo ex-presidente da Funai Mércio Pereira Gomes, a missão religiosa mantinha "uma orientação obsoleta, mesmo para sua época".

Hoje, quando os índios brasileiros enfrentam um governo hostil à luta pela demarcação de terras, o Massacre de Alto Alegre é a memória viva de que o desrespeito aos direitos humanos pode resultar em conflito armado e uma tragédia social. Triste o país que esquece sua gente e sua história.

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Carregando os comentários...
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO

Cortes 247

CONTINUA APÓS O ANÚNCIO
CONTINUA APÓS O ANÚNCIO