Histórias do Joãozinho "pavio curto"
Uma anedota política saborosa que mistura militância, memória histórica e o humor peculiar de Jânio Quadros nos bastidores do poder
Recebi lá no escritório um dos mais queridos e importantes militantes comunistas do estado de São Paulo. Não vou dizer o nome dele, vou chamá-lo de “Joãozinho Pavio Curto”.
Joãozinho se apresenta como simpático ao maoísmo...
Para quem não sabe, o comunismo tem várias orientações, ou correntes: há o comunismo que se denomina “marxista-leninista”, do meu querido amigo Lejeune Mirhan, uma das mais influentes, baseada nas ideias de Marx e Engels, interpretadas por Lênin; há o, pouco comentado, “marxismo libertário”, que se opõe a qualquer forma de autoridade estatal; há o “maoísmo”, corrente da qual o Joãozinho é simpático, que é, na realidade, uma adaptação do marxismo-leninismo feita por Mao Tsé-Tung, que enfatiza o papel dos camponeses na revolução e a importância da guerra popular de guerrilha para alcançar o poder; há a “social-democracia” — onde estão situados o PT, PSB, PSOL, PDT, REDE e PCdoB —, que busca a igualdade social e econômica por meio de reformas dentro do sistema democrático e capitalista, sem necessariamente defender a revolução armada, buscando as mudanças por meio de eleições, leis e programas sociais; e há o “trotskismo”, desenvolvido por Leon Trótski, vertente do marxismo que defende a revolução permanente em nível internacional, sendo corrente crítica às políticas de Stalin.
Se expliquei mal, o que é bem possível, o Lejeune poderá fazer as correções necessárias, mas voltemos ao Joãozinho Pavio Curto, que me contou uma história deliciosa.
Vamos a ela.
Joãozinho Pavio Curto me contou que, no início dos anos 1970, ele teria organizado uma visita de personalidades da política campineira ao ex-presidente Jânio Quadros, em sua residência no Guarujá, no luxuoso Jardim Acapulco, um condomínio fechado na Praia de Pernambuco, onde ele passava férias e recebia visitas, um local conhecido para encontros e refúgio do ex-presidente. As personalidades que lá estiveram foram: o então prefeito Lauro Péricles, o então deputado federal Francisco Amaral e o então deputado estadual Natal Gale.
Conheci cada um dos personagens acima citados, exceto Jânio; com Lauro convivi nas assembleias da SANASA, ele era acionista e eu conselheiro; Natal Gale era cliente do meu tio Isolino Siqueira; e Chico Amaral, amigo do meu avô Pedro, foi um dos grandes campineiros, talvez um dos maiores.
Segundo Joãozinho, foram bem recebidos por Jânio e Dona Eloá Quadros.
Uma curiosidade: Dona Eloá conheceu Jânio no Guarujá, tendo mais tarde confessado que sua primeira impressão foi marcada por sua aparência singular. Ela teria dito: “Eu jamais conhecera um homem tão feio quanto Jânio”, segundo o “Banco de Dados da Folha – Acervo de Jornais”, almanaque.folha.uol.com.br.
Lá pelas tantas, o Lauro, repita-se, então prefeito, discretamente pediu que o Joãozinho solicitasse ao ex-presidente um encontro privado “íntimo”; Jânio teria ouvido e, pedindo licença aos demais, convidou o prefeito a acompanhá-lo. Passaram-se os primeiros minutos, a primeira hora, hora e meia, e Jânio e Lauro não voltavam. Chico teria ficado curioso e, sem muita cerimônia, foi procurá-los e voltou decepcionado após não os encontrar; foi à biblioteca, à sala de estar e ao escritório do ex-presidente, mas eles não estavam lá.
Passadas pouco mais de duas horas, Jânio e Lauro voltaram ao convívio dos demais, e Chico Amaral, não se contendo, perguntou: “Onde os senhores estavam? Nós os procuramos...”; Jânio, em tom de galhofa, se antecipou e respondeu: “O prefeito queria um momento de intimidade, então eu o levei ao quarto, meu e de Eloá, deitei na cama e o prefeito sentou-se na poltrona de Eloá, onde ela faz suas leituras ou seu tricô; respondi a todas as suas perguntas... Enfim, depois de Eloá, apenas o prefeito Lauro gozou de tanta intimidade”, gargalhando em seguida... Todos riram muito, até mesmo Lauro, embora, no caso dele, tenha sido um riso amarelo.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

