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Sara York

Sara Wagner York (também conhecida como Sara Wagner Pimenta Gonçalves Júnior) é bacharel em Jornalismo, doutora em Educação, licenciada em Letras – Inglês, Pedagogia e Letras Vernáculas. É especialista em Educação, Gênero e Sexualidade, autora do primeiro trabalho acadêmico sobre cotas para pessoas trans no Brasil, desenvolvido em seu mestrado. Pai e avó, é reconhecida como a primeira mulher trans a ancorar no jornalismo brasileiro, pela TV 247

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Inspirado em "Anora", Kim Kataguiri quer surfar sobre prostitutas!

Kim Kataguiri (União-SP) apresentou na ultima sexta-feir um projeto de lei que visa criminalizar a prostituição nas vias públicas

Kim Kataguiri (Foto: Antonio Cruz/ABr)

Os recentes escândalos envolvendo líderes religiosos e figuras políticas ressaltam a complexidade da moralidade pública e a fragilidade das imagens construídas em torno de autoridade e ética. No Brasil, a imagem de moralidade de certos líderes religiosos foi profundamente abalada por comportamentos ilícitos que contrastam com os princípios que pregam. Casos como o do Pastor Marcos Pereira, da Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias, que foi acusado de abuso sexual e exploração de prostituição, ou do Padre Robson de Oliveira, investigado por desvio de verbas, mostram como as falhas humanas podem colidir com as expectativas que a sociedade tem sobre figuras de autoridade religiosa. Mesmo o Bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus, enfrentou controvérsias envolvendo corrupção e outros escândalos financeiros, apesar de sua posição de liderança.

Esses episódios não apenas revelam a complexidade da relação entre moralidade e poder, mas também questionam a sustentabilidade das imagens de virtude construídas por essas figuras públicas. Quando líderes religiosos, que deveriam ser exemplares em sua conduta, se envolvem em comportamentos ilícitos, a sociedade é forçada a confrontar as contradições entre suas ações e os valores que promovem.

Esse tipo de escândalo, embora grave, não é exclusividade do Brasil. O caso de Eliot Spitzer, ex-governador de Nova York, ilustra como a fragilidade da moralidade pública pode atingir figuras políticas. Spitzer, conhecido por suas duras políticas contra a prostituição, teve sua carreira política desmoronada quando foi flagrado frequentando uma rede de prostituição de luxo. A revelação desse escândalo, que contradizia diretamente suas próprias políticas, culminou em sua renúncia ao cargo de governador, mostrando como figuras públicas, sejam religiosas ou políticas, podem cair em desgraça quando suas falhas privadas vêm à tona.

Recentemente, o deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) apresentou na ultima sexta (07.03.2025) um projeto de lei que visa criminalizar a prostituição nas vias públicas.A proposta, que prevê prisão ou multa para profissionais do sexo flagrados se prostituindo nas ruas, reacendeu o debate sobre moralidade e os direitos das pessoas envolvidas nessa profissão.

Esses casos demonstram que a linha entre a autoridade moral e as falhas humanas é tênue e frequentemente exposta em momentos de crise. Estima-se que a maior parte das pessoas trans ainda recorra à prostituição como meio de subsistência, e não há medidas claras sendo apresentadas por deputados para apoiar essa população. Seja no contexto religioso, político ou legislativo, a sociedade parece constantemente reavaliar o papel dessas figuras, que, apesar de representarem a ética e a moralidade, são igualmente vulneráveis aos erros humanos.

Recentemente, o Governo Federal, por meio do Ministério dos Direitos Humanos e das secretarias municipais, apresentou uma casa de acolhimento para pessoas LGBTI+ na cidade do Rio de Janeiro, com a curadoria da ativista Indianara Siqueira. No entanto, a pergunta que permanece é: quem mais está oferecendo suporte? Se um filho LGBTI+ é colocado para fora de casa em sua cidade, a quem você recorre?

Em suas propostas de apoio à comunidade LGBTI+, a ativista Indianarae Siqueira explicou, em reuniões realizadas com o governo, que as maiores violações contra essa população geralmente ocorrem à noite e nos finais de semana, quando a comunidade se diverte, mas não há órgãos públicos disponíveis para acolher denúncias sobre  violações de direitos da comunidade lgbtqiapn+. Como solução, ela sugeriu a abertura de um centro comunitário de cidadania LGBT, com funcionamento nos horários em que o apoio é mais necessário. A ideia foi aprovada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro através do Programa Rio Sem LGBTIFOBIA RJ , resultando na transformação da Casa Nem que existe desde 2016 como  um centro estadual comunitário de  cidadania LGBT+ de atendimento noturno de 22h às 5h e final de semana de quarta a domingo.

Além disso, o governo federal, após discussões da Rebraca Lgbtqiapn+ com a Secretaria Nacional de Direitos LGBTI+, Symmy Larrat, aprovou o projeto Acolher+, destinado a apoiar casas de acolhimento para pessoas LGBTQIAPN+. A verba alocada para o projeto foi de R$ 1,4 milhão, dividida entre 12 casas de acolhimento, com duração de um ano e possibilidade de prorrogação por mais seis meses.

Essas iniciativas trazem um alívio para uma população que ainda enfrenta discriminação, violência e a falta de acolhimento adequado em muitos espaços. Porém, os desafios ainda são grandes, e a necessidade de políticas públicas inclusivas e eficazes continua a ser uma urgência.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.