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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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Marina e o maior ponto de interrogação da história do Brasil

Outra interrogação que se alinhava à “nova” Marina é que tipo de governo ela conseguirá fazer com tantos antagônicos em sua equipe? Marina deseja governar com Neca Setúbal, dona do Banco Itaú, e com alguns ex-aliados seus do PT (Marina era do PT)

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Ao que tudo indica, Marina deve mesmo vencer a eleição presidencial. Ao menos do candidato Aécio Neves. E, quem sabe, da própria Presidenta Dilma Rousseff no segundo turno, como dizem as pesquisas. Mas quem é [era] a Marina? Essa é a grande dúvida que vem alicerçada por outras inúmeras interrogações que passaremos a pensar neste discreto texto.

A discípula revolucionária de Chico Mendes e da Amazônia, com ardores messiânicos e o discurso sempre altivo da “ética”, da “moral” e da “nova política”, Marina Silva inicia sua carreira como sindicalista, nos seringais do Acre, onde desenvolveu, por força das condições de trabalho e da pobreza, inúmeras doenças, como a malária. Resistente, em 1988 vence a eleição para vereadora, até chegar ao Senado da República e ser convidada pelo então companheiro e amigo, Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente, para ser sua Ministra do Meio Ambiente. Marina sempre defendeu a proteção ao ecossistema e as causas ambientais – ao menos até a última pesquisa IBOPE para Presidente, onde passou a residir entre a casa dos 20 e 30 pontos percentuais.

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Na tentativa de prover ao povo brasileiro uma tese de “nova política”, Marina tenta até setembro de 2013 fundar a Rede Sustentabilidade, partido político que abrigaria – ao menos em tese – somente “iguais”, ou seja, pessoas que de sincero coração desejassem ir contra o sistema político estabelecido. Não conseguindo o número de assinaturas para o pleito, Marina começa neste instante a sua primeira grande contradição: filia-se ao PSB e se alia um conjunto enorme de homens e mulheres que fazem e reforçam a “velha política”, obviamente, tendo também de pessoas sérias e comprometidas com o País, embora em menor quantidade.

Até aqui todos os brasileiros sabem da história. A incógnita transitará no “depois daqui”. Marina participou do Debate da Band no último dia 26 e, como a maior parte do povo mais atento, não pude deixar de reparar que vestia a candidata a “carapuça” dos políticos tradicionais a fim de confirmar sua eleição e não correr riscos. Duas mudanças sintomáticas e não menos importantes: i) Marina fez a sobrancelha, vestiu-se de uma maquiagem intensa e “bem apresentada” – estava configurada a mudança física; e ii) Marina citou em 3 horas de debate – em frases periféricas – o Meio Ambiente no máximo 3 vezes, “perdendo” até para o Aécio Neves, que dialogou mais que a candidata sobre Desenvolvimento Sustentável – estava configurada a mudança ideológica.

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Eu entendo a Marina. Não se ganha “pra Presidente” se se fizer os “mesmos” discursos; se se aliar às “mesmas” pessoas de antes. É necessário inovar. É fundamental trazer para perto de si alianças e políticos da “velha guarda”, aqueles que já “sabem o caminho das pedras”. Direita, esquerda, centro: tudo Marina colocou em seu pacote eleitoral. Até lembranças mais progressistas, como direitos à comunidade LGBT, pressionada por setores que “decidem a eleição”, como os evangélicos, fazem Marina marginalizar seu Plano de Governo. Tudo em nome da “velha política” que é a única que pode conduzir – em meio a um sistema anacrônico como o brasileiro – um cidadão ao posto mais alto da República. Aliás, aos mais baixos também. Afinal, trata-se da política brasileira, sempre arcaica e sempre a mesma.

Como dissera antes: o objetivo deste texto não é pontuar o voto “contra” Marina. É antes e, sobretudo, pensar as interrogações em sua volta. É percebido que Marina já faz a “velha política” a fim de vencer as eleições. Terá ela forças pra fazer a “nova política” no comando do País, se chegar lá? Ou será somente mais um bom discurso “pra torcida”, a demagogia tradicional? Se pudesse aconselhá-la diria que, se seu desejo não for o de ser vista como a maior decepção da história, deve ela parar de fazer este discurso e compreender de vez que não dá – ainda – pra fazer “nova política” com velhos costumes.

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Outra interrogação que se alinhava à “nova” Marina é que tipo de governo ela conseguirá fazer com tantos antagônicos em sua equipe? Marina deseja governar com Neca Setúbal, dona do Banco Itaú, e com alguns ex-aliados seus do PT (Marina era do PT). É bom lembrar que o Itaú é uma das maiores empresas sonegadoras de impostos e que, antes de proteger seus funcionários, os trabalhadores, preferirá cuidar de seus executivos, os poderosos do mercado econômico. Por falar em mercado econômico, inúmeros pensadores do PSBD, como André Lara Resende, um dos criadores do Plano Real, também é membro-convidado a compor a nova conjuntura político-eleitoral em curso, com viés de novo governo, com velhos projetos.

Quando se percebe um tipo de arranjo desses é impossível escapar à dúvida: será Marina capaz de empreender a continuação das políticas sociais e a proteção aos menos favorecidos? Haverá arrocho salarial? Se a briga for fratricida entre os ambientalistas e o agronegócio, Marina penderá mais para que lado? Em tempos de crise, qual lado da corda ficará mais seguro: o trabalhador ou o grande proprietário-capital? Como se “cortará na carne” nacional nos eventos de “vacas magras” na economia globalizada?

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Ainda sobre o “antes” e o “depois” da eleição-2014, perguntamos: e os BRICS, o Mercosul, os países africanos: continuaremos a ter esse foco de reordenamento geopolítico, ou retrocederemos à submissão primordial estadunidense (EUA) e europeia? (Deixemos claro que não se quer a ruptura com os mercados estratégicos e tradicionais para o País, mas também não desejamos o abandono de parcerias tão frutíferas com países realocados na conjuntura global.)

Ademais, avanços na saúde, com a primorosa ação do “Mais Médico” e seu alcance incompreensível e de proporções inimagináveis na assistência às comunidades relegadas do processo civilizatório: continuarão? O acesso e as oportunidades para a juventude, com o Prouni, com o Pronatec, com a criação de universidades federais e de institutos federais de educação científico-tecnológica: continuarão? Enfim! Há mudanças reais que surgiram, sobretudo, a partir do fim da década de 90 e nos anos 2000 em diante, doravante à estabilidade econômica e a chegada de um trabalhador no cerne do Poder Central da República. Isso tudo gera uma dúvida quanto a teses contraditórias que se pretendem parceiras, não mais táticas e pontuais, mas fundantes de um novo modelo de Estado Nacional.

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Quanto à maior de todas as interrogações, passo a dissertar. Marina, em logrando êxito na eleição e tendo o “autorizo” do povo para assumir em 1º de janeiro de 2015 a cadeira de Presidente da República, conseguirá governar? Aliás, conseguirá se manter no Poder? Sim, parece absurda a indagação, mas pensemos atentamente diante o súbito desejo da “direita” e, sobretudo, dos grandes ricos do Brasil em “tirar do poder” o PT. Ora, se o PT abriu tantos espaços para os pobres, para a ampliação do consumo que não parou na esteira do crescimento industrial propriamente dito, de produtos (carros, aparelhos eletroeletrônicos etc.) por eles fabricados, mas de esta parcela da população consumir lazer, turismo, cultura, educação, ou seja, a oportunidade de frequentar os espaços e prover a intervenção para uma avizinhada “nova sociedade”, é perfeitamente [in]aceitável que “alguém” se revolte com a nova conjuntura nacional e deseje expurgar do Poder o PT. Esse alguém é uma parcela da direita que “baba” ódio e que fará de tudo para ter o objetivo atingido.

Não é possível determinar o destino antes que ele assuma o curso da ordem vigente. Portanto, não saberemos como Marina “vai se virar” na cadeira de Presidente, mas é sempre bom lembrar a história e seus contextos/desdobramentos. O ex-Presidente Lula, também sonhador, foi investido em 2005 de uma tentativa de tirá-lo do Poder. Havia um esforço colossal para associar Lula ao tal “Mensalão” e com isso presenteá-lo com um Impeachment. Tudo fora feito. Todas as elites se arvoraram para este desejo. A nata da imprensa, os maiorais do Poder Judiciário, uma parte significativa dos aristocratas do Congresso Nacional, uma parcela determinante dos empresários brasileiros e, por pouco, não chamam o Exército, a Marinha e a Aeronáutica... Ufa!

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Lula somente “sobreviveu” por quatro fatores fundamentais que Marina não tem, nem de perto, quais sejam: 1) Lula é “macaco velho”, hábil negociador e articulador político, um exímio orador, carismático ao extremo; 2) Lula tinha àquele instante um dos maiores partidos do mundo e, principalmente, unido ao Presidente, protegendo o Presidente custasse o que custasse; 3) Lula tinha o apoio popular, o movimento social nas ruas a “segurá-lo” no Poder, a subsidiá-lo; e 4) Lula tinha o apoio – um tanto controverso, diga-se – dos congressistas, sobretudo, do PMDB e partidos aliados que mandam e desmandam naquela Casa de Leis.

Desejo insistir na análise. Marina terá o carisma necessário para enfrentar crises? Ela terá o seu partido ao seu lado? Aliás, o Partido de Marina é o PSB, a Rede ou outro? O movimento social se exporá por Marina? Ao menos o Movimento Ambiental se lembrará de seu antigo discurso? A burguesia que toma champanhe com a Neca Setúbal: continuará até o fim se regozijando com a passividade da seringueira? E quanto ao Congresso Nacional, os velhos e tradicionais políticos que o povo elegerá para seus representantes: eles irão tratar bem a Marina ou colocar a “faca no pescoço” da Presidente como fazem com todos? É um risco! E a maior interrogação que fica é: estamos prontos pra isso? Sim, porque é certo que as elites (e não falo do Chico Mendes e seus iguais) querem o Poder de volta, não admitem um governo dos trabalhadores e vão fazer de tudo, inclusive usar a Marina para logo, logo conquistarem seu espaço expansivo de volta.

Finalmente, a Marina é cheia de boas intenções. Não é do mal. Mas Marina é só mais uma política exatamente igual a quase todos os políticos que desejam vencer uma eleição, assegurado o direito de alguns serem piores que outros. (Lamento, candidata, mas a senhora não é a “nova” política). Marina fará de tudo pra ganhar a eleição, inclusive esquecer-se do que era. A pergunta é: será que ela sabe disso tudo?

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