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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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Meu ódio não é de ti; é do teu imediatismo

O brasileiro está com pressa (imediatismo crônico) para tirar uma Presidente da República eleita pela maioria do sufrágio popular (54 milhões de votos). Essa pressa [falsamente] se justifica porque o País está em crise – política e – econômica

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Sugerida na Grécia Antiga, a democracia emerge do intrínseco humano: uma consciência interposta na semântica individual para a convivência macro-coletiva. Destarte, embora os gregos considerassem cidadãos um estrato bem menor que o mínimo de sua população, o Senado arcaico fez os primeiros ensaios para delegarmo-nos à lógica da aceitação de nossos representantes, de nossos sonhos, de nossas necessidades [estatais], de nossa vida [social].

Não obstante, as civilizações, com o passar dos séculos, foram se constituindo a partir dessa matize vislumbrada pelos gregos. As intempéries foram ensinando ao homem o ordenamento democrático como ideário a se buscar, a dedicar vidas e mortes, a se alcançar sobre todos os – justos – pretextos. E, por coincidência acidental, também o Brasil força-se a se encontrar com este regime: a Democracia.

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No entanto, fomos forjados, à revelia do desejo intrínseco, no autoritarismo congruente de nossos colonizadores, deveras, competentes ao domínio de uma terra agigantada pela natureza e espaço. Temos dificuldade de sair do Regime de Exceção. No paradoxo óbvio, temos dificuldades de nos construir no Regime Democrático. E brincamos com "fogo" a todo instante; brincamos com nossos pilares institucionais; brincamos com nossa democracia tão precocemente arregimentada.

A não-ruptura institucional nos causa, parece, alguma ojeriza, alguma coceira, no mínimo. Nestes dias ensaiamos novamente o autoritarismo centrista. E por culpa de quê? Elenco abaixo algumas hipóteses fundantes.

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Nosso raciocínio trafega na lógica do imediatismo crônico. Não sabemos esperar o lócus temporal das crises e das conjunturas. O que nos incomoda nos impede de um raciocínio transversal, assim sendo, pensamos linearmente e sempre avocamos para nossa existência civilizatória o pragmatismo do elemento imediato.

Sinto muito para nós: a opção deveria ser mais democracia, ao contrário, dormimos com o inimigo, qual seja, a cultura do autoritarismo incubado e, a nossa pronta ilusão de reversar teses pouco experimentadas, faz pensar que resolveremos nossas deficiências (políticas etc.) de forma mais acelerada. Triste ilusão: não resolve o problema sistêmico em si, e cria um maior ainda: rompe-se a democracia a duras penas conquistada e se reinicia todo o levante novamente. (Luto para não odiar a ignorância. Mas não é fácil, eu sei.)

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Traduzindo de forma mais didática e direta, o brasileiro está com pressa (imediatismo crônico) para tirar uma Presidente da República eleita pela maioria do sufrágio popular (54 milhões de votos). Então! Essa pressa [falsamente] se justifica porque o País está em crise – política e – econômica. Essa crise angustia o bolso das pessoas o que as faz ficarem indignadas (e cegas de raiva). Essa atitude exige urgência para, unilateralmente, ver solucionado cada problema de falta de dinheiro (quando o problema é de todos e tem de ser resolvido por todos). Logo, revestidos de certezas de uma solução imediata, ousam romper com tudo que fora conquistado, pretexto que a história demonstra ser cretino (pois fere o Estado de Direito) e burro (pois fere de morte a democracia).

No último fim de semana o bradar [da pressa] de nosso povo foi replicado no discurso histérico (e sem conteúdo) de 367 deputados e deputadas. Era vergonhosa, ridícula e esdrúxula a nossa representação parlamentar. O devaneio prevaleceu sobre a razão; o imediatismo sobre a democracia. Mesmo a imprensa internacional (que não me serve de parâmetro definitivo), demonstrou o paradoxo de uma presidente que não cometeu crime algum sendo "julgada" por um compêndio de fichas-corridas institucionalizadas. Ou seja: existe certa unanimidade de que a Presidente Dilma Rousseff é pouco política (no sentido da habilidade negocial), é impopular (justifica-se por uma crise, de fato, existente), todavia, não é desonesta, por simetria intelectual, não deve ser deposta ao bojo de motivos superficiais. E esta mesma imprensa internacional expõe, para além do circo que se tornou o Congresso Nacional brasileiro aos olhos do mundo, sobretudo, a implicação de nossa precoce democracia em risco de sucumbência. Percebem e debatem crítica e atentamente a 7ª economia do mundo.

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Quando o Senador Renan Calheiros disser solenemente: "Declaro vago o cargo de Presidente da República", teremos rasgado nossa Constituição Federal tão exemplar, e teremos, principalmente, aberto o precedente para voltarmos à Ditadura, cuja brancura pela ausência dos militares (aqueles de 1964) não será menos cinzenta pela imposição do autoritarismo virtual contemporâneo. E tudo isso simplesmente porque somos imediatistas, não sabemos esperar o tempo das coisas, que, óbvio, se resolverão. Se soubéssemos aguardar pacientemente, nos seria devolvida, sem traumas, nossa economia aos patamares de antes. Entretanto, o que herdaremos é o caos, conforme demonstra a história dos golpes em todo o Planeta e sempre no Brasil. A lei do retorno é implacável.

Finalmente, minha generosa mãe, ao me formar (à época) um jovem menos afobado, dizia: "Meu filho, 'a pressa é inimiga da perfeição'"; E repetia: "O apressado come cru". Por conta do brasileiro, manipulado pela grande mídia fatalista, ou por lideranças políticas convenientes que dizem que o País não tem mais jeito, ou pela nossa pressa desnecessária, infelizmente perderá inegáveis conquistas e a principal: sua bela democracia.

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Lamento tudo isso – amanhã!

 

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