Militares recepcionam Lula em almoço de confraternização e comandante reforça respeito à democracia
Discurso do comandante do Exército e investimentos reforçam compromisso institucional após período de tensão democrática
Em primeira cerimônia oficial com presença dos demais comandantes das Forças Armadas – Marinha e Aeronáutica -, depois da prisão efetiva de Jair Bolsonaro e os demais integrantes do núcleo crucial, por tentativa de golpe de Estado, o comandante do Exército, Tomás Paiva, discursou no almoço no Clube Militar, que recepcionou o presidente Lula, para a tradicional confraternização de final de ano. Paiva voltou a empenhar a fidelidade da sua Arma, à Constituição, ao Estado Brasileiro e à democracia. Disse o óbvio, observarão vocês, mas não em tempos de dosimetria. A fala do comandante é, sim, um alento quando houve rebeldia e conspirações em tempos recentes.
Uma novidade no almoço deste ano foi a presença da ministra Maria Elizabeth Rocha, presidente do STM, primeira mulher a presidir o tribunal. Quebrou paradigma. O Encontro no Clube do Exército reuniu também ministros. Um dos anfitriões, o ministro José Múcio, da Defesa, fez um balanço das atividades da sua pasta e discorreu sobre investimentos na área, fora do arcabouço fiscal, articulação política no Congresso e avanço de programas estratégicos que envolvem fronteiras, submarinos, aviação de caça e modernização militar.
Em sua fala o presidente Lula destacou aporte de R$ 30 bilhões para a Defesa, com foco em submarino nuclear, Gripen e fronteiras. Lembrou dos tempos de penúria, durante o segundo governo do ex-presidente Fernando Henrique, quando os praças eram dispensados ao meio-dia, para economizar na compra de “rancho”. E, ainda, que a última compra de aviões do tipo caça para as Forças Armadas, se deu nos seus governos anteriores. Lula externou a sua preocupação com as mudanças na geopolítica mundial, expressando a necessidade de o país se modernizar nessa área, não para ir a guerra, mas para ter condições de defesa, questão que colocou no centro da agenda estratégica do país. O destaque para o reforço orçamentário para as Forças Armadas feito pelo presidente, deixou claro a sua disposição de manter diálogo com os militares e reconhecer o papel dessas Forças como instituições de Estado.
O valor de R$ 30 bilhões investidos pelo governo na Defesa, fora do arcabouço fiscal e citados por Lula, no almoço, terá liberação em parcela, por seis anos, sendo R$ 5 bilhões a cada ano. O montante é resultado de uma articulação do ministro da Defesa, José Múcio, com a Câmara dos Deputados e ao Senado Federal e não impactam o teto das despesas. O pagamento definido nas parcelas garantirão previsibilidade orçamentária para projetos considerados estratégicos pelas Forças Armadas. Todo o valor será destinado exclusivamente à modernização do Exército Brasileiro, da Marinha do Brasil e da Força Aérea Brasileira (FAB).
Encontram-se presos pela tentativa de golpe, três generais que já ocuparam importantes e significativos postos: o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência; o ex-comandante do Exército e ex-ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira e o general Braga Netto, ex-comandante do Estado-Maior da 1ª Divisão do Exército e ex-ministro da Defesa e da Casa Civil do governo de Bolsonaro, além do almirante Almir Garnier. Havia tensão antes do almoço. Os comandos temiam que Lula tocasse no assunto das prisões dos generais, o que não aconteceu. O tema foi negociado antes do encontro, de parte a parte. A situação dos generais não foi mencionada e o almoço, que teve clima de confraternização, como em todos os anos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




