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Sara York

Sara Wagner York (também conhecida como Sara Wagner Pimenta Gonçalves Júnior) é bacharel em Jornalismo, doutora em Educação, licenciada em Letras – Inglês, Pedagogia e Letras Vernáculas. É especialista em Educação, Gênero e Sexualidade, autora do primeiro trabalho acadêmico sobre cotas para pessoas trans no Brasil, desenvolvido em seu mestrado. Pai e avó, é reconhecida como a primeira mulher trans a ancorar no jornalismo brasileiro, pela TV 247

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Ministério dos Direitos Humanos discute sobre novos protocolos policiais para enfrentar a violência LGBTQIA+fóbica

Este movimento do MDHC sinaliza uma mudança de paradigma: do silenciamento à escuta qualificada

Ministério dos Direitos Humanos discute sobre novos protocolos policiais para enfrentar a violência LGBTQIA+fóbica (Foto: Sara York/Reprodução)

Na véspera da maior manifestação de orgulho LGBTQIA+ do mundo - a Parada de São Paulo - o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), por meio da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, promoveu um evento emblemático de lançamento e discussão pública dos novos Procedimentos Operacionais Padrões (POPs) voltados ao enfrentamento da violência motivada por LGBTQIA+fobia. Com a presença da secretária Symmy Larrat, primeira travesti a ocupar este cargo no Governo Federal, o evento se revelou um marco na institucionalização da proteção à diversidade sexual e de gênero no país.

A iniciativa, que reuniu representantes da sociedade civil, juristas, agentes de segurança e pesquisadoras/es, buscou apresentar de forma crítica e propositiva os fundamentos dos POPs destinados às Polícias Militares, Civis e à Polícia Federal, sistematizando diretrizes para atendimento humanizado, ético e não revitimizador de pessoas LGBTQIA+ em situação de violência. Também foi apresentada uma versão específica do POP voltada à Rede de Atendimento a Mulheres LBTI, com foco na escuta qualificada e no fortalecimento da articulação intersetorial em casos de múltiplas violências.

Dados sistematizados por organizações da sociedade civil - como a ABGLT, o Instituto Acontece e outras entidades atuantes nos territórios - foram fundamentais para embasar os protocolos agora apresentados pelo MDHC. Entre os principais avanços estão:

  • uso obrigatório do Formulário Rogéria para registro de violência;
  • respeito ao nome social e à autodeterminação das vítimas;
  • fluxo claro de referência, contrarreferência e matriciamento com o Sistema de Justiça e a Rede de Proteção;
  • e mecanismos para monitoramento e avaliação contínua da efetividade desses atendimentos.

"Não estamos falando apenas de boas intenções, mas de procedimentos vinculantes que buscam transformar a estrutura policial e proteger quem sempre foi deixado à margem", afirmou Symmy Larrat, destacando que os POPs são parte de um projeto de Estado e não apenas de governo, devendo atravessar gestões e resistir ao retrocesso institucional.

A escolha de São Paulo como sede deste lançamento carrega peso simbólico e político: palco da Parada do Orgulho LGBTI+, a maior do planeta, a cidade também abriga contradições profundas em relação à violência policial, higienização urbana e perseguição a corpos dissidentes, especialmente travestis, migrantes e juventude preta periférica. Assim, o momento se insere na disputa pela cidade, pela segurança pública e pelo direito ao viver sem medo.

Este movimento do MDHC sinaliza uma mudança de paradigma: do silenciamento à escuta qualificada; da violência institucional à responsabilização estatal; da invisibilidade à centralidade das demandas LGBTQIA+ na política pública de segurança e justiça.

Num país que ainda lidera o ranking mundial de assassinatos a minorias, a institucionalização desses protocolos pode representar mais do que uma resposta emergencial - pode ser o início de um novo pacto civilizatório.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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