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Urariano Mota

Autor de “Soledad no Recife”, recriação dos últimos dias de Soledad Barrett, mulher do Cabo Anselmo, entregue pelo traidor à ditadura. Escreveu ainda “O filho renegado de Deus”, Prêmio Guavira de Literatura 2014, e “A mais longa duração da juventude”, romance da geração rebelde do Brasil

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Modos de acabar com os negros no Rio de Janeiro

A barbárie volta com o governador fascista do Rio de Janeiro

Dezenas de corpos são trazidos por moradores para a Praça São Lucas, na Penha, zona norte do Rio de Janeiro. (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Em um texto anterior, escrevi que que existem vários modos de acabar com os negros no Brasil.

No primeiro deles, o mais cruel, era sob tortura e espancamento de ódio. Um linchamento público contra negros, sob assistência regada a chope e passividade de pessoas. Se um negro estava sendo morto a porrada, alguma coisa ele fez. Aliás, os negros sempre estão fazendo qualquer coisa de errado.  

Em qualquer cidade brasileira, jovens são amarrados em postes, numa recuperação dos velhos pelourinhos. Os novos escravos são espancados, enquanto comunicadores na televisão aprovam e ganham dinheiro e fama por açular a massa para o linchamento de marginais. Alguma coisa ruim os marginais fizeram. 

O modo mais eficaz de se acabar com negros é confundi-los com assaltantes. Eles não precisam estar armados ou com um objeto furtados. Alguma coisa errada eles sempre fazem. Na mais simples, eles furtam mais que valores  materiais: furtam a paciência de quem vê aquela cor. Então não perguntem por que um homem honesto, trabalhador, é confundido com um ladrão sem nunca ter roubado. Pois não veem que é negro? Se não roubou, vai roubar. Se não foi ele, foi seu cúmplice, Portanto, é preciso acabar com a raça. 

Mas hoje, no Rio de Janeiro, o horror de assassinatos de pobres e negros não precisa de escritor. As notícias já possuem a sua indescritível crueldade. Os corpos são descidos das matas pela população indefesa. O massacre policial ordenado pelo governador do Rio de Janeiro não tem paralelo na história. Ou talvez só tenha no massacre de Canudos, no sertão nordestino, no fim do século XIX. Agora, no Rio, os moradores das áreas atingidas pelo massacre estão descendo corpos que estavam na área da mata. Policiais estavam de emboscada esperando os fugitivos e mataram todos. 

As notícias gritam. “Encontrei meu filho com os pulsos amarrados por uma corda”, fala a mãe de um dos mortos. Outra mãe de um dos assassinados fala: "Na minha última conversa com ele, ele mandou a localização e pediu para ir ao encontro dele, tirar ele de lá, que ele queria se entregar, mas estava com medo de ser morto. Falaram que encontraram o corpo dele com uma algema no pé, mataram meu filho". Um dos corpos estava sem cabeça, que foi trazida dentro de uma sacola.   

A advogada Flávia Fróes, que acompanhou a retirada dos corpos, afirmou que alguns deles têm marcas de tiros na nuca, facadas nas costas e ferimentos nas pernas. Veem? É como o que ocorreu com os presos políticos na ditadura. Torturados e mortos sem defesa, mas sempre em “troca de tiros com a polícia”. A barbárie volta com o governador fascista do Rio de Janeiro. Igual.  

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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