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Chico Junior

Jornalista, escritor e comunicador

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"Na mesa da COP30" quer garantir compra de ao menos 30% de alimentos da agricultura familiar no evento climático

Movimento quer garantir que 30% dos alimentos servidos na COP30 venham da agricultura familiar da Amazônia, gerando R$ 3,3 milhões em renda

Belém, Pará (Foto: Rafael Medelima/COP30)

Partindo da premissa de que “a maneira como produzimos, distribuímos e consumimos alimentos está no centro da crise climática”, o Instituto Comida do Amanhã e o Instituto Regenera estão com uma iniciativa ousada na COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas), que será realizada em Belém (PA), em novembro: fazer com que se cumpra o que estabelece o edital que trata da seleção de quiosques, bares e restaurantes da COP30, segundo o qual pelo menos 30% dos insumos usados sejam adquiridos da agricultura familiar. É o movimento “Na Mesa da COP30”.

Com isso, espera-se injetar R$ 3,3 milhões na agricultura familiar da Região Metropolitana de Belém, que é o valor estimado com a compra dos produtos diretamente das mãos de quem produz.

O movimento considera uma vitória da sociedade civil a inclusão deste item no edital, pois “foi a primeira vez que uma COP deu essa importância aos sistemas alimentares”.

“Essa proposta”, diz Francine Teixeira Xavier, cofundadora e diretora do Instituto Comida do Amanhã, “não é um detalhe técnico da organização do evento. Significa colocar no centro da agenda climática aqueles que, há gerações, protegem a floresta com suas práticas de cultivo, manejo e vida comunitária. Significa reconhecer que a segurança alimentar e a justiça climática caminham juntas e que não há combate real às mudanças climáticas sem enfrentar as desigualdades que estruturam nosso sistema alimentar”.

Os organizadores da iniciativa estão mapeando produtores e entendendo capacidades logísticas, respeitando as diretrizes do Guia Alimentar para a População Brasileira, ouvindo quem faz a comida chegar à mesa sem destruir o território. Esse processo já está em curso, com o envolvimento de organizações locais, lideranças comunitárias, conselhos e redes de cooperativas que conhecem de perto os desafios e também as potências da produção alimentar na Amazônia.

Produção de alimentos x crise climática

“É hora de reconhecermos uma verdade que, por muito tempo, tem sido negligenciada: a maneira como produzimos, distribuímos e consumimos alimentos está no centro da crise climática. E pode ser também parte essencial da solução.

A realização da COP30 em Belém, no coração da Amazônia, é uma oportunidade histórica de demonstrar ao mundo que há outro caminho possível. Um caminho que não precisa devastar para alimentar, nem excluir para desenvolver. Um caminho que parte da escuta e da valorização de quem já pratica, cotidianamente, modos de vida alinhados com a sustentabilidade e o respeito à natureza”, diz Francine.

Ela esclarece que “não por acaso 74% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil estão associadas à produção de alimentos, principalmente à agropecuária e ao desmatamento. Também não é coincidência que muitas das soluções mais potentes e sustentáveis estão justamente nas práticas dos povos que historicamente foram marginalizados pelas políticas públicas e pelo agronegócio”.

“Quando falamos em mudar o que está no prato dos participantes da COP30, não estamos falando de uma medida simbólica ou de uma concessão momentânea. Estamos defendendo uma transformação estrutural, uma escolha que deixará legado. Um cardápio que mostra, na prática, que é possível conectar produção sustentável, cultura alimentar, saúde e redução de emissões. Uma mudança que transforma o ato de comer em um ato político”, diz.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.