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William De Lucca

Jornalista e especialista em marketing digital. Atualmente, é ativista digital, lgbt e de direitos humanos, coordena o marketing do Sindicato dos Bancários de SP, apresenta o programa Estúdio Diversidade, na TV 247, e escreve sobre diversidade no site Brasil 247

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Não é sobre política: é sobre meu risco de morrer por ser gay

Se eu for assassinado em um crime de ódio com um homofóbico declarado no Governo e você depositou seu voto pra ele, não venha no meu velório, não chore minha morte, não lamente pelo crime. Suas mãos estarão tão sujas de sangue quanto as dele, e minha memória, que viverá pra sempre, deixará marcado que cada facada, pancada ou tiro que terei recebido, terá a sua participação em essência

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Sempre tive divergências políticas com amigos próximos e parentes. Na minha família, por exemplo, minha simpatia pelo Partido dos Trabalhadores, pelos movimentos sociais e pelo campo progressista sempre foi minoritária. Isso nunca impediu, ainda que em um ninho tucano, eu vivesse os natais e as festas de família sem maiores problemas e discordâncias ideológicas. Votar em outro candidato é da democracia, e ainda que eu discorde das análises políticas de pessoas que eu amo muito, elas tem o direito de pensar diferente em questões econômicas e sociais.

O problema é que, nesta eleição, não são questões econômicas e sociais que estão em jogo. O que está em jogo é o meu direito à vida.

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A relação de declarações homofóbicas do candidato que lidera as intenções de voto no segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL) é extensa. Entre os mais famosos ataques que o candidato da extrema-direita já proferiu, estão "Seria incapaz de amar um filho homossexual. Prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí" e "Não vou combater nem discriminar, mas, se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater". Ele ainda disse que homossexuais não produzem "nada de bom" para a sociedade e que para "corrigir" um "filho assim gayzinho" é só dar uma surra. Armado de mentiras, ele sempre foi um dos maiores detratores dos direitos da comunidade LGBT no Brasil, e promoveu a homofobia e a transfobia como ferramenta política para crescer entre as rodas conservadoras.

Deu certo.

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Ainda que ele se explique longamente sobre as declarações que ele mesmo deu durante 30 anos de vida pública, está muito claro o que Bolsonaro pensa sobre o meu direito de existir enquanto homem gay. Suas declarações como deputado sempre reforçaram essa relação violenta para com os LGBT, no país que mais mata gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais, elas tem relação direta, aliada a outros atores reacionários, para a escada de violência homofóbica que vivemos.

Segundo o Grupo Gay da Bahia, a cada 20 horas um LGBT morre de forma violenta no país. A homofobia e a transfobia deixaram 445 mortos em 2017. Elegendo um candidato progressista, que pautasse políticas públicas de criminalização dos crimes de ódio e uma educação para a diversidade, este panorama reduziria gradativamente, mas ainda com a dificuldade em um país que historicamente nega direitos aos LGBT e os trata como cidadãos de segunda categoria. Com a eleição de Bolsonaro, entretanto, o discurso se empodera.

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Quem odeia os LGBT, se sentirá permitido a odiar, já que compartilhará das mesmas opiniões do presidente da República, respaldado por eleições democráticas. Os crimes de ódio terão uma escalada nunca antes vista desde que a pauta da diversidade ganhou uma maior proporção, na metade dos anos 90. Grupos religiosos fundamentalistas, neonazistas, fascistas, conservadores radicais e toda sorte de reacionários que nunca teve pudores para expressar seu desprezo pela dignidade da comunidade sexodiversa, terá uma carta branca tácita para tirar a violência do campo das ideias e levá-la ao campo de batalha.

E isso não é só teoria. Nos Estados Unidos, desde novembro de 2016, quando Donald Trump foi eleito com um discurso semelhante de negação de direitos à minorias, os crimes de ódio estão em alta. Um estudo do Centro para Estudo de Ódio e Extremismo, da California State University, aponta um aumento de dois dígitos no número de casos em muitas regiões metropolitanas em 2016. Em cidades como Washington, capital americana esse número cresceu 62%. A lista de ocorrências inclui ataques a diversas minorias étnicas e religiosas mas, é claro, é engrossada por crimes contra os LGBT.

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Assim sendo, eu não tenho a intenção de fazer o papel de profeta das tempestades, mas me debruçar sobre a realidade que se avizinha. Nem tenho a intenção de fazer terrorismo político, porque isso não muda a intenção de voto de ninguém, mas apenas de registrar, de maneira antecipada, que haverá mais sangue de LGBT nas ruas, e que anuência do Governo Federal, por omissão, será peça fundamental em cada assassinado e agressão que pessoas como eu estarão vulneráveis a sofrer.

Deixo, por fim, um recado que pode vir a ser póstumo: se eu for assassinado em um crime de ódio com um homofóbico declarado no Governo e você depositou seu voto pra ele, não venha no meu velório, não chore minha morte, não lamente pelo crime. Suas mãos estarão tão sujas de sangue quanto as dele, e minha memória, que viverá pra sempre, deixará marcado que cada facada, pancada ou tiro que terei recebido, terá a sua participação em essência.

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Depois, não adiantará chorar sobre o meu sangue derramado.

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