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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

106 artigos

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Não somos todos culpados

A tentativa de “passar pano” para os verdadeiros responsáveis pelo genocídio em curso no país, simplesmente não cola. A história que se pretende verdadeira, como quase todas aquelas que surgem em defesa do indefensável, não se sustenta. E não se sustenta porque não somos todos culpados. Os culpados, sabemos muito bem quem são

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Circula nas redes sociais a hashtag “somos todos culpados”, cuja intenção é dizer que todos os brasileiros são, sem exceção, culpados pelas trezentas mil mortes decorrentes da pandemia. Assim, se somos todos nós culpados, dizem, não se deve apontar o dedo para uma ou outra pessoa em específico, pois não se tinha como saber que tudo isso aconteceria. 

A tentativa de “passar pano” para os verdadeiros responsáveis pelo genocídio em curso no país, simplesmente não cola. Isso não quer dizer que seus idealizadores desistam de tentar emplacar tal narrativa, uma vez que tem gente sendo muito bem paga para pensar e divulgar notícias falsas dia e noite, noite e dia. A história que se pretende verdadeira, como quase todas aquelas que surgem em defesa do indefensável, não se sustenta. E não se sustenta porque não somos todos culpados. Os culpados, sabemos muito bem quem são. Logo, como diz aquela velha canção do Imperial: “nem vem que não tem”.

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Era março de 2020, quando ficamos estarrecidos ao vermos pela televisão o comboio de caminhões do exército italiano transportando as centenas de corpos vítimas da Covid-19. Enquanto a Europa começava a se mobilizar, tomando as medidas que devem ser tomadas em casos de pandemia, determinados líderes mundiais ignoravam completamente as orientações da Organização Mundial de Saúde. Tais governantes defendiam com unhas e dentes tratamentos inexistentes, incentivavam aglomerações e desacreditavam cientistas. Em meio aos altos índices de contaminação, por que não dar uma voltinha de moto, andar de jet-ski ou caminhar um pouco em meio aos abraços de uma multidão de acéfalos, erguendo anões e beijando criancinhas? Tudo isso, claro, sem máscara, pois homem que é homem não usa máscara, devendo enfrentar o vírus de peito aperto, sem frescura ou mimimi. 

Aqueles líderes que passaram o ano de 2020 vomitando impropérios e destilando ódio, enquanto o povo morria sem ar, sempre tiveram a certeza de que não precisariam nunca disputar uma vaga numa UTI. E lá se foram mais voltinhas de moto, jet-ski e nadadinhas de encontro à turba contratada para aglomerar e gritar. Na ocasião, orava-se aqui, pelas vidas ceifadas pelo vírus na Itália, mas não se dava nenhuma importância, como quase não se dá até hoje, pelas vidas perdidas de brasileiros e brasileiras. Enquanto as poderosas empresas de mídia, empresários e grande parte da perversa elite nativa faziam cara de paisagem, os cientistas gritavam para ouvidos moucos na tentativa vã de anunciar o perigo que estava a caminho. Contudo, num país onde educação, ciência e cultura não valem mais que um pequi roído, é claro que não foram ouvidos por aqueles que poderiam liderar o combate à contaminação. 

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E assim seguimos perdendo amigos, amores e parentes. Muitos perderam também a dignidade e o respeito pela pessoa humana. Indignados e adoecidos, passamos a ver carreatas e aglomerações na frente de hospitais lotados de pacientes entre a vida e a morte. O que são cinco mil mortos? Ouviu-se. É preciso morrer para salvar a economia, disseram. Quando eram 15 mil mortos, puseram um inepto senhor como ministro da saúde. Passado um ano da aterrorizante imagem do comboio dos caminhões do exército italiano, já temos a nossa própria tragédia. Como era de se esperar, o incompetente posto no Ministério da Saúde ampliou a tragédia, deixando o cargo, livre, leve e solto, com o índice de 300 mil mortos. É genocídio que chama? O mundo se horroriza. Nos tornamos uma ameaça global. O líder do país finge que não é com ele. Aos insatisfeitos, a Lei de Segurança Nacional, um “fóssil normativo”, um entulho da ditadura. A mesma ditadura que insiste em assombrar esse país.

Física ou emocionalmente, o povo brasileiro está intubado. Enquanto os cadáveres se amontoam, o inominável mandatário, ao vivo, imita um ser humano morrendo por falta de ar. Nada de diferente a se esperar, pois eles sempre foram assim. Nunca foi uma escolha difícil. Na verdade, optou-se exatamente pelo que está aí. E agora vêm com a canalhice de dizer que somos todos culpados. Mas não somos mesmo! Nem venham com a história de que a culpa pelas 300 mil mortes deve ser dividida equitativamente. Não somos nós os culpados, mas eles. Os culpados, meus caros, negaram o óbvio desde o início. Os culpados (a repetição é proposital) recusaram sucessivas ofertas de compras de vacinas. Os culpados boicotaram a vacina chinesa. Os culpados continuam a defender tratamento precoce. Os culpados deixaram que inúmeras pessoas morressem em Manaus por falta de oxigênio. Os culpados enriquecem a olhos vistos, ocupam cargos importantes na República e não perdem a chance de debochar dos mortos, tripudiando sobre a dor das inúmeras famílias que choram a perda dos seus entes queridos.

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Os culpados são aqueles com nomes, cargos, patentes e rostos conhecidos. Os culpados não somos nós todos, pois jamais invadimos hospitais nem desacreditamos a ciência. Os culpados são aqueles que sempre se recusaram a seguir os protocolos de segurança, desrespeitando a vida e desdenhando da morte. “Meu exército não vai pra rua obrigar o povo a ficar em casa”, disse o inominável, posicionando-se contra o lockdown, a única possibilidade de barrar o avanço do vírus. Na outra extrema, um ex-ministro da saúde diz: “agora é cada um por si”. Pelo andar da carruagem, com o número de mortos beirando os dois, três mil todo dia, tudo indica que em breve os caminhões QTs do exército brasileiro estarão nas ruas, e o comboio visto em março de 2020 parecerá pequeno diante do que vem por aí. Não! Nãos somos todos culpados. Não temos nossas mãos sujas de sangue. 

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