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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

105 artigos

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Nem de esquerda nem direita, muito pelo contrário

Não ser nem de esquerda nem de direita é aceitar que uma mulher negra, grávida, seja assassinada pelo Estado que deveria protegê-la, e achar normal que a mídia hegemônica ignore o genocídio continuado do negro brasileiro, tecendo loas ao descaso e à matança que impera no país

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O golpe de 2016 jogou o Brasil em um abismo de profundezas inimagináveis. Das entranhas de tão medonho precipício saíram, e continuam se proliferando, tudo que é tipo de criatura, das mais patéticas e idiotas às mais perigosas. Entre tantas, estão aquelas que, no exercício da sua estupidez abissal, vomitam com bastante frequência a frase “não sou nem de esquerda nem de direita”, com o que devemos concordar, pois não são mesmo nem uma coisa nem outra. São, na verdade, de extrema direita.

Os “isentos” que, no exercício da sua burrice, dão-se ao trabalho de gravar videozinhos bizarros registrando o quanto são politicamente ignorantes, são os mesmos que trabalharam pela destituição de Dilma Rousseff, apoiaram a Lava Jato e têm as mãos sujas do sangue de 482.019 mortes, por enquanto. Podem gritar, espernear e continuar a fazer vídeos medíocres. São 482.019 mortes!

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Não ser nem de esquerda nem de direita te permite, seja você atleta, atriz ou o que quer que seja, considerar aceitável que a polícia, paga para servir e proteger, invada uma comunidade e chacine vinte e oito pessoas, e imponha sigilo de cinco anos à ação. No país do “tudo pode”, pode-se fazer isso, pois nada, absolutamente nada acontece. Caso as instituições não estivessem em colapso, os exemplos viriam de cima, mas é exatamente daí que nada mais se pode esperar. Diante do cenário de terra arrasada no qual transformaram o país, o sigilo tem sido usado como forma de esconder fatos que, em um regime democrático deveriam ser públicos, pois são de interesse de todo e qualquer cidadão e cidadã. No entanto, os limites que separam a civilização da barbárie mostram-se cada vez mais tênues, e o sigilo é o saco preto para dentro do qual está sendo empurrado o cadáver do Brasil, país do futuro, que faz Stefan Zweig se remexer na tumba.

É inaceitável, por exemplo, que o Ministério da Saúde imponha um sigilo de dez anos sobre os documentos do segundo contrato que assinou com a Pfizer e que teria custado por volta de R$ 1 bilhão a mais que o primeiro pela mesma quantidade de doses. O que se deseja esconder? Mais desrespeitoso ainda, mas que causa surpresa apenas aos incautos, foi o Exército Brasileiro ter decretado sigilo de cem anos ao processo do general da ativa, Eduardo Pazuello, por ter comparecido a um ato político, o que é vedado pelo próprio Regulamento Disciplinar do Exército. Aqui, uma pergunta se faz necessária: como se portará o Exército de Caxias se um dos seus generais da ativa subir no palanque da oposição nas próximas eleições? A decisão do Exército abriu um precedente bastante preocupante, mas se você não é nem de esquerda nem de direita, tá tudo bem. Também não deve haver nenhum problema para os “isentos”, quando as Forças Armadas colocam sob sigilo os gastos do presidente acerca dos seus passeios de moto pelo país. Para que serve uma Lei de Acesso à Informação (LAI), pergunta-se, senão para ser descumprida, não é mesmo? Mas para quem não é nem de esquerda nem de direita isso não passa de mero mimimi.

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Quem se declara como não sendo nem de esquerda nem de direita acredita que não está assumindo posição. Mal sabe o mentecapto que não se posicionar já é em si uma posição pra lá de clara. O analfabetismo político entranhado no “não sou nem de esquerda nem de direita” faz com que o povo tenha seus direitos surrupiados em votações na calada da noite, que pessoas sejam humilhadas, ofendidas e torturadas por causa da cor da sua pele, religião ou orientação sexual, e que o patrimônio público seja vendido a preço de banana aos chacais e abutres do sistema financeiro. 

Não ser nem de esquerda nem de direita é aceitar que uma mulher negra, grávida, seja assassinada pelo Estado que deveria protegê-la, e achar normal que a mídia hegemônica ignore o genocídio continuado do negro brasileiro, tecendo loas ao descaso e à matança que impera no país. Não ser nem de esquerda nem de direita é optar pela “neutralidade” em tempos de crise. É, em outros termos, ser cúmplice do flagelo do próprio semelhante. A essas pessoas estão reservados os lugares mais quentes. Que assim seja!

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