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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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Ninguém cancela Elza Soares!

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Depois do golpe que jogou o país no buraco em que estamos, nada mais surpreende. Assim, todo santo dia a sociedade brasileira é tomada de espantos, que incutiriam terror no próprio Stephen King. “O horror! O horror!”, que atormenta o ensandecido Kurtz na hora da morte, na narrativa Coração das trevas (1899), de Joseph Conrad, parece reverberar nas cabeças daqueles brasileiros e brasileiras que ainda não perderam nem a noção nem a decência, embora o atual governo se empenhe bastante para que isso aconteça.No dia 03/12, por exemplo, o presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Pedro Duarte Guimarães, disse em entrevista ter ficado horrorizado ao descobrir que, Brasil afora, existem pessoas vivendo em lixões. Disse ele: “quando nós viajamos pelo Brasil, há três semanas atrás, nós visitamos alguns lixões e o que a gente viu é algo que eu nunca tinha pensado que existisse: pessoas morando nos lixões e vivendo no chorume”. A declaração do senhor Duarte Guimarães nos leva a elencar, pelo menos, duas observações. A primeira, é que a fala de Duarte Guimarães vai de encontro a máxima repetida ad infinitum pelos membros do governo, que em situações assim, costumam dizer: “se estão lá é porque não se esforçaram por uma vida melhor”. Logo, ou o senhor Duarte Guimarães não corrobora a tal máxima ou não houve tempo de combinar o discurso.

A afirmação feita pelo senhor Duarte Guimarães nos permite a segunda observação, que tem a ver diretamente com o cargo que o referido senhor ocupa. Numa pergunta: ter amplo conhecimento da realidade social do país não deveria ser uma exigência natural para quem assume a presidência de um importante banco público, como a Caixa Econômica Federal? Em tempos normais, sim, mas em tempos de horror, fratura e desconstrução, o buraco abissal de espantos é mais embaixo. Por outro lado, a declaração do presidente da CEF vem reforçar seu lugar privilegiado de fala, classe social e etnia, pois, como membro da elite política e financeira do país, Duarte Guimarães sabe muito bem o que existe para além das salas acarpetadas de Brasília, bem como das benesses advindas da sua classe, sua cor. 

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Para além da janela do presidente da CEF, há um Brasil que se impõe há anos por melhores condições de vida, numa luta contra a escravização que nunca terminou por estas bandas, graças aos donos do poder. Assim, para declarações futuras, sugere-se ao nobre senhor uma leitura introdutória ao pensamento de Celso Furtado, Abdias Nascimento, Caio Prado Júnior e Jessé de Souza, por exemplo, para que não seja novamente traído pelo próprio discurso, ao se mostrar “horrorizado” com a nossa imensa massa de invisibilizados dos lixões, viadutos, barracos, favelas e quartos de despejo em geral, condenados a viver no chorume. 

Ainda sobre o quesito “espantos e horrores”, o povo brasileiro soube pela imprensa, do “cancelamento” de 27 nomes de personalidades da cultura negra, indispensáveis para a compreensão sócio-histórica e cultural do Brasil em todos os tempos. O feito é resultado de mais uma das presepadas da pessoa que ocupa, por puro puxa-saquismo, a presidência de uma importante fundação nacional. A pessoa em questão, vazia no seu existir, faz de tudo para aparecer na mídia. Para tanto, costuma atacar personalidades negras, referências na cultura brasileira, tentando usá-las como escada. Contudo, para aparecer, como diz um amigo, natural do distrito de Custódio, lá no interior do sertão central cearense, melhor seria se a tal pessoa pendurasse um melão-pepina no pescoço e saísse, nua, pelas ruas da Asa Sul de Brasília. Talvez até funcionasse. Ou não.

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Cá entre nós, será que a grotesca figura acha realmente que tem o poder de “cancelar” Elza Soares, Benedita da Silva e Sueli Carneiro, por exemplo? Sabe de nada, inocente! Não se pode cancelar uma obra, uma história, uma vida. Não há poder terreno capaz de cancelar 27 lendas. Ao serem instados a se posicionarem a respeito do ocorrido, alguns nomes optaram por ignorar. Madame Satã resolveria isso na navalha, sabemos. Mas, não! Isso é o que eles fariam. Segura a onda aí, Satã, pois o máximo que a criatura merece é um chá. Um chá de moringa com um pouco de valeriana. Aquele mesmo chá que o embaixador venezuelano, Jorge Arreaza, indicou ao ministro brasileiro das aberrações exteriores, como diz Eric Nepomuceno, na reunião extraordinária de ministros de Estado Ibero-Americanos, ocorrida na última segunda-feira, dia 30 de novembro. O chá, disse o chanceler, é capaz de abrir espaço até para a tolerância ideológica. Pense num chazinho bom!

Diante dos absurdos que se vê, não há como não lembrar Paulo Freire, que afirma: “quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”. Assim, em tempos de espantos e horrores, retomamos Arreaza quando diz: “no final, esses anos serão apenas uma má lembrança e nada mais”. Que assim seja! Que Arreaza fale pela boca dos orixás!

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