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Brian Mier

Brian Mier é jornalista, geógrafo e co-editor do site Brazil Wire

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No espírito do Brics, o réu criminal Jair Bolsonaro deveria ser imediatamente transferido para a China

"Faço um apelo à China para que extradite imediatamente Jair Bolsonaro a um local seguro"

Jair Bolsonaro - 29/06/2025 (Foto: REUTERS/Jean Carniel)

Em um dos episódios mais bizarros da história do comércio internacional, o presidente Donald Trump anunciou esta semana a imposição de tarifas de 50% sobre o Brasil — um país que mantém superávit comercial com os Estados Unidos e é um dos seus principais importadores de café, suco de laranja e petróleo — unicamente sob a condição de que retire as acusações contra o réu criminal, ex-presidente brasileiro e amigo pessoal de Trump, Jair Bolsonaro. Bolsonaro atualmente enfrenta uma possível pena de até 40 anos de prisão por tentativa de golpe militar após perder as eleições de 2022.

Gostaria de sugerir que, no espírito do BRICS, Bolsonaro seja imediatamente transferido para prisão domiciliar na China, onde poderá aguardar seu direito democraticamente garantido a um julgamento, agora em sua fase final. Isso pode soar absurdo — e até uma violação do direito internacional — mas os Estados Unidos jamais foram um país que respeita o direito internacional, como prova seu recente bombardeio ao Irã. Além disso, têm um longo histórico de intervir em países da América Latina para libertar seus aliados ou prender seus inimigos.

Em 1983, o governo Reagan invadiu a nação soberana de Granada para ajudar a prender e assassinar seu líder democraticamente eleito, Maurice Bishop, cuja ênfase na soberania nacional incomodava Washington. Em 1989, o governo de George H. W. Bush invadiu a soberana Panamá para sequestrar o líder Manuel Noriega, que na época era alvo de boatos sobre possuir informações comprometedoras de "armadilhas de sedução" dos tempos em que ele e o então presidente supostamente frequentavam bordéis durante os anos de CIA nos anos 1970. Em 2016, os EUA enviaram uma força de agentes especiais ao Haiti para sequestrar e prender o recém-eleito líder democrático do Senado, Guy Philippe — uma figura controversa, sem dúvida, mas cujo caso foi conduzido sem qualquer respeito pelo direito internacional.

A amizade de Donald Trump com a família Bolsonaro é notória. O filho de Bolsonaro, o deputado Eduardo Bolsonaro, era tão próximo ao círculo interno de Trump que supostamente esteve presente na reunião do "Conselho de Guerra", em 5 de janeiro de 2021, com Mike Lindell, Rudy Giuliani e outros republicanos influentes, enquanto tramavam um golpe de Estado amador para impedir que Joe Biden assumisse o poder.

A grande mídia, atualmente, tenta construir uma falsa equivalência entre a invasão do Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 e a invasão em Brasília dois anos depois, em 8 de janeiro de 2023. Mas o nível de planejamento por trás da tentativa de golpe no Brasil foi muito mais sofisticado, executado ao longo de três anos e incluindo tentativas de assassinato contra o presidente Lula, o vice-presidente Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Trechos da denúncia final de 234 páginas apresentada pelo procurador-geral Paulo Gonet estão relatados em um artigo explicativo que escrevi sobre as acusações contra Jair Bolsonaro e seus cúmplices em 20 de fevereiro, que pode ser lido na íntegra aqui. As acusações incluem tentativas de instaurar estado de sítio, entregar o governo do Brasil às Forças Armadas e um plano de assassinato contra o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.

Em resumo, o que aconteceu no Brasil em 8 de janeiro de 2023 não foi um simples apelo de um presidente para que seus apoiadores “invadissem o Congresso”, mas o resultado de anos de planejamento meticuloso. Vale lembrar ainda que, ao contrário do que ocorreu nos EUA, 21 cabos de transmissão de energia elétrica de alta tensão foram sabotados durante o mês da tentativa de golpe, para provocar apagões e espalhar confusão entre a população.

Considerando o longo histórico de intervenção dos EUA no Brasil — incluindo o apoio ao golpe militar de 1964 e à Operação Lava Jato, que retirou Lula das eleições de 2018 e abriu caminho para a presidência de Bolsonaro — o risco de uma operação de resgate das forças especiais americanas ou de uma incursão militar não pode ser subestimado. Por isso, faço um apelo à China para que extradite imediatamente Jair Bolsonaro a um local seguro, onde ele possa ser julgado com segurança e exercer os direitos democráticos que tentou negar ao presidente Lula.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.