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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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O 7 a 1 da Alemanha e os militares do Brasil (que fim!)

Lula deve trabalhar em milhares de crianças uma formação humanista e emancipatória, que compreenda o papel das Forças Armadas quanto ao desenvolvimento do País

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No dia 8 de julho de 2014, em Minas Gerais, a seleção brasileira de futebol sofreu a pior humilhação de sua história e de sua participação em copas do mundo, das quais entra em campo de 4 em 4 anos deste 1930. O Brasil perdeu para a Alemanha no histórico 7 a 1, sabendo-se que a seleção germânica ainda segurou o pé para não escarnecer ainda mais a já combalida seleção canarinho.

Para o povo brasileiro, que tem no futebol uma de suas maiores paixões; uma idiossincrasia, este dia representou um divisor de águas: a certeza de que, sim, o Brasil não é imbatível, nem mesmo no “front” deste esporte que tanto domina. Para os alemães representou a consagração de um projeto de longo prazo. Passo a sintetizar – para chegar à intersecção comparativa deste texto.

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Embora também campeã do mundo em edições passadas, a Alemanha amargava há algumas décadas resultados medianos no futebol (não vencia desde 1990). Contudo, exigiu-se realizar um rigoroso trabalho de base, treinando suas crianças e adolescentes à inovação da técnica, da tática, com método e unidade para “bombar” em campo. A Alemanha trabalhou em seus jovens revelados para a (futura) seleção, um projeto de curto, médio, contudo, visando mesmo o longo prazo. Reinventou-se!

Somente foi possível sair do ostracismo e de resultados medianos em grandes campeonatos a partir de uma paciência histórica, disciplina “revolucionária” e trabalho intenso de anterioridade. Sua seleção em 2014 era quase integralmente nova, em todos os sentidos.

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Falando agora de outro 7, o de setembro de cada ano de nosso País em que se celebra a Independência do Brasil, sem entrar no mérito de qual tipo de “independência” realmente temos, chamou-me atenção o embaraço de Lula durante o desfile tradicional realizado em Brasília no deste 2023. Lula, de fato, parecia estar desconfortável, desconfiado, decepcionado, pensativo. No entanto, Lula estava “preso”: preso ao protocolo; preso à dependência – estranha – que temos dos militares darem aval para que exista democracia no Brasil; preso à história não-reparada, à não-transição, à não-punição dos criminosos de 64 que ainda pairam – seus fantasmas – sobre o asfalto – e os prédios – da Esplanada dos Ministérios, tanto na parada militar festiva, quanto na rotina dos trabalhos dos administradores públicos eleitos.

Lula topou participar de uma farsa: trazer de volta uma tal normalidade para a festa “cívica” que foi completamente deturpada por discursos “imbroxáveis” do ex-presidente da República, Jair Bolsonaro que, além de cooptar joias, recursos públicos, ainda cooptou as Forças Armadas e a transformou no que ela verdadeiramente tem sido: inútil (faz quantos anos não sofremos ameaças reais de conflitos internacionais). Mas era dever de Lula passar por esse constrangimento de, sabendo que os militares da alta patente são apenas os herdeiros do espólio da morte e da tortura de 64 e que agora também são os mantenedores da tentativa de Golpe de 8 de janeiro; que nem para isso serviram: impedir os atos terroristas contra os Três Poderes de República no trágico 8 de janeiro. E Lula fez a foto de mãos dadas, como uma reconciliação, com os três comandantes das Forças Armadas (tendo ainda na foto, a “mão” do ministro da Defesa, o patético “office boy” de milico, José Múcio).

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Eu, sinceramente, não sei se Lula errou mais uma vez na forma de tratar as Forças Armadas, demonstrando esta pseudo paz, ou se deveria de uma vez por todas radicalizar, punir os que atentaram contra a democracia e as instituições em 8 de janeiro, resgatar a Memória e Verdade de 64 e promover a reparação histórica, ou se é isso mesmo: fotos “falsas” de uma falsa relação de verdade e utilidade.

Por outro lado, com a sociedade conservadora que temos; com os políticos medíocres no Congresso Nacional que temos, liderados por um ser de podre alma como Arthur Lira; com uma classe empresarial que ainda pensa está dentro do sistema colonial (e acho que estão meio certos), resta a Lula fazer o que? Brigar com os milicos, mudar toda a estrutura, demitir todos os 4 estrelas, e pavimentar o caminho para uma nova Ditadura Militar? Lula nunca foi revolucionário, embora seja, de longe, o melhor brasileiro a assumir o principal posto de poder no País. E Lula tem senso de lugar: sabe que nosso povo também não está preparado para uma revolução, um banho de sangue a fim de destituir todo o corpo de 64 que ainda desfila em Brasília todos os 7 de setembros.

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Enquanto não temos resposta/solução para isso, tenho uma proposta concreta: fazer como fez a seleção da Alemanha (com as ressalvas que a metáfora exige): formar crianças e adolescentes com outros princípios, com outra metodologia, com outro pensamento “tático”, no nosso caso, para compor os quadros das Forças Armadas. Precisa começar hoje. Lula precisa olhar para sua tristeza hoje (é notória sua resignação) e investir pesadamente em jovens da periferia, das favelas, do interior do Brasil para serem estes os próximos generais, brigadeiros e almirantes.

A proposta é uma doutrinação às avessas dessa militar (melhor não!). Sim, os militares são doutrinados para desrespeitarem tudo que não seja a caserna (não reconhecem o alheio a eles); para não olharem com a devida vênia os direitos humanos; para ferirem seus próprios compatriotas (como fazem em suas intervenções nas favelas e em outros espaços). Logo, toda doutrinação é maldita.

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O que Lula deverá fazer é trabalhar em milhares de crianças e adolescentes uma formação humanista e emancipatória, e que compreenda o verdadeiro papel das Forças Armadas quanto à soberania nacional e quanto ao desenvolvimento do País, respeitando sobremaneira o lugar adequado deles quanto à cidadania e aos direitos humanos. Trata-se de termos daqui há 30 anos outro, completamente outro paradigma militar. Sujeitos militares, que não trabalhem nunca mais pela ameaça constante à democracia e mesmo a agressão a seu povo.

Se Lula não pode mudar os jogadores hoje; se estamos inevitavelmente levando um “7 a 1” das Forças Armadas (que apenas deixam a gente entrar em campo para “brincar” um pouco de vez em quando), nosso atual Presidente precisa desempenhar uma outra forma de Justiça de Transição, outro modelo de reparação histórica: aquela que, no longo prazo (como fez a Alemanha em seu futebol), emprestará ao serviço militar, às altas patentes, gente digna de nosso orgulho de verdade; de desfilar em cada 7 de setembro sabendo que nossa autorização para seus serviços não são para a prepotência de si mesmos, entretanto, para cumprir o importante – não mais que isso – de defesa do País.

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Até lá, Lula tem de prestar continência para quem tem um espírito de que faz um favor de deixa-lo no cargo, mesmo que estejamos há tantas décadas tomando “boladas nas costas” dos militares numa goleada às avessas...

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