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Tiago Barbosa

Jornalista, pós-graduado em História e Jornalismo, com passagem por jornais de Pernambuco

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O abuso e a censura do Twitter à minha conta

"O Twitter decidiu censurar e bloquear minha conta na rede em virtude de um tuíte crítico às cenas de um bombardeio em Mariupol"

O abuso e a censura do Twitter à minha conta (Foto: Reprodução)

O alinhamento da mídia e das plataformas de redes sociais à versão "ocidental" da guerra na Ucrânia tem ensejado atos de censura contra quem contesta ou diverge da narrativa oficial.

E esse silenciamento autoritário me atingiu.

O Twitter decidiu censurar e bloquear minha conta na rede em virtude de um tuíte crítico às cenas de um bombardeio em Mariupol - e, pior, sob justificativa totalmente arbitrária. 

A postagem se baseava em um artigo do Brasil 247 - site verificado pela plataforma - sobre os sinais de falsificação na divulgação do bombardeio a uma maternidade.

O texto levantava inúmeros indícios de encenação, com base em informações correntes em outros sites noticiosos críticos à versão ucraniana da história.

A identidade das vítimas, a captação das imagens, a edição do vídeo e o contraponto da Rússia permitiam uma interpretação (no mínimo, um questionamento) distinto da história contada pela Ucrânia.

Seria possível afirmar - com as ressalvas pertinentes a um período de guerra, quando até a verdade factual se torna alvo de disputa - tanto a veracidade quanto a falsidade do episódio como narrado naquele instante.

E o meu tuíte contextualizou essa encenação dentro de um fio sobre a desinformação seletiva entre personagens envolvidos no conflito - seja na linha de frente ou nos bastidores. 

O bloqueio do Twitter à conta - pasmem! - indicou violação por "abuso ou assédio" ("você não pode se envolver em assédio direcionado a alguém nem incitar outras pessoas").

Tão grave quanto o ato de calar a divergência é usar um pretexto estapafúrdio como razão - para o Twitter, considerar a cena falsa seria um estímulo ao bombardeio russo? Ucraniofobia? 

É tão inimaginável quanto ridículo - sobretudo porque o tuíte original do artigo no site continua disponível, sinal inequívoco de seletividade da rede social.

Estou no Twitter desde 2009 e não lembro de ter sofrido restrição em virtude das minhas manifestações críticas e jornalísticas.

Passei por veículos tradicionais de imprensa e colaboro eventualmente com sites progressistas para contribuir com o debate público por meio de reflexões e informações.

Essa cassação do direito de me expressar com liberdade e sob critérios jornalísticos é um ato descabido, injusto e arbitrário e só reforça o cerceamento visto mundo afora a quem não se alinha à versão ocidental dos fatos sobre o conflito na Europa.

Prova desse silenciamento é a rotulação, nas redes sociais, de sites russos, a dificuldade para compartilhar conteúdo dessas fontes e o banimento em vários países e plataformas.

A censura ao contraditório fere de morte qualquer veleidade democrática arrogada por mídias sociais e de notícia e produz tiranias informativas justamente sob a desculpa de combater posturas antidemocráticas.

E recoloca no centro do debate a necessidade de moderação pública para frear o controle do espaço coletivo por entidades privadas cujos atos atendem a interesses particulares - e nem sempre a serviço do bem-estar social.

É inadmissível a interdição de uma conta cuja suposta violação das regras consiste na contestação de versões baseada em informações consistentes.

O abuso me calou na plataforma. Hoje, sou mais um sob mordaça. Amanhã, pode ser você. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.