O acerto de contas que a República devia à história
Não é vingança, é o restabelecimento da verdade
Confesso que como muitos brasileiros, comemorei a prisão dos condenados do núcleo 1 da trama golpista. Para quem viveu a ditadura militar, esse momento representa, de certa maneira, um acerto de contas com a História da República. Afinal, pela primeira vez oficiais de alta patente foram condenados e presos pelo crime de alta traição ao país.
Todos os militares detidos nesta terça-feira (25/11) pertencem a uma corrente majoritária das Forças Armadas, que nega a existência da ditadura no Brasil. Ideologicamente ligados à extrema direita, defendem modelos autocráticos de Estado. Augusto Heleno, por exemplo, foi Chefe de Gabinete e assessor direto do então ministro do Exército, General Sylvio Frota, um dos líderes da linha-dura do regime, grupo responsável por perseguições, torturas e assassinatos de opositores. Entre as vítimas, estavam o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho.
Em março de 1977, Frota tentou, sem sucesso, derrubar o general presidente Ernesto Geisel, num episódio que quase mergulhou o país em um estado de horror absoluto.
Décadas depois, no primeiro turno da eleição de 2018, Eduardo Bolsonaro afirmou que para fechar o STF bastaria “um soldado e um cabo”. No 8 de janeiro de 2023, mobilizaram muito mais do que isso e fracassaram.
A resposta a Eduardo Bolsonaro veio no rigor da lei. Diferentemente de 1964, hoje basta a ação do Poder Judiciário e de uma Polícia Federal autônoma, que cumprem as determinações constitucionais com firmeza e responsabilidade.
Apesar do avanço da extrema direita, que elegeu governadores e construiu uma bancada expressiva no Congresso Nacional, a democracia se impôs. Nenhum dos condenados pode questionar o devido processo legal, pois todos os direitos foram assegurados e as defesas atuaram plenamente.
Resta agora que a Justiça avance sobre os foragidos e investigue com a mesma firmeza os articuladores civis do golpe
Para seguirmos adiante, é necessário repatriar os deputados que fugiram da Justiça, Alexandre Ramagem e Carla Zambelli, e dos traidores da Nação, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, que, como bem definiu o Ministro Alexandre de Moraes, agem de “maneira covarde e traiçoeira”, com “patente finalidade de obstrução à Justiça”. Ambos causam prejuízos incalculáveis ao país ao articular, junto ao governo dos EUA, taxações sobre produtos brasileiros e sanções, via Lei Magnitsky, contra autoridades do governo e do STF.
A história finalmente começa a cobrar sua fatura. Não é vingança, é o restabelecimento da verdade, da ordem constitucional e da dignidade republicana. Que este momento sirva como marco para encerrar de vez o ciclo de tutelas militares, rupturas e ameaças. A democracia brasileira, tantas vezes ferida, mostra mais uma vez que é capaz de se levantar.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




