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Hélio Doyle

Hélio Doyle é jornalista, foi professor da Universidade de Brasília e secretário da Casa Civil do governo do Distrito Federal

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O bom exemplo de Itamar e Hargreaves

"Em um país em que a corrupção e a falta de vergonha já fazem parte do dia a dia, não é de se estranhar que ainda haja quem defenda e acoberte Eduardo Cunha, aberta ou veladamente", afirma o jornalista Hélio Doyle, colunista do 247; ele relata o episódio envolvendo Henrique Hargreaves, chefe da Casa Civil no governo Itamar Franco, que pediu exoneração do cargo, aceita por Itamar, após denúncias de que teria participado de desvio de dinheiro público; com a acusação não comprovada, Hargreaves retornou à função; "Para o cidadão comum, Eduardo Cunha tem de ter seu mandato cassado por ser ladrão, e não por ser mentiroso. O formalismo regimental da Câmara, as chicanas de deputados e advogados, as filigranas ridículas não interessam à população"; confira íntegra

"Em um país em que a corrupção e a falta de vergonha já fazem parte do dia a dia, não é de se estranhar que ainda haja quem defenda e acoberte Eduardo Cunha, aberta ou veladamente", afirma o jornalista Hélio Doyle, colunista do 247; ele relata o episódio envolvendo Henrique Hargreaves, chefe da Casa Civil no governo Itamar Franco, que pediu exoneração do cargo, aceita por Itamar, após denúncias de que teria participado de desvio de dinheiro público; com a acusação não comprovada, Hargreaves retornou à função; "Para o cidadão comum, Eduardo Cunha tem de ter seu mandato cassado por ser ladrão, e não por ser mentiroso. O formalismo regimental da Câmara, as chicanas de deputados e advogados, as filigranas ridículas não interessam à população"; confira íntegra (Foto: Hélio Doyle)
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Amigo do então presidente Itamar Franco, Henrique Hargreaves era o chefe da Casa Civil de seu governo. Poderoso, portanto, embora mantivesse no Planalto a mesma simplicidade que mostrava como alto funcionário do Senado – simplicidade que também era uma característica do senador e depois presidente Itamar.

Pois Hargreaves já era o principal ministro do governo há um ano e um mês quando surgiram vagas acusações contra ele. Dizia-se que, tendo em vista suas funções no Senado, era impossível não saber ou mesmo não ter participado do enorme desvio de verbas públicas que a CPI do Orçamento desvendava. Os adversários políticos aproveitaram para atacar Itamar e Hargreaves, levantando a suspeita de corrupção.

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Hargreaves fez então o que todos os administradores públicos e pessoas com responsabilidade de Estado deveriam fazer nessas circunstâncias: pediu exoneração do cargo, para preservar o presidente e não interferir nas investigações. E Itamar fez o que todos os presidentes deveriam fazer: aceitou imediatamente o pedido de exoneração.

Três meses e alguns dias depois, nada havia sido encontrado contra Hargreaves. As suspeitas eram infundadas e as acusações eram levianas. Ele, então, voltou à chefia da Casa Civil, onde ficou até o fim do governo de Itamar. Saiu e voltou por cima.

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A atitude de Hargreaves, endossada por Itamar, é a que deveriam ter todos os que exercem funções públicas, em qualquer nível, e que fossem acusados de irregularidade e corrupção. É assim na maioria dos países democráticos, especialmente nos mais avançados – o acusado deixa a função. O afastamento não é, como dizem alguns no Brasil, uma confissão de culpa. É uma atitude preventiva, que atende aos dois objetivos citados por Hargreaves: preserva o governo, ou o órgão ao qual o acusado está vinculado, e elimina a possibilidade de, no cargo, ele interferir nas investigações. Se a culpa não é comprovada, o acusado volta à função, como fez o chefe da Casa Civil de Itamar.

Em um país em que o exemplo de Hargreaves não prosperou, não é de se estranhar que o deputado Eduardo Cunha continue presidindo a Câmara e seja o segundo da linha sucessória. E em um país em que a corrupção e a falta de vergonha já fazem parte do dia a dia, não é de se estranhar que entre os congressistas e outros políticos ainda haja quem o defenda e acoberte, aberta ou veladamente.

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É mais do que óbvio, para o cidadão comum, que Eduardo Cunha não tem condições de ser deputado, quanto mais ser presidente da Câmara. As investigações mostram o tamanho de sua roubalheira e suas entrevistas mostram a dimensão de seu cinismo. Mas aí vêm seus cúmplices e capangas com a alegação de que tem o direito de se defender, de que não há ainda denúncia formalizada contra ele. Claro que Cunha tem o direito de se defender, mas fora da presidência de uma das casas do Congresso, e sem interferir, como está fazendo, nas apurações do Conselho de Ética.

Para o cidadão comum, Eduardo Cunha tem de ter seu mandato cassado por ser ladrão, e não por ser mentiroso. O formalismo regimental da Câmara, as chicanas de deputados e advogados, as filigranas ridículas não interessam à população. São parte da incrível rede de autoproteção mafiosa que os políticos estendem.  

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O que tem de ser feito com Cunha é simples, já que ele não renuncia:

      1 – Ser afastado da presidência da Câmara.

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      2 – Ter o mandato cassado por corrupção e, secundariamente, porque é mentiroso.

      3 – Ser logo denunciado, julgado e preso.

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E não venham os parlamentares e outros políticos com conversinhas que só colam no Salão Verde e nos subterrâneos lamacentos da Câmara. 

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