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Ricardo Nêggo Tom

Músico, graduando em jornalismo, locutor, roteirista, produtor e apresentador dos programas "Um Tom de resistência", "30 Minutos" e "22 Horas", na TV 247, e colunista do Brasil 247

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O chinelo comunista

Bolsonaristas merecem umas boas chineladas de havaianas no traseiro, para deixarem de ser idiotas, ironiza Ricardo Nêggo Tom

Fernanda Torres em comercial da Havaianas (Foto: Reprodução (Redes Sociais))

Botei minha havaiana na janela do quintal, mas Papai Noel, aquele velho porco capitalista que não gosta de pobre, como diz a música dos Garotos Podres – banda que está sendo alvo de um inquérito policial por “incitar violência contra pessoas de bem”, por causa de uma letra composta há 40 anos, criticando uma “pessoa de bem” que nem existe - não deixou nenhum presente de Natal para mim só porque que sou esquerdista. Aliás, parece que o bom velhinho também está aderindo ao boicote a marca de chinelos mais popular do país, porque os seus amigos bolsonaristas - tão porcos e capitalistas quanto ele – não gostaram da propaganda da marca estrelada por Fernanda Torres.

O motivo do desgosto? Eles entenderam como provocação a sugestão de entrar o próximo ano com os dois pés, e não apenas com o pé direito. Nós sabemos que um bolsonarista possui cascos e usa ferraduras como calçados, mas eles deveriam saber que o casco esquerdo lhes sustenta o direito. Ou vice-versa. Na verdade, eles querem mesmo é entrar 2026 com os dois pés, digo, os dois cascos na porta, aprovando o PL da Dosimetria e aliviando a pena de seus amiguinhos criminosos que tentaram dar um golpe de estado no país. Bem que eles mereciam, além das penas que receberam, umas boas chineladas de Havaianas no bumbum para aprenderem a respeitar o Estado democrático de direito.

Eduardo Bolsonaro é uma das estrelas da campanha que tenta criminalizar uma marca de chinelos, e combater o livre direito de escolha que as pessoas têm de usar a tal marca. Sob o lema: “Direitos de chinelos, para chinelos direitos”, ele aparece jogando seus chinelos no lixo e convocando os bolsonaristas a saírem às ruas calçando ferraduras verde e amarelas nos pés, para fortalecer o patriotismo pé de chinelo que eles professam. Ele que já está sem mandato e sem passaporte diplomático, agora também ficou sem chinelo. Mas não para por aí. Frei Gilson já convocou os católicos a rezarem um terço às 3 da madrugada contra o comunismo havaiano, e orientou os fiéis a usarem apenas as sandálias da humildade que o Pânico na TV oferecia aos convidados que se recusaram a lhe dar entrevistas. Dom Odilo Scherer já autorizou a transmissão da reza do terço em todas as emissoras do Brasil.

Sóstenes Cavalcante já se comprometeu a doar os 430 mil reais encontrados pela PF em seu flat, em Brasília, para a compra de chinelos de outras marcas para os bolsonaristas de todo o Brasil. Silas Malafaia lançou a campanha do “chinelo ungido”, onde fiéis evangélicos de sua igreja podem adquirir um par de sandálias confeccionadas pelas mãos de Jesus, pela módica quantia de R$ 900 reais. “Este chinelo vai abençoar a sua vida”, diz ele rosnando em vídeo postado no seu canal do youtube. Michelle Bolsonaro está organizando a marcha das mulheres submissas e descalças, onde ela convocará um jejum de chinelos havaianas, no qual suas seguidoras purificarão seus pés da influência diabólica das sandálias que não deformam, não soltam as tiras e não tem cheiro. “Chulé é coisa de Deus”, diz ela em línguas estranhas, enquanto calça uma sandália nos pés de seu amigo maquiador.

Diversas figuras do bolsonarismo estão publicando vídeos de adesão ao boicote contra a marca de chinelos. Enquanto Tarcísio de Freitas apareceu destruindo um par de havaianas à marteladas, Guilherme Derrite publicou um video onde ele aparece atirando nos pés de pessoas que usavam o referido chinelo, e dizendo que boicotar a marca é combater o crime organizado. Carla Zambelli invadiu o site oficial da marca com a ajuda de um hacker da concorrência, mudou o slogan da empresa para: “Sandálias espanholas, aquelas que dão prazer de calçar”, e revelou que perseguiu armada o jornalista Luan Araújo pelas ruas de São Paulo, porque se sentiu ameaçada ao vê-lo calçando um par de havaianas.

Prefeitos bolsonaristas que governam cidades em Santa Catarina, determinaram que todos as pessoas em situação de rua fossem jogadas em caminhões de lixo e descartados em outras cidades do Brasil. “Esses pés de chinelos são todos havaianas”, justificaram. Nikolas Ferreira jogou suas havaianas fora e disse que a diversidade de cores e modelos oferecida pela marca, é pura ideologia de gênero disfarçada de variedade. “Querem introduzir chinelos unissex nas escolas”, disparou ele. Como entretenimento, o bolsonarismo é uma piada bufa e mal cheirosa. O pum de uma legião de palhaços que já teve Regina Duarte como ministra da sua falta de cultura, e Jair Bolsonaro como seu mito bufão e inspirador da idiotia que lhes deturpa a cognição. Uma oligofrenia que bota quaisquer havaianas no chinelo. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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