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Fernando Lionel Quiroga

É professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), na área de Fundamentos da Educação. Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

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O dínamo da polarização e os riscos da democracia

É a desinformação, em última instância, o principal vetor a ser atacado

(Foto: REUTERS/Pilar Olivares)
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O fato de que para a apertada maioria de 51% dos eleitores o ex-presidente deve se tornar inelegível, enquanto para os outros 45% o mesmo seja inocente revela a resinosa cisão do panorama ideológico brasileiro. Os dados, publicados pelo Datafolha e que refletem a opinião de entrevistados entre os dias 29 e 30 de março, apontam para a estabilidade da polarização política que vem se consolidando no perfil do eleitorado brasileiro.

Ao menos três características são especialmente relevantes para compreender este pano de fundo.

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  1. desigualdade social e de renda - O Brasil permanece entre as primeiras posições no ranking dos países com maior desigualdade, segundo o World Inequality Lab (Laboratório das Desigualdades Mundiais, 2022). Segundo o relatório, no Brasil, 10% ganham mais da metade (59%) dos rendimentos do país, ao passo que a outra metade fica com apenas cerca de 10%.
  2. a desregulamentação e a erosão das políticas sociais - A desregulamentação como peça-chave para o esfacelamento do Estado e consequente falência dos dispositivos governamentais que normatizam e asseguram políticas sociais como educação, saúde, segurança pública etc. 
  3. desinformação - Enquanto estratégia comunicacional a serviço dos interesses privados sobre os públicos, a desinformação representa propagação (ou viralização) da “mentira” em nome da “liberdade de expressão” e do “entretenimento” que, via de regra (salvo raras exceções), tende a reduzir os grandes temas nacionais à eufemismos ou ao ridículo, quando não por substituí-los por mentiras etc. cujos efeitos têm produzido uma “falsa consciência” da realidade, ou de uma realidade paralela, como vimos mais recentemente no contexto das mobilizações golpistas em torno dos QG (Quartéis Generais).      

De modo análogo, o que se observa é uma estrutura semelhante ao dínamo, aparelho de conversão da energia mecânica em elétrica operado por meio da indução eletromagnética. Na dinâmica social brasileira - cujo reflexo se vê expresso na polarização do eleitorado - a roda consiste na conversão da pobreza e consequente sentimento de fracasso individual, somado ou ao banimento ou acesso precário aos direitos constitucionais básicos, a uma consciência em nível pré-reflexivo induzido pela desinformação. 

É a desinformação, em última instância, o principal vetor a ser atacado. No fundo, a indução ao erro, a adulteração da mensagem, a mentira deliberada, a omissão ou supressão de informações e fatos é o que, finalmente, tem suprido a demanda por respostas diante de problemas estruturais como a pobreza e as condições de vida cada vez mais precárias.

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Entretanto, o leitor mais arguto terá percebido que a desinformação já é desregulamentação, e que esta é, no fundo, o que tem produzido em larga escala a desigualdade social e de renda, isto é, a reprodução da pobreza como pano de fundo do lobby neoliberal.

Se a polarização do eleitor brasileiro tem a ver ou não com a presente estrutura - o dínamo social brasileiro - talvez não seja o mais importante a saber. O que, sim, deve ser uma preocupação urgente a ser debatida e fortalecida em todos os setores da sociedade diz respeito ao papel do Estado como principal indutor das condições dignas de vida da população. Novamente, o Estado é quem deve enfrentar, a um só tempo, a desregulamentação e a desinformação, pois, embora estas possuam o mesmo DNA, percebe-se o potencial de mutação e multiplicação das engrenagens do mercado. Elas são, finalmente, os sinais mais evidentes do capítulo que deve pôr fim às democracias. 

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