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João Feres Júnior

Instituto de Estudos Sociais e Políticos - IESP / Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

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O "erro do PT" e a economia

Uma coisa é certa, essa estratégia de depreciar a economia nacional para atacar sistematicamente a política econômica dos governos petistas não foi a única linha de ação, como todos sabemos, mas ela foi sistemática e intensa. A grande mídia venceu essa batalha, mesmo que a custo de sacrificar o bem-estar de milhões de brasileiros

Protesters, social movements and activists of the Workers Party, do protest against the impeachment of the President of Brazil Dilma Rousseff in the city center of São Paulo. April 17, 2016. (Foto: João Feres Júnior)
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Tenho recebido algumas críticas à minha tese, defendida em uma série de artigos recentes, de que os analistas da ressaca eleitoral da esquerda após o pleito do dia 2 de outubro novamente têm desprezado ou subvalorizado o papel da mídia. A maioria dessas críticas padecem do mal da naturalização da questão do fluxo comunicativo na sociedade. Ou seja, de uma maneira ou de outra, assumem que as pessoas ficam sabendo dos “fatos que importam” porque, afinal de contas, eles são os “fatos que importam”, sem se preocuparem seriamente com o ativo agendamento do noticiário, por meio de superexposição ou silenciamento de temas, e com a maneira como os fatos selecionados são narrados.

Claro, a maioria desses críticos não são tão ingênuos a ponto de negar o inacreditável nível de ativismo político anti-esquerda de nossa grande mídia. Mas quando vão escrever suas análises acabam invisibilizando a mídia. Os fenômenos políticos acabam sempre sendo entendidos como produtos ou das ações das pessoas e grupos ou de alguma força econômica ou sociológica. Longe de mim negar a propriedade de alguns desses argumentos. De fato, as escolhas dos atores e fenômenos de natureza econômica e sociológica produzem efeitos políticos. O ponto, contudo, é que o fluxo de informação, a comunicação social, é também um fenômeno social e político, produto de escolhas de atores específicos, que deve ser levado a sério em uma sociedade de massas que adota o sistema de governo democrático representativo. 

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A mais recente crítica que recebi, de um amigo cuja capacidade intelectual prezo muito, o economista Carlos Bastos, da UFRJ, deve ser levada a sério. Por isso mesmo, reproduzo, com a autorização do autor, parte dela abaixo e, em seguida, digo por que ainda sustento a minha tese sobre a importância da mídia na equação. 

Carlos me escreveu: “acho que você subestimou muito o impacto da crise econômica sobre o voto. Os indicadores de emprego e renda são desastrosos... Agora, as condições materiais de vida contam muito e pioraram horrores. Digo mais. Talvez, se não fosse a forte desaceleração do governo Dilma 1 e o desastre Levyniano do Dilma 2, os cofres das prefeituras estivessem em melhor forma e mais avanços pudessem ter sido garantidos... Não gosto dessas críticas grandiloquentes e, por isso mesmo, meio vazias como deste Fulano de Tal. Mas esquecer a dimensão material da crise e focar só na mídia eu também acho desbalanceado”.

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Em suma o argumento de Carlos lembra aquele do assessor de Bill Clinton: “é a economia, estúpido”. O tal “erro do PT” seria propriamente a má administração macroeconômica e, claro, o azar da crise econômica internacional que finalmente contaminou a economia brasileira. As pessoas teriam abandonado a esquerda nas urnas porque estariam descontentes com a situação econômica, que de uma maneira ou de outra é associada à esquerda no poder, o PT.

Longe de mim negar o efeito eleitoral negativo da experiência da crise sobre as forças políticas responsabilizadas pela crise. Mas a crítica de Carlos, a meu ver, sofre também do problema da naturalização da comunicação, e, consequente, da invisibilização da mídia.

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Estudos que estamos fazendo no LEMEP sobre as manifestações de 2013 mostram que a queda de popularidade de Dilma se deu forte e abruptamente enquanto índices de percepção econômica importantes, como expectativa de emprego e de aumento de renda, não apresentavam a mesma tendência. Inúmeros trabalhos acadêmicos feitos fora do Brasil têm mostrado que a mídia tem papel decisivo na percepção de agentes econômicos e cidadãos em geral acerca da economia, inclusive com consequências eleitorais. E isso em contextos nos quais a mídia é muito menos enviesada e militante do que a brasileira – como nos EUA e na Europa.

O Manchetômetro, com sua base de dados que remonta ao começo de 2014, mostra que a cobertura da economia tem sido extremamente negativa, e sua intensidade ao longo do tempo não tem correlação com índices reais do desempenho econômico do país. Outro artigo, produzido também no âmbito do Manchetômetro, mostra que ao final de 1998, quando FHC concorria à reeleição, a despeito dos indicadores econômicos estarem todos muito ruins, o noticiário econômico era bem menos negativo quem em 2014, quando Dilma se reelegeu.[1]  Por fim, um trabalho que estamos desenvolvendo mostra o uso disseminado do que chamo de retórica adversativa em jornais como a Folha de S. Paulo e O Globo. Trata-se do caso de títulos de notícias econômicas que são positivas, mas vêm anunciadas em conjunto com algum porém. Exemplo: “crescimento econômico do trimestre é positivo, mas a renda das famílias cai”.

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O papel da mídia na produção da crise econômica atual, na deterioração da percepção dos agentes econômicos, na perda de legitimidade dos governos petistas frente ao empresariado e ao setor agrícola, na demonização das empresas brasileiras mais dinâmicas e de maior penetração no mercado internacional (as grandes construtoras), no desmonte da Petrobrás, é assunto ainda a ser estudado em detalhe. Uma coisa é certa, essa estratégia de depreciar a economia nacional para atacar sistematicamente a política econômica dos governos petistas não foi a única linha de ação, como todos sabemos, mas ela foi sistemática e intensa. A grande mídia venceu essa batalha, mesmo que a custo de sacrificar o bem-estar de milhões de brasileiros.

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