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Marcio Pochmann

Marcio Pochmann é economista. É Professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, ambos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

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O jogo da exploração: luta de classes em cenário pós-industrial

A insatisfação generalizada dos brasileiros com o governo Temer ainda não se traduziu na convergência explosiva das massas. Mas isso pode ocorrer tão logo se constitua uma força alternativa com credibilidade e confiança suficiente em suas proposições

Michel Temer, indústria, atividade industrial (Foto: Marcio Pochmann)
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A passividade das ruas e a apatia dos brasileiros têm sido identificadas por acomodação das lutas de classe. A prevalência de um presidente tão impopular, envolvido por diversos escândalos de corrupção e impositor de reformas que mesmo rejeitadas avançam pela troca de votos parlamentares por privilégios das verbas e cargos públicos, não valida, contudo, tal compreensão.

Acontece que a convencional luta de classe consolidada pela antiga sociedade urbana e industrial sofre importantes mudanças diante da ascensão da sociedade de serviços. Pela tradicional classe trabalhadora industrial, a organização taylorista e fordista da produção implicou hierarquia e polarização entre os que mandavam e os que eram mandados. O trabalho material resultava em produção de algo concreto e palpável, indicando as razões de pertencimento e identidade de classe a partir da presença no próprio local de trabalho.

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Nos serviços, todavia, o trabalho imaterial não resulta, em geral, em algo concreto e palpável, podendo ser realizado, inclusive, fora do local de trabalho por meio das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). A organização da produção dos serviços transcorre com menor definição de hierarquias, o que embaralha a identificação de classe e de pertencimento dos trabalhadores.

Nesse sentido, o processo de controle e dominação de uma classe sobre outra se desloca da natureza objetiva e racional para a apropriação cada vez maior da subjetividade humana. Isso porque a difusão das tecnologias de informação e comunicação possibilita que a riqueza capitalista resulte do tempo de trabalho e, cada vez mais, do tempo do não trabalho.

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Os controles impostos aos empregados externamente pelo controle de capazes, gerentes, supervisores, entre outros no interior do local de trabalho tornam-se cada vez mais obsoletos. A introjeção dos controles no interior dos indivíduos pela apropriação da subjetividade ofusca a luta de classes a partir do próprio local de trabalho.

Exemplo disso tem sido a adoção dos processos de gamificação na formação e gestão da classe trabalhadora de serviços com forma de obter maior envolvimento individual na realização das tarefas laborais. O engajamento e a elevação da eficiência do trabalhador decorrem da incorporação das técnicas dos jogos online (gamificação) no funcionamento de empresas e indústrias.

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Por meio do progresso das tecnologias e dispositivos eletrônicos móveis, os projetos de gamificação se generalizam pelo alcance do indivíduo em qualquer lugar e horário. Também o entrelaçamento das informações de bancos de dados constituídos permitiu formar séries quantitativas de resultados, com a crescente comparação entre os próprios trabalhadores.

O sentido da concorrência no trabalho avançou, submetida, sobretudo à lógica dos jogos que captam a atenção e o envolvimento pela competição interna entre empregados motivados pelo alcance de metas e o aprendizado na escola para formação para o trabalho. Dessa forma, o jogo que representava uma atividade de distração no período do não trabalho, assume cada vez mais pela gamificação a forma de cooperação e envolvimento do indivíduo pelo seu tempo de trabalho e de não trabalho.

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A luta de classes evolui da identidade constituía no interior do local de trabalho para o pertencimento fora do local de trabalho, cada vez mais contaminado pela apropriação da subjetividade humana. Talvez por isso, a insatisfação generalizada dos brasileiros com o governo Temer ainda não se traduziu na convergência explosiva das massas. Mas isso pode ocorrer tão logo se constitua uma força alternativa com credibilidade e confiança suficiente em suas proposições.

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