O “pito” de Lula no Boulos…
Foi o “pito” de Lula em Boulos que possibilitou que milhares vejam hoje a regularização de sua moradia

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 na comunidade 247 no WhatsApp e siga o canal do Brasil 247 no WhatsApp.
Pedro Benedito Maciel Neto
Eu vi o Lula “dar um pito” no Boulos.“Dar um pito” significa “advertir” ou “repreender” alguém. Era uma expressão comum quando eu era criança, mas hoje em dia, como tantas outras, parecer estar caindo em desuso; quando éramos pequenos quando chegavam as férias pedíamos aos nossos pais para “pousar” na casa dos primos ou amigos, hoje usa-se a expressão “Sleep Over” quando adolescentes vão passar a noite na casa de amigos.Esse anglicanismo excessivo me entristece um pouco e está em todo lugar: Air bag; Check in; Check-up; Cookie; Cupcake; Delivery; Diet; Drag queen; Enter; Fast-food; Flash; Freezer; Gospel; Hit; Home page; Hot-dog; Internet; Ketchup; Kit; Know-how; Laser; Light; Link; Milk-shake; Motocross; Mouse; Okay; On-line; Outdoor; Performance; Play; Pub; Ranking e outras tantas que seguem substituindo palavras que léxico pátrio impiedosamente...
Um dia falo sobre isso, pois a história aqui é outra.
E já contei que acompanhei os Dalben, pai e filho, e o vereador Willian, do PT de Sumaré, numa reunião com o então líder do MTST, Guilherme Boulos e com o presidente Lula; esse fato foi em 2017 ou 2018, mas não dei ênfase ao “pito”.
Contextualizando.
Os Dalben valorizam e se empenham muito na urbanização e regularização fundiária de áreas de ocupação, política pública que tem no centro a preocupação com a dignidade das pessoas.
Em Sumaré uma das ocupações mais “problemáticas” era a da chamada Vila Soma.
Na minha primeira passagem por Sumaré conheci a ocupação, parecia algo insolúvel, mas na minha segunda passagem testemunhei a solução de um problema grave para a cidade e para as famílias que ocuparam a área privada e abandonada desde a falência da empresa Soma Equipamentos Industriais em 1990.
Um pouco da história.
A ocupação da SOMA teme início em 2002, quando cerca de 150 famílias ocuparam um terreno de aproximadamente 1 milhão de metros quadrados na região de Nova Veneza, em Sumaré, em busca de moradia; a área alcançou o status de bairro e atingiu uma população estimada de 12 a 15 mil pessoas.
A ocupação teve início na gestão do então prefeito Dirceu Dalben, hoje deputado estadual, e coube ao seu filho, Luiz Dalben, prefeito desde 2017, dar solução e transformar o problema, em um “case de sucesso”.
Os ocupantes compraram a área, pagam pela infraestrutura, com diligente apoio e regulação da prefeitura, do governo do estado e das políticas de habitação do governo federal transformar suas vidas.
Não é o caso de detalhar como as coisas aconteceram, mas posso dizer que testemunhei a construção da solução inédita e que para chegar nesse ponto fi necessária a conversa do prefeito com o então líder do MTST, Guilherme Boulos, hoje deputado federal.
Por que conversar com Boulos? Porque a ocupação era coordenada pelo MTST e novas famílias chegavam com frequência, o que tornava quase impossível o planejamento da regularização. Era preciso que novas famílias não fossem alocadas na área.
O vereador Willian, outra jovem liderança de Sumaré, conseguiu a agenda com Boulos, o local escolhido foi o Instituto Lula e teria o então ex-presidente como anfitrião e mediador.
A reunião prometia ser tensa, dada a desconfiança de Boulos em relação às intenções do jovem prefeito e, por conta disso, a mediação do então ex-presidente Lula seria fundamental.
Saímos de Sumaré em direção a São Paulo cheios de esperança e confiança na nossa boa-fé e honestidade; fomos recebidos com enorme carinho por todos do instituto e por Lula; já Boulos estava de “cara feia”, mas não foi malcriado.
Lula nos contou do carinho que a D. Mariza tinha pela Vila Soma; disse que ela foi visitar a ocupação algumas vezes e que fora recebida pelo vereador Wilian; falou fa importância dos movimentos sociais que obrigam o administrador “a fazer o que deve ser feito”; falou da alegria em ver as famílias nos assentamentos do MST trabalhando e estudando; comentou com entusiasmo sobre a produção do arroz agroecológico e sobre o fato, pouco divulgado, de o MST ter a maior produção de arroz orgânico da América Latina; falou também da “Festa da Colheita do Arroz Agroecológico”, em Santa Rita no Rio Grande do Sul.
Bem, voltemos à reunião.
Luiz Dalben apresentou o projeto a Boulos e para demais presentes, respondeu perguntas sobre o modelo de regularização fundiária, sobre as obras de infraestrutura necessárias e explicou a importância de não ocorrerem novas ocupações naquela área.
Houve, como esperado, reação de Boulos, que afirmou, categoricamente: “Não acredito em nada disso”. A tensão entre eles começava aumentar quando Lula perguntou ao Boulos, num tom paterno, mas o repreendendo: “Guilherme, qual a solução que você propõe? O prefeito trouxe uma. Qual a sua ideia de solução? O tempo do ‘não’ como proposta política acabou, temos que ter propostas, não apenas discursos. Não podemos brincar com a possibilidade de solução, estamos falando de pessoas, trabalhadores...”. E voltando-se para o prefeito Lula perguntou: “Você dá a sua palavra?”, a que Luiz Dalben respondeu afirmativamente. Voltou-se para o Vereador e perguntou: “Willian, você confia na palavra do prefeito?”, a resposta também foi afirmativa.
Depois disse fez-se silêncio, ao qual seguiu-se o aperto de mão entre todos.
Esse é Lula.
Valeu o “pito” de Lula em Boulos, pois muitas vezes a disputa ideológica flerta com a irracionalidade.
Boulos cumpriu sua palavra e a Vila Soma, seus moradores compraram a área e as obras de infraestrutura também foram contratadas.
O resultado foi que, já em 2022, pelo menos 2.784 famílias, comemoraram a expedição dos Certificados de Regularização Fundiária; com tal documento é possível a regularização dos cerca de 2,4 mil lotes para pessoas da associação dos moradores da Vila Soma.
Um fato histórico na luta por moradia.
Participei, muito modestamente, desse capítulo da história de Sumaré, da Vila Soma e posso afirmar que foi o “pito” de Lula em Boulos que possibilitou que milhares vejam hoje a regularização de sua moradia.
Viva o diálogo!
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
O conhecimento liberta. Quero ser membro. Siga-nos no Telegram.
A você que chegou até aqui, agradecemos muito por valorizar nosso conteúdo. Ao contrário da mídia corporativa, o Brasil 247 e a TV 247 se financiam por meio da sua própria comunidade de leitores e telespectadores. Você pode apoiar a TV 247 e o site Brasil 247 de diversas formas. Veja como em brasil247.com/apoio
Apoie o 247
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247