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Carlos Carvalho

Doutor em Linguística Aplicada e professor na Universidade Estadual do Ceará - UECE.

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O poeta e a última sessão de música

Somente a cidadania como prática cotidiana e a arte com seus “mil tons/seus sons e seus dons geniais/nos salvam/nos salvarão dessas trevas/e nada mais”

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Quem nunca ouviu uma canção de Milton Nascimento deve ter hibernado nos últimos cinquenta anos, tendo em vista que o álbum Clube da Esquina, dele e de Lô Borges, eleito o melhor disco brasileiro de todos os tempos, é de 1972. E se tal pessoa existisse só de Milton Nascimento ela teria deixado de ouvir mais de trinta discos. E é claro que ela também teria perdido a oportunidade de ouvir todos os contemporâneos de Milton que estão hoje na faixa dos setenta, oitenta anos. 

Uma das mais valiosas vozes da geração nascida na década de 40 comunicou que encerrará a carreira. É compreensível, pois até mesmo os orixás merecem descanso. E foi assim que o mestre Milton Nascimento divulgou nas suas redes sociais que voltará à estrada do sol – se é que algum dia ele saiu dela – para sua turnê de despedida, a qual recebeu o nome de “A última sessão de música”, que é título de uma de suas canções lançada no álbum Milagre dos peixes, de 1973. Iniciadas as vendas, os ingressos rapidamente se esgotaram. Quem seria louco de perder? A turnê de Nascimento passará pelo Brasil, Europa e Estados Unidos, quando o artista prestará https://www.aultimasessaodemusica.com uma última homenagem aos seus fãs, cantando músicas de todas as fases da carreira.   A intenção é, conforme o próprio artista: “proporcionar uma experiência única e emocionante, do começo ao fim”. Sem dúvidas que assim será.

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Para sorte de todos nós, muitos artistas da geração de Milton Nascimento ainda estão por aqui, cantando, dançando e encantando nosso planeta blue. A turnê de despedida do artista ocorre em um período muito delicado para o povo brasileiro, um momento em que nossa democracia e, consequentemente as artes, estão sob ataque dos extremistas que tomaram o poder no país, e quando estamos prestes a decidir quem somos em um combate entre a civilização e a barbárie. Neste contexto, cada brasileiro/brasileira já sente que é, como diz a canção “Planeta Blue”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, uma “atlântica dor/plantada no lado sul/de um planeta que vê/e que é visto azul”. E continuam: “Mas essa primeira impressão/esse planeta blue/não é a visão mais real/além da cor, blue é também muito triste/pode ser o lado nu/o lado pra lá de cru/o lado escuro do azul”. 

Assim, a turnê de despedida do autor de “Travessia” abre um sol sobre a escuridão que se abateu sobre este país e, entre alegres e tristes, louvamos e agradecemos ao poeta das gerais que tanta alegria tem proporcionado ao povo brasileiro. O cantor tem afirmado que se despede dos palcos, mas que jamais se despedirá da música. Ainda bem para nós! “A última sessão de música” será conduzida por “um homem comum, um homem do sol, um african man, um south american man”, ou seja, um poeta cuja força da palavra é capaz de enfrentar e vencer “o ódio que o ódio tem”, pois sabemos que “a fome não vem da paz”. No Brasil de hoje, somos essa “atlântica dor”. Somente o exercício da cidadania como prática cotidiana e a arte com seus “mil tons/seus sons e seus dons geniais/nos salvam/nos salvarão dessas trevas/e nada mais”. Evoé, Milton Nascimento!

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