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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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O Salles do “passar a boiada” e o país do contrário

Ricardo Salles não passa de mais um canalha, bem ao contrário do herói que se tenta pintar hoje como deputado na Câmara

(Foto: ABr | Câmara dos Deputados)
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Atribuímos ao filósofo Leandro Karnal uma curiosa frase: “a crise fertiliza o solo para germinarem heróis e canalhas. O tempo separa os dois tipos”.  

Pois bem! Esta acepção permite ampla interpretação quanto às ações de um sujeito chamado Ricardo Salles. E para quem não se lembra quem seja essa pessoa, diga-se: nefasta, trata-se do ex-ministro do Meio Ambiente durante o governo de Jair Bolsonaro. É o famoso tribuno que bradou outra célebre expressão: “passar a boiada” a fim de se referir à eliminação quanto possível de toda legislação que seja um empecilho para que criminosos, aos exemplos: mineradores e madeireiros ilegais; latifundiários que teimam em desmatar sem medidas; milicianos e outros tantos monstros. Isto é, que possam “agir” livremente e usurpar tudo que é do povo. Salles, portanto, não passa de mais um canalha, bem ao contrário do herói que se tenta pintar hoje como deputado na Câmara Federal.

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Como congruência desta afirmação, evoco parte da entrevista deste sujeito para o jornal Folha de S. Paulo [1], no dia 18/05/2023, nestes termos: “pode sair dessa CPI um formato mais adequado de titulação de propriedade. Que a gente aproveite a discussão da regularização fundiária como um todo, para temas como invasão de unidades de conservação, invasão de terra indígena, invasão de assentamentos ou de propriedades privadas. (...) Porque há um ponto que une todos esses temas, que é a ausência de regularização fundiária”. (A saber, o conteúdo da entrevista em questão tem escopo na CPI forjada na Câmara dos Deputados para investigar o MST.)

Ora, quem esse sujeito pensa que é para falar de regulamentação de algo? Como dissemos no começo: Salles é o símbolo de uma era que visou destruir as regulamentações de proteção e garantia de direitos, especialmente os humanos e os ambientais no Brasil. E ainda por cima, usar temas tão caros à humanidade como “unidades de conservação” e “terras indígenas” para fingir que essa CPI é algo importante à República. CPI esta que não é outra coisa senão a boca voraz das elites brasileiras e da extrema direita a fim de criminalizar os movimentos sociais, camponeses, em particular, o MST que tem feito uma verdadeira revolução na produção de alimentos (saudáveis, sem agrotóxicos, com proteção ao Meio Ambiente).

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A falácia é irmã da dissimulação, que é prima primeira da hipocrisia, que é casada com a demagogia, que são netas da mentira… e todas, sedutoras de gentes inocentes, vão de mãos dadas destruindo a democracia e a civilização. Destroem antes, a cognição das pessoas e os eventos da racionalidade e da coerência de um Estado. Ou seja: esse País está ao contrário! O que é, não é, mas pode ser...

Salles é abjeto. É, contudo, a herança de um tempo cruel que teima em retornar ao Brasil: uma re-colonização à semântica europeia dos primeiros séculos de invasão do nosso território (chamado de Pindorama pelos povos originários). E é também a “jogada na cara” de nossa permanente crise de valores, crise ética, crise democrática, crise civilizatória, portanto, crise da razão. Isto é, não conseguimos evoluir porque em todo minuto da existência desse país chamado Brasil vemos ressuscitar das catacumbas do inferno do “Dante tropical”, o espírito de Anhanguera (que em Tupi significa “Diabo Velho”) que teima em não fazer a passagem para o outro plano, o decolonial, e livrar nosso país de uma vez por todas das elites cruéis que concentram propriedades e riqueza a custa do sangue (morte) e do suor (exploração ao extremo do trabalho alheio), e expurgam os mais pobres do direito à terra, ao chão para plantar e viver. Salles não passa desse espírito – de um tempo.

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A sorte que, a exemplo do nos ensina Karnal, o tempo existe. Aliás, os tempos. E outro tempo logo chegará. E há de “separar os dois”: o Salles fictício: metido a herói; e o Salles real: o canalha colonial.

Quanto à “crise”, torçamos apenas para que, nesta quadra, o filósofo esteja apenas parcialmente correto; e que não seja ela a maior responsável pela fertilização da terra, pois dado o pior dos gargalos do Brasil: a nunca ocorrida Reforma Agrária, jamais sairemos desta espiral histórica que teima fazer brotar (com vez e voz) milhares de Salles que insistem em nos matar a existência para tomar nossas terras e avançar sua monocultura, tanta a capitalista, quanto a axiológico-civilizatória...

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[1] Fonte dessa informação: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2023/05/cpi-do-mst-pode-chegar-ao-mtst-de-boulos-diz-salles-relator-da-comissao.shtml.

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