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Marconi Moura de Lima Burum

Mestrando em Direitos Humanos e Cidadania pela UnB, pós-graduado em Direito Público e graduado em Letras. Foi Secretário de Educação e Cultura em Cidade Ocidental. Trabalha na UEG. No Brasil 247, imprime questões para o debate de uma nova estética civilizatória

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O vértice da história – Um convite ao terceiro pensamento

Deixo claro que pensar nunca foi fácil. Para isso, por tantas vezes, as pessoas "terceirizam" o pensar, como uma forma de não se cansar, não "perder tempo", não se angustiarem

Deixo claro que pensar nunca foi fácil. Para isso, por tantas vezes, as pessoas "terceirizam" o pensar, como uma forma de não se cansar, não "perder tempo", não se angustiarem (Foto: Marconi Moura de Lima Burum)
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Sempre vimos a vida por força de uma dicotomia pouco relativizada, se necessário. Entre estes arquétipos, a ideia de "a história" e "o outro lado da história". Nas mais difíceis exemplificações que conjugam um refutar quase impossível, apelamos à "moeda" e "o outro lado da moeda". Neste caso, a situação de alavancar uma contraposição à dicotomia torna-se fator alheio à própria percepção de "moeda" como elemento físico. Não obstante ao instrumento concreto, o processo imagético-simbólico depreende-se em nossa mente e não se furta no pensar desafiador, pasme, por exemplo, de atribuir cognição à borda da moeda que, inegavelmente, faz parte de sua matriz física, mesmo fina (discreta), não há como se furtar de sua existência. Pois bem! É nesse elemento que poderemos dissertar algumas palavras instrumentais para nosso conversar.

Embora seja eu também um adepto convicto das dicotomias (neste caso, para fins didáticos), creio que nosso cérebro acomodou-se no caráter determinante da interpretação da vida a partir de dois pressupostos, ditos e contraditos, só! São extremos que nos expõem à uma espécie de prisão intelectual-sensitiva. O "oito" ou o "oitenta" que imprime uma bitola de conceitos plenamente construídos e convencionados com os quais impedem a autoria de novas abordagens estratégicas, para fins de saída do enigma posto [à vida]. É uma rua sem saída – e o máximo que podemos nos apegar é ao acervo elaborado pelos transeuntes que, como nós, vão e vêem o tempo inteiro nessa toada.

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O fato é que tal rigidez de processos decisórios (poder de escolha e ação) aludem uma vida um tanto programática, o que fundamentalmente não coaduna com a ideia de vida, fator dinâmico que impõe ao homem o que até a Bíblia empreende opção: o chamado livre arbítrio. (Note-se o "até" é porque a própria Bíblia compreende um conjunto de regras e fundamentos comportamentais a orientarem os seres seu "modo" de agir, crer, viver a fim de benefícios consequentes como "a vida eterna" no céu... a dádiva do tempo-espaço metafísico.) Doravante, as culturas civilizatórias, mais aqui, menos ali, se determinam proventos à ideia de liberdade, e tantas vezes a convencionam em suas Cartas Matrizes (normas). Assim sendo, a vida é o conjunto próprio de escolhas sob um amplo acervo de possibilidades, negando por lógica, as dicotomias tão complexas, no caso, reducionistas do pensar.

Veja: mas se trata de pensar, de elaborar uma percepção – um conceito – que orientem melhores possibilidades e caminhos a seguir. Pavimentar novas estradas implica responsabilidade decisória, e a negligência, muito embora legítima, é irresponsável, seja para si, seja para a vivência em sociedade – comprometendo aliados consignados pela Natureza para a compartilha da vida.

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Uma ideia que planifica bem o que aqui propusemos acentuar como terceiras possibilidades é o conceito de política. Tão presente na formalidade do Estado, ou nas relações diárias, às comunidades informais, a política possui um compêndio de alusões. Porém, na esteira do cotidiano da sociedade, as impressões são imprecisas. De um lado, é o "odeio política e políticos", sem qualquer leitura mais profunda das obviedades lógicas deste instrumento. Por outro, o "vou me dar bem", atribuindo à política seu aparelhamento esquizofrênico, sem moral pré-requisitória para a consolidação da ferramenta humana de maior necessidade orgânico-abstrata. Ou seja: o egoísmo e a ganância humana que faz, políticos representantes e, tantas vezes, seus representados, trocarem favores medíocres para seus benefícios mesquinhos. Daí a proposta: nem uma coisa, nem a outra. Por que não implementamos outros pressupostos? Uma outra intervenção? Um outro formato de visão, leitura e ação? Assim sendo, ver a política por vieses extrapolados da mesmice dos noticiários e de sua prática contemporânea.

Aquilo a que chamamos normalmente por "senso comum" é também polarizado. Senão vejamos. Quem afirma o senso comum tem em comum com outros, relações empíricas próprias à sua realidade. Claro que não estamos aqui propondo uma espécie de anarquia cognitiva, ou de deliberação interpessoal multi-temática (ou seja: cada ponto da vida, a impossibilidade de construção de consensos funcionais). Há que se ter convenções formais ou diárias, supra-fatoriais. No entanto, é bastante recomendável que aos homens (por proficiência redacional, meramente, não cito "mulheres", tratando-se de vestir a encomenda de uma convenção machista bem remota... mas que aceito que refutem usando a outra via, ou criando um outro aspecto inteligível, à vontade!), voltando, recomenda-se aos homens que distribuam ideias. Tal como a sociedade segregadora distribui renda, distribuamos ideias, o quanto mais possível acerca dos pontos. É pensar mais e improvisar menos. Pior ainda: parar de, cegamente, seguir pensamentos de uma maioria artificializada no tempo e no espaço.

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Deixo claro que pensar nunca foi fácil. Para isso, por tantas vezes, as pessoas "terceirizam" o pensar, como uma forma de não se cansar, não "perder tempo", não se angustiarem. Pensar angustia tantas vezes. É a intriga constante com o postulado pronto. É a agressão à calma estabelecida. (Imaginemos um riacho de água parada, sem que mesmo o vento tenha forças para abalar sua calma. De repente uma pedra é jogada. Inúmeras estrias surgem. As ondas se vão desesperadas para lhe encerrar logo a agressão e devolver a serenidade.) É o desafiar a ordem falada. É preparar-se para apanhar decepções, constrangimentos e retaliações diversas (e de diversas formas assumidas) diante o conjugado aceito – por quórum simbólico. Perceba aqui que se aponta uma reflexão entre "o terceiro pensamento" (o seu) versus "a terceirização do pensamento" (a abonação).

No entanto, enquanto andamos esse estreito da vida, precisamos, vez ou outra, rompermos com as dicotomias e, ousadamente, viramos a cabeça para a multiplicidade dos horizontes a fim de enxergarmos uns rasgões nas bordas da estrada. Sendo assim, devemos empreender a concepção do "perpendicular". Se bem olharmos, o perpendicular é belo e ousado. Ora, é a abstração do que se atravessa diante de um caminho posto. É a ruptura. É a provocação de uma ideia de fim (interrupção) ou de novo começo. O perpendicular se funda numa espécie de quebra oficial do paradigma.

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Voltando a percepção da moeda. A borda, embora se pareça somente um adendo ornamentado da moeda, é na verdade a base de sustentação de "um lado" e "outro". Sem essa borda, como seria possível existir "os dois lados da moeda"? Podemos tentar residir ali, diferente de – quase – todos. A história [também voltando], sempre foi construída pelos vencedores – com o bravo discurso de quem a discorda, ademais, pelos vencidos –, quando na verdade (questione ele, o requisito retórico "verdade"), há enorme possibilidade de uma "versão" dos expectadores. É fato que eles compõem a torcida, ou o conjunto dos impactados, direta, ou indiretamente de "vencedores" e "vencidos", contudo (atentemo-nos a este detalhe), não se trata de interventores formais, pressupondo ao menos uma terceira abordagem, digamos, mais suavizada, ou mais agressiva, destes que contemplaram os dois atores fundantes daquela exposição. A nós, doravante, caberá a interpretação versus (ou) a compreensão dos – reais – fatos, porque a realidade é o nosso lócus confrontado com nosso olhar (visão de mundo), na temporalidade e interesses necessários.

Finalmente, o que gostaria com esta reflexão – tão insignificante, do ponto de vista conceitual – é somente, e somente só, nos reivindicar (aos seres humanos, ou seja, todos nós) a capacidade de pensar uma síntese mais profunda. Não haverá problemas (em tese) de nos apegarmos aos subsídios conceituais postos. Entretanto, é fundamental que tenhamos a nossa própria habilidade em imprimir uma nova ideia. Melhor dizendo: no respeito à liberdade concedida (por quem?), a nossa própria ideia das coisas, sem se ater tantos a improvisos estúpidos e desconexos com qualquer lógica mínima (embora seja também um direito: "falarmos asneiras" à vontade), todavia, com um compromisso civilizatório que reverencie nossa existência e as nossas gerações (sem vergonha): elaborando o tempo todo conexões cognitivas de vértices adicionais à humanidade.

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