Observatório das Adições Bruce K. Alexander II

É urgente a constituição de instituições que estimulem políticas envolvendo os entes de nossa sociedade, como o ”Observatório das Adicções Bruce K. Alexander”

Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência
Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (Foto: Reprodução (Youtube))


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Em nosso último artigo, fizemos uma introdução aos motivos que nos levaram a criar o Observatório, o que pretendendo concluir agora.

Como dissemos... Com a criação do Mercado Comum Europeu e a possibilidade dos cidadãos migrarem livremente por todo o seu território em busca de serviços que atendam às suas demandas, a solução encontrada por seus mentores para evitar a sobrecarga dos serviços públicos de um determinado país pela procura de usuários abusivos de substâncias psicoativas, foi a criação do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência (OEDT), vinculado administrativamente ao presidente da União Europeia, dada a sua importância, cuja finalidade é estimular a implantação de políticas públicas que atendam às demandas dos adictos, familiares e afins respeitando a cultura e os recursos de cada lugar.

Ao longo dos últimos anos, o acerto de tal medida tem sido comprovado devido à ausência da sobrecarga dos serviços de qualquer dos países que a compõe e também pelas políticas públicas que surgiram a partir daí, sendo a estrela maior dessa constelação a estratégia implantada na Islândia, chamada de “Planeta Jovem”.

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No início da década de 1990, os adolescentes e jovens islandeses eram os que mais consumiam substâncias psicoativas (legais e ilegais) de todo o Mercado Comum Europeu. A situação era muito preocupante, mas uma luz acende no fim do túnel quando o governo islandês resolve inovar e vai de encontro aos jovens e adolescentes em busca das inúmeras respostas que procuravam.

Em síntese, descobrem que os adolescentes islandeses se sentiam completamente excluídos da sociedade islandesa, pois eram vistos como incapazes para gerir suas vidas o que os caracterizava como os eternos “por vir”. Essa alienação que lhes eram imposta pela sociedade islandesa tinha como decorrência uma total falta de perspectiva de futuro, gerando, dentre muitas outras coisas, muita ansiedade e, consequentemente, depressão, o que os levava ao uso de substâncias psicoativas não só como entretenimento, mas também, como medicamento.

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De posse desses dados, o governo islandês percebe que estava se afastando de um dos valores mais tradicionais da sociedade islandesa, a “solidariedade”, uma vez que a Islândia que tem sua origem ligada a pesca em alto mar e os pescadores são cidadãos extremamente solidários, seja por uma questão de sobrevivência, principalmente no Mar do Norte, seja pela necessidade no desempenho de suas funções.

E de novo resgatando sua cultura popular, o Governo Islandês toma uma atitude extremamente corajosa, outra característica do pescador, sai do lugar comum de criminalizar ou adoecer os usuários e os chama para participarem da construção de uma política pública que atendesse as suas demandas, o que tem como produto o programa “Planeta Jovem”.

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O programa “Planeta Jovem” tem como eixo central as metodologias de trabalho de Bruce K. Alexander e Paulo Freire e como veio condutor o resgate da cultura popular islandesa, permitindo que seja rapidamente absorvido por todes e, consequentemente, implantada sem maiores empecilhos, onde as atividades praticadas em grupo voltam a ter destaque, como a pratica esportiva, atividades artísticas, convívio familiar, além das escolas terem sido transformadas em centros de produção de conhecimento, as “Escolas Cidadãs”.

Os resultados aparecem rápido! 20 anos depois, na década de 2010, os adolescentes e jovens islandeses já eram os que menos consumiam substâncias psicoativas e apresentavam os maiores índices de felicidade da União Europeia. Mas surpreendente mesmo foi o mundo ver pela televisão a seleção de futebol islandesa alcançando as quartas de final na Copa do Mundo da FIFA de 2018, mesmo sendo a única seleção com uma equipe majoritariamente amadora. Ao transformarem suas escolas em “Escolas Cidadãs”, a sociedade islandesa atribuiu responsabilidade a todes seus cidadãos na gestão do convívio social promovendo a integração entre o corpo docente e o discente e a população local, através, também, de reuniões periódicas entre todes, sendo que aqueles que faltam a essas reuniões são obrigados a justificar a ausência ou a frequentar cursos sobre conduta social ministrados pelo poder legislativo local.

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É importante reafirmar que o “Observatório das Adições Bruce K. Alexander” está em permanente contato com o grupo idealizador desse programa da Islândia, promovendo intenso intercâmbio com eles. Sim, a realidade islandesa é muito diversa da nossa, por inúmeros motivos, até mesmo porque a Islândia é uma ilha de difícil acesso, o que dificulta enormemente a migração. Mas, evidentemente, ela pode nos servir de farol em meio à tempestade que estamos atravessando.

Finalmente, o advento do isolamento social provocado pela COVID 19 fez com que as ADIÇÕES crescessem em todas as culturas, atingindo a 90% da população urbana (direta ou indiretamente), de acordo com a OMS, evidenciando definitivamente tudo aquilo que Bruce vem afirmando ao longo dos últimos 50 anos.

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O aquecimento global e a pandemia nos trouxeram a certeza de que é preciso encontrar uma nova forma de viver, pois precisamos conjugar a sustentabilidade e o fim das adições. Não é possível pensar em um modo de vida sustentável (ambiental, social e econômico) - que nos garanta qualidade de vida no futuro - se continuarmos tendo como base de sustentação a adição, a qual induz ao consumo desmedido sem considerar consequências. Assim como não é possível pensarmos em uma sociedade sem adictos se não tivermos um futuro a oferecer a todes nós. Repensar os valores fundantes de nossa civilização é urgente e, um deles, é a “ADIÇÃO”.

Ao levarmos em consideração o tamanho continental do Brasil, sua diversidade cultural e a gravíssima crise humanitária que vivemos, fica evidente a necessidade e a urgência da constituição de instituições que estimulem a implantação de políticas públicas envolvendo todos os entes de nossa sociedade, como o ”Observatório das Adições Bruce K. Alexander”.

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