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Michel Zaidan

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Olhar complexo

O que me preocupa são as vítimas civis: trabalhadores, donas de casa, adolescentes, crianças

Imagem de drone mostra corpos levados a praça no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)

Este é o nome do livro de um fotógrafo morador de uma comunidade periférica do Rio de Janeiro. Olhar as tragédias que ocorrem diuturnamente nessas comunidades não pode ser feito de uma mera perspectiva criminal ou policial. Há 15 anos, escrevi sobre a guerra no Rio de Janeiro, na época das famosas UPPs que pretendiam pacificar as comunidades. Infelizmente, a violência, a criminalidade e a letalidade só fizeram aumentar. O que significa que a estratégia utilizada pelos governadores cariocas falhou ou foi conivente com esse estado de coisas. 

O que me preocupa são as vítimas civis: trabalhadores, donas de casa, adolescentes, crianças. Enfim, pessoas inocentes que morrem ou não podem viver em paz em razão do confronto cada vez mais violento entre a polícia do Rio de Janeiro e aqueles que genericamente são chamados de "suspeitos", sobretudo quando são eliminados. Os heróis e os bandidos. 

Esta narrativa é muito conveniente para um governo impotente para controlar o crime organizado no estado fluminense, e as vítimas são exatamente os inocentes, muitas vezes carimbados de bandidos ou suspeitos, enquanto os chefes do crime organizado escapam impunes, para preparar novos confrontos com a polícia ou extorquir os moradores das comunidades. Uma triste constatação se impõe: a fraqueza ou a leniência das autoridades locais. 

Então o caminho é o massacre, a chacina, a mortandade generalizada. A imagem de moradores procurando resgatar os corpos dos atingidos nas matas sem a presença do Estado, da perícia, de legista só denota a indiferença ou o desinteresse pelos efeitos colaterais do massacre. O pouco valor da vida das pessoas comuns. Ausência de Estado ou a política de alta letalidade em detrimento de outras modalidades de enfrentamento do crime.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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