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Ângelo Cavalcante

Economista, cientista político, doutorando na USP e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG)

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Os desfiliados urbanos

São eles os que primeiro despertam para as lidas da vida cotidiana; são operários assalariados, trabalhadores temporários, informais e de ocasião. Moram, é claro, nos piores e mais degradados lugares da urbe; em locais de amplos riscos geográficos, mas também a envolver e definir a própria e arriscada sociabilidade diária

Menina ao celular na favela (Foto: Ângelo Cavalcante)
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São muitos, centenas, dezenas de milhares, milhões. Estão na cidade, espraiados, difusos e fragmentados. Encontram-se nas periferias mas não apenas nas periferias. Fazem a cidade diuturnamente com a força do seu trabalho subvalorizado e pessimamente remunerado.

Ao seu modo e estilo dão forma para uma espécie de sub-cidade, uma categoria/sub-categoria do trabalho que integra a cidade dominante, prevalecente; que a aciona, que a faz girar e acontecer mas que, tão somente, não é e jamais será parte da cidade principal.

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São eles os que primeiro despertam para as lidas da vida cotidiana; são operários assalariados, trabalhadores temporários, informais e de ocasião. Moram, é claro, nos piores e mais degradados lugares da urbe; em locais de amplos riscos geográficos, mas também a envolver e definir a própria e arriscada sociabilidade diária.

São caçados como se fossem feras; são assassinados aos montes, são massacrados e trucidados todos os dias. As forças policiais existem fundamentalmente, para conter a ira imprevisível dos desfiliados. Por sinal, "insegurança pública" é, grosso modo, um levante caótico, rebelde e não revolucionário de parte dos desfiliados urbanos.

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Os desfiliados tem cor, sexo, sotaque e origem. Linhas gerais são negros, pardos, indígenas e mestiços; é gente migrante do norte/nordeste do país; do Cerrado, dos pés-de-serra e dos fundos de vale. É a ampla fatia de brasileiros e que, tal qual novos judeus, buscam a terra prometida. Jamais a encontraram e nunca a encontrarão. São estigmatizados, sofrem preconceito e humilhações a todo o tempo.

Na infame loteria da vida não tiveram a sorte de nascimento de terem a pele branca, olhos claros e sobrenomes terminados com consoantes. São os "silva", os "sousa", e os "pereira".

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Como surgiram? Como se formaram? Como se conformaram nesse estilo e padrão? A matriz geracional que lhes deu forma permanece viva e intacta. Foi a mesma que garantiu quatro séculos de escravidão; o mesmo movimento que lhes tomou suas terras sagradas e garantiu amplos latifúndios em todo o território nacional; o ordenamento econômico e produtivo que nos conferiu a pior das desigualdades de rendas em todo o planeta; que sempre bloqueou a autonomia das mulheres e; que é a responsável direta pela ampla guerrilha urbana e que tomou conta das cidades do país.

Os desfiliados urbanos expressam objetivamente nosso fracasso histórico e cotidiano na feitura de um país livre, democrático e justo. São os que estão e não estão na cidade.

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