Marcia Carmo avatar

Marcia Carmo

Jornalista e correspondente do Brasil 247 na Argentina. Mestra em Estudos Latino-Americanos (Unsam, de Buenos Aires), autora do livro ‘América do Sul’ (editora DBA).

133 artigos

HOME > blog

Pela primeira vez desde Pinochet, Chile elege a extrema-direita

Eleição de José Antonio Kast simboliza avanço da extrema-direita no Chile, impulsionado por crise econômica, voto obrigatório e desgaste do governo Boric

José Antonio Kast (Foto: Reuters)

O ex-deputado federal Jose Antonio Kast, da extrema-direita, foi eleito presidente do Chile com ampla vantagem de votos em relação à Jeannette Jara, da centro-esquerda. Católico fervoroso, pai de nove filhos, Kast foi um parlamentar apático e que, ao longo de sua vida, tomou decisões políticas que geraram forte debate no Chile, mas não impediram sua vitória nas urnas, neste domingo. 

Entre suas decisões que foram repudiadas por vários setores da sociedade chilena está seu voto no plebiscito de 1988 a favor da continuidade do ditador Augusto Pinochet por mais dez anos no poder. O ‘não’ à continuidade do ditador que atropelou, com bombas e canhões, o governo socialista de Salvador Allende, em 1973, acabou vencendo e o país, então, entrou em um lento processo de redemocratização. Quase 40 anos depois daquele plebiscito, os chilenos elegeram, pela primeira vez, um simpatizante de Pinochet. Kast dialoga com Milei, da Argentina, fez questão, no passado recente, de tirar uma foto com Bolsonaro em Brasília e avisou que fará um governo linha dura. 

Ele quer realizar uma “expulsão em massa” dos imigrantes ilegais, construir presídios de segurança máxima, inspirados no modelo do presidente Bukele, de El Salvador, e colocar barreiras físicas nas fronteiras do país. Jara, do Partido Comunista, tinha propostas opostas e lhe questionou, fortemente, no último debate antes deste domingo por suas propostas radicais, como a de expulsar imigrantes, mesmo quando sejam pais de chilenos. Nada disso, porém, impediu a vitória de Kast. 

Pelo menos dois fatos contribuíram para sua eleição: o desgaste do governo Boric, que tem cerca de 30% de apoio, a desaceleração da economia chilena e o voto de cerca de sete milhões de chilenos que votaram pela primeira vez e queriam “mudanças”. 

Foi a primeira vez no Chile que o voto foi obrigatório, com inscrição automática no sistema eleitoral e multa de cerca de R$ 600 reais pela abstenção. Nesta noite de domingo, Jara reconheceu a derrota, Boric ligou para parabenizar Kast e Milei, da Argentina, fez questão de ser um dos primeiros a comemorar a eleição de mais um politico da extrema-direita na região.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados