Por onde andava Fux?
O ministro já entrou para a história. Como escolheu entrar, cabe a vocês tirarem suas próprias conclusões
Dando sequência ao julgamento que condenaria Bolsonaro à prisão, o país acompanhou na última quarta-feira o voto do Ministro Luiz Fux. Durante seu voto, que durou quase 12 horas, o referido ministro proferiu um discurso dos mais controversos já vistos naquela Casa. Falou de tudo. E quanto mais falava, mais inconsistentes se mostravam seus argumentos. O voto do eminente ministro parecia mais uma colcha de retalhos costurada a partir de mensagens de zap compartilhadas em grupos de senhorinhas bolsonaristas, misturadas com tweets nonsense de Carlos Bolsonaro. O voto, e disso senti falta, deveria ter começado com a frase: “É com a alma lavada, enxaguada e enrugada de emoção”, do não menos eminente Odorico Paraguaçu.
E foi assim que o Excelentíssimo Senhor Ministro, deixando de lado os entretantos e partindo para os finalmentes, usou o tempo do seu voto para tentar desconstruir obviedades. Entre tantas, tentar provar que a quadrilha que estava sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal não se constituía como uma organização criminosa. É bastante curioso tal posicionamento, quando se sabe que o próprio magistrado já chegou a ser ameaçado por essa mesma quadrilha. O núcleo crucial da trama golpista condenado pela Primeira Turma do STF é, sim, Ministro Fux, uma organização criminosa que tomou de assalto o país e que pretendia manter no poder seu líder máximo!
Trata-se, sim, senhor Ministro, de uma das mais perigosas organizações criminosas que já operaram neste país, pois somente uma organização criminosa de altíssima periculosidade pode levar à morte 700 mil pessoas, enquanto seu líder gargalha e ironiza os doentes, os mortos e suas famílias. Somente uma organização criminosa pode forçar seus opositores políticos a deixarem o país se quiserem continuar vivos. Somente bandidos do nível dos que foram julgados e condenados idolatram torturadores, defendem metralhar a oposição e elaboram, detalhadamente, planos para assassinar um presidente democraticamente eleito, seu vice, e um Ministro da Suprema Corte que, não por acaso, é seu colega de trabalho, Ministro.
Uma pergunta que se faz: por onde andava o ministro Fux nos últimos anos? Por onde andava o ministro Fux, quando as hordas bolsonaristas atacavam as instituições, a Constituição Federal e tramavam contra a democracia brasileira? Por onde andava o ministro Fux? Em uma caverna (e não era aquela de Platão), em um universo paralelo... Onde? Como diz aquela canção do mestre Gilberto Gil: “Queremos saber/Todos queremos saber”.
Confesso que cheguei a cochilar durante a exposição do voto do referido ministro. Despertei e, sobressaltado, tive a impressão que via um celular na cabeça de Sua Excelência. Não era. Ufa! Que susto! Deixemos claro aqui que, mesmo discordando de tudo que disse o ministro Fux em seu voto, defenderemos sempre seu direito de dizer o que deseja dizer, pois é exatamente assim que funciona uma democracia. Preferentemente, como diria Odorico Paraguaçu, o voto do ministro Fux ficará registrado nos anais do STF. O ministro, por sua vez, já entrou para a história. Como escolheu entrar, cabe a vocês tirarem suas próprias conclusões.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

